
Os animais consumistas são coisas aprendendo a ser bichos, marcados por um instinto desenfreado em consumir. Formalmente, são seres humanos capazes de emitir sons e processar ideias trazidas por um código de conduta planejado estrategicamente pelos executivos da Faria Lima, com base em condições de receptividade psicológica dos brasileiros comuns.
Parcela mais radical da elite do bom atraso (que é o conjunto da burguesia “democrática” brasileira), os animais consumistas parecem alegres e simpáticos, dão até para uma conversa animada, desde que você compartilhe os gostos e os bens consumidos pelos silvícolas urbanos. Na melhor das hipóteses, dá para passar horas falando dos seriados exibidos por canais como Netflix, Amazon Prime e Disney+.
Mas quando se trata das dificuldades da vida, o animal consumista, uma variante do Homo Ludicus - a espécie humana que pretende substituir o Homo Sapiens - , despreza o próximo, mesmo de forma cordial. Altruísmo é palavra inexistente no seu dicionário.
O animal consumista, seja o legalzão que bebe cerveja em quantidades diluvianas nos bares da Paulista, do Alto de Pinheiros e do Itaim Bibi, seja o ex-pobre que ganha fácil em loterias e promoções de mercadorias, é marcado por um profundo egoísmo que só o faz ajudar o próximo quando enxerga alguma vantagem em troca. Tipo dar presentes natalinos para garis que retiram o lixo do bairro onde mora, um ato que produz lacração na Internet.
O instinto de “mão de vaca” que os animais consumistas possuem os faz parecer tão ruins que um animal consumista considerado ideologicamente “democrático” ou “de esquerda” vale tanto, no seu egoísmo, quanto um bolsonarista convicto e incurável. Um animal consumista lulista é, em conduta, equiparado a um bolsonarista mais festivo.
O egoísmo dos animais consumistas é em níveis trogloditas de fazer o Homem de Neandertal parecer um lorde inglês. Nem se Jesus Cristo aparecer na casa do animal consumista irá sensibilizá-lo. Pelo contrário, se Jesus aparecer pedindo abrigo e comida, o animal consumista, por mais cristão que se afirme ser, vai dizer para Jesus cair fora e arrumar trabalho, chamando o ilustre solicitante de “vagabundo”.
A insensibilidade do animal consumista é tamanha que ele precisa consumir para “ser”. Ser, para ele, é ter bens, consumir, é viajar para os mesmos lugares turísticos, como Bariloche e Cancún, para não dizer Paris, Roma e Nova York, mais para impressionar os outros do que para conhecer lugares afora.
Ele não tem sentimentos humanos. O que ele vive é uma rotina estável de acúmulo e consumo de bens. Desde que tudo lhe ocorra bem, desde que as coisas ocorram de acordo com sua vida de opulência, ele é quase um amor de pessoa, animado e festivo, simpático até.
Mas quando há algo que lhe desagrade, aí ele se torna animalesco, por mais que tente por mel na boca, como no caso de um outro pedir ajuda. Aí o animal consumista tenta dizer “Meu amigo, não dá para ajudar, estou sem dinheiro (sic)”.
E aí, se afastando do aflito, o animal consumista vai em passos acelerados para o supermercado torrar dinheiro com supérfluos e algumas coisas nocivas, como cerveja e cigarros. Faz parte, nesse mundo de ilusões do animal consumista, que mede sua existência pelas posses e usufrutos dos bens de prestígio nesta sociedade hipermercantilizada e hipermidiatizada que é o Brasil.
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