O Rio de Janeiro, de uns quinze anos para cá, tornou-se ruim de voto.
Elegeu, com gosto, políticos que depois arrasaram com o Estado ou com sua capital.
Votou em políticos que, mais tarde, foram decisivos na instalação do golpe político de 2016.
Políticos que os cariocas e fluminenses elegeram com gosto, acreditando em promessas que variavam do desenvolvimento urbano à segurança pública, caíram em desgraça pouco depois.
Sérgio Cabral Filho, Eduardo Paes, Luiz Fernando Pezão e Eduardo Cunha, antes eleitos como "salvadores do Rio", tornaram-se depois "vidraças" da opinião pública média no Estado do Rio de Janeiro.
Só para refrescar a memória, foi através de Eduardo Cunha que o golpe político de 2016 se realizou porque ele, presidindo a Câmara dos Deputados, começou a mexer as peças para expulsar Dilma Rousseff do Governo Federal.
Foi o salto para a morte das "morsas do Alasca" a que se reduziram os cariocas e fluminenses.
Nos últimos anos, o que se viu foi a defesa de causas furadas, que chegou ao nível camicase dos valentões da Internet.
Tudo a ver com a palavra japonesa kamikaze, associada tanto à imagem de "deus" ou "vento divino" como para pilotos loucos e suicidas.
Os valentões da Internet (cyberbullies, para quem ainda está acostumado com o inglês) faziam até páginas ofensivas contra quem discordasse das causas furadas que eram defendidas por aqueles.
Eram práticas camicases, porque os valentões se espunham demais, mesmo através de seus protocolos de Internet, e faziam agressões e ofensas demais porque outros discordavam das causas que eram defendidas e estavam na moda.
Gírias midiáticas como "balada", ônibus com pintura padronizada, rádios pseudo-roqueiras, mulheres-frutas e o que viesse recebia a defesa extremada desses valentões que se achavam "deuses" nas suas cavernas digitais.
Faziam barulho demais, e até "saíam" do mundo virtual para perseguir desafetos, uma vez sabendo a cidade onde estes moravam.
Só que, da vitória provisória de ataques em série contra discordantes eventuais, vinha a "vitória de Pirro" que fazia os valentões serem denunciados, se desentenderem com os próprios amigos, serem traídos e arrumarem encrencas mil, além da causa defendida naufragar de uma hora para outra.
O Rio de Janeiro anda naufragando com esses pequenos titaniques praticamente atirados em direção aos aicebergues mais próximos.
Sem poder digerir seus retrocessos, o RJ tem que recuperar coisas que foram canceladas: a rádio Antena Um, a versão impressa do Jornal do Brasil e a diversidade visual dos ônibus cariocas.
Ainda há questões muito mal resolvidas.
Há a falta de rádio que supre a lacuna da MPB FM, devido às rádios de pop adulto que, se achando "donas da verdade", preferem tocar os repetidos flash backs estrangeiros, em vez de substituí-los por um pouco mais de música brasileira menos previsível.
Há o cacoete dos cariocas pensarem que a Rádio Cidade "sempre foi rádio rock" ou que o "funk" é a "vanguarda cultural carioca", duas visões completamente equivocadas e totalmente fora de lógica.
Além disso, a insistência dos cariocas em querer eleger Jair Bolsonaro presidente e Flávio Bolsonaro senador é uma coisa deplorável e preocupante.
É, praticamente, o voo da morte do Rio de Janeiro que não aprendeu com eleições anteriores, sempre insistindo no voto podre, na votação suicida.
Tudo por causa de catarses ou pragmatismos, duas das doenças contraídas pelos cariocas nos últimos 25 anos.
Pelo pragmatismo, esperava-se que rádios pop convertidas em "roqueiras" (Rádio Cidade) pudessem botar o rock pesado para as paradas de sucesso. A expectativa foi por água abaixo.
Pelo pragmatismo, esperava-se que os ônibus padronizados trouxessem frotas articuladas até, quem sabe, a linha 206 Silvestre / Castelo, com ar condicionado e chassis de marca sueca.
Também foi por água abaixo.
Pela catarse, homens "modernos", porém machistas enrustidos, endeusavam as mulheres-frutas e similares, apenas pelas simplórias motivações sexuais e eróticas. Caíram no ridículo.
Agora a catarse vem de pessoas que têm os corações batendo forte só de ver a palavra "Bolsonaro" na sua frente.
A desculpa vem envolta de um pragmatismo primário: promessas de disciplina e segurança para o Rio de Janeiro.
Mau sinal. Os cariocas perderão muito com um Bolsonaro em qualquer cargo político.
E se a desculpa é a "intervenção militar", a realidade comprova que a medida só fez aumentar a violência no Rio de Janeiro.
Imagine o bolsonarista, feliz da vida com seus "mitos" no poder, o pai como presidente e os filhos, no Legislativo.
O bolsonarista vai jogar vôlei em Copacabana e, de repente, vem um tiroteio entre o Exército e "comunistas" vindos do Pavão-Pavãozinho e o bolsonarista, baleado por um soldado, morre na praia.
Jair Bolsonaro, conhecido por falar bobagens e expressar grotescamente preconceitos sociais dignos de um brutamontes, também demonstra ser um ignorante em Economia e seu projeto de governo vai deixar o Brasil na falência.
Pior: os apoiadores de Bolsonaro pagarão caro porque, vale frisar, o "mito" não é Papai Noel para ficar dando dinheiro para todo mundo.
O que Bolsonaro vai dar de "prêmio" para seus apoiadores é pá, enxada, sacos de cimento ou, quando muito, algum "cargo de liderança" nas usinas de nióbio, tudo com remuneração medíocre. E será impossível pedir aumento salarial a "titio Jair", porque ele vê nisso como "frescura de comuna".
É bom os cariocas desistirem de Jair Bolsonaro, enquanto é tempo, antes que o Rio de Janeiro sofra mais um desastre eleitoral.
No calor do momento, muitos não querem admitir isso e se irritam com os conselhos que recebem por antecipação.
Aí chegam os valentões da Internet ridicularizando e ameaçando quem discorda deles, mas a ação camicase só traz desastres ainda maiores.
E aí, envergonhados, os valentões da Internet serão obrigados a concordar com esses mesmos alertas, depois que a mídia carioca (O Globo, Rede Globo, Globo News, O Dia e Band News) dizer as mesmas coisas que os humilhados conselheiros de outrora disseram.
Mas aí não dá para fazer valentonismo digital contra William Bonner e Ricardo Boechat.
O Rio de Janeiro pensa ser uma Atenas no auge, porém mais parece uma Troia vulnerável que acabará queimada como a cidade grega Mati, devastada por um incêndio recente.
É necessário os cariocas e fluminenses pensarem muito nos seus vícios: a intolerância, o contentamento com pouco, o fanatismo pelo futebol, o vício pelo cigarro, a burrice musical.
Afinal, chegou fulano perguntando se "How Will I Know?", antigo sucesso de Whitney Houston, era "rock". Outra vez um outro indivíduo perguntou se Rod Stewart foi membro dos Beatles.
Devem pensar muito no que querem na vida, antes de transformar as urnas eletrônicas em máquinas perigosas que se voltarão contra os próprios cariocas e fluminenses.
A coisa é séria e não adianta fulano ficar com raiva e reagir com valentonismo. Excesso de valentia pode transformar o valentão da hora, caçador de desafetos, num sujeito humilhado, condenado e abandonado por todos.
O Rio de Janeiro só tem a perder elegendo um Bolsonaro.
Comentários
Postar um comentário