Era uma vez a Santíssima Trindade da intelectualidade festejada, três reis magos que prometiam que a bregalização transformaria o Brasil num paraíso.
Paulo vinha com sua "bíblia" transformando cafonas despolitizados em supostos inimigos da ditadura militar.
Pedro passeava pelos bosques da mídia esquerdista (e ainda passeia) vendendo seu peixe chamado lochte originalmente criado pela Folha, na tentativa de promover o "popular demais" como algo "libertário".
E Hermano (hermano de um músico que, sinceramente, admiro) querendo promover à posteridade como "etnografia honorável" a ditabranda do mau gosto "popular" que os canonizados "são" Paulo e "são" Pedro divinizaram em seus textos.
Eram tempos áureos, em que se prometia que o jabaculê dos sucessos musicais radiofônicos do presente ou de um passado relativamente remoto seriam o folclore musical do amanhã.
Ou, no caso de, por exemplo, das mulheres-objetos (algumas também "frutas"), prometer que glúteos sacolejantes pudessem expressar um feminismo mais poderoso (empoderado) do que os livros de Simone de Beauvoir, Betty Friedan e outras.
Durante o período de 2003 a 2014, o "popular demais" reinou sob os governos petistas como um IPES-IBAD pós-tropicalista que apenas fingiu solidariedade a Lula e Dilma Rousseff, visando as gorjetas da Lei Rouanet.
Lula queria atualizar o projeto político de João Goulart. Os intelectuais "bacanas" queriam perpetuar padrões de "cultura popular" do período do governo Ernesto Geisel.
E com isso prevaleceu a narrativa que abriu caminho para o ultracomercialismo musical brasileiro, depois de tanta choradeira que, clamando pelo "combate ao preconceito", pedia para que aceitássemos formas preconceituosas de abordagem do povo pobre.
Mas depois que incidentes como MC Guimê aparecendo na capa de Veja - após Pedro promovê-lo como se fosse um misto de João Gilberto com Che Guevara - derrubaram a ilusão brega-libertária do "popular demais", o Brasil acordou tardiamente e aos poucos.
Após Zezé di Camargo abrir a caixa de pandora do reacionarismo brega, tirando a máscara esquerdista de 2005 ao apoiar Aécio Neves e dizer que ditadura nunca existiu no Brasil, tudo pode acontecer do outro lado dos espetáculos de plateias superlotadas do "popular demais".
O caso mais recente foi o de Nego do Borel, um dos principais nomes do ultracomercialismo a que se reduziu a música brasileira hoje, cada vez mais americanizada e artisticamente postiça.
Ele, a exemplo de vários outros funqueiros e funqueiras, embarcou na causa LGBTQ no clipe de "Me Solta", no qual ele aposta nos ingredientes que já fizeram a festa da intelectualidade "bacana" e sua "guevarização" aprendida nos gabinetes do PSDB.
Ambiente de favela, muitos negros, mulheres negras "sensualizando", gordinhos na festa e Nego do Borel em visual andrógino beijando um homem.
O clipe foi feito sob medida para a turma da lacração, mas, se fosse lançado quatro anos atrás, seria aclamado pelo Farofafá como se fosse uma revolução bolivariana em marcha no território brasileiro.
No entanto, Nego do Borel, a exemplo de Gusttavo Lima e Eduardo Costa, declarou apoio a Jair Bolsonaro, símbolo maior do obscurantismo que ameaça o Brasil.
Borel - que integra a ala pitoresca do ultracomercialismo, juntamente com Pablo Vittar e Jojo Toddynho - foi criticado por ser um heterossexual se fazendo de homossexual.
Mas também a festa toda começou quando intelectuais vindos da mídia venal e dos porões acadêmicos do PSDB se travestiram de "intelectuais de esquerda" fingindo apoiar Lula e Dilma e fazendo de conta que odeiam Rede Globo e Folha de São Paulo.
Como Lula agora está preso, por motivação política e sob acusações infundadas, não há mais como intelectuais pró-brega e ídolos "populares demais" bancarem os pretensos guevarianos.
Agora o que resta é fazer o espetáculo da "causa identitária" nos limites permitidos pelas Organizações Globo e despir a mercantilização da cultura popular da antiga máscara libertária.
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