A BURGUESIA EM CLIMA DE DIVERSÃO, APOSTANDO NUMA "DEMOCRACIA DE PARQUE DE DIVERSÕES".
Estamos vivendo numa democracia ou numa ditadura? Podemos expressar nosso senso crítico ou ele tem uma posição marginal na sociedade? Os problemas humanos não precisam ser resolvidos quando seus prejuízos se tornam suportáveis? A desigualdade social pode ser mantida em padrões supostamente equilibrados?
Pode parecer um absurdo para muita gente, mas há algo estranho nessa “democracia de um homem só” de Lula, que por mais que diga estar governando para os mais pobres, na prática está governando para uma elite relativamente ampla, mas mesmo assim, restrita e restritiva em interesses, apostando numa “democracia de parque de diversões”. Desde que o povo se ocupe apenas em diversão e consumo, a “democracia” é plena.
A nossa burguesia é hipócrita, pois não se assume como tal e finge não ser elite, se achando “mais povo que o povo”. Esse negócio de fingir ser “povo” dessa elite do bom atraso - em parte composta por ex-pobres que passaram a ter apetite burguês pelo dinheiro - é apenas um artifício para essa classe dominar e obter privilégios sem ser notada.
Vivemos uma reedição do “milagre brasileiro” com um ex-operário no lugar de um general, mas por sinal um ex-operário sintonizado com os interesses da burguesia. Um cenário de muito consumo e muito entretenimento e diversão por parte da bolha lulista e da sociedade dita “democrática”. Tudo isso orquestrado pelo empresariado “legal” da Faria Lima.
Enquanto as classes populares se sentem abandonadas por Lula - somente uns poucos ainda acreditam, em vão, na hoje extinta raiz popular do presidente brasileiro - , a burguesia ilustrada, metida a ser “a classe social mais legal do planeta”, vive seu protagonismo pleno e, ao mesmo tempo, disfarçado.
É a mesma elite, com sua mesma base de apoio, que derrubou João Goulart, pediu o AI-5 e foi premiada com as benesses do “milagre” econômico de 1969-1974. Mesmo quando os netos das elites que derrubaram Jango se afirmem sob “natural vocação democrática” e uns até se dogam “de esquerda”, o DNA autoritário segue, não só pelo repúdio ao senso crítico como também através de um moralismo meritocrático e punitivista, que roga ao outro modos de sofrimento e limitações humanas supostamente suportáveis.
Dessa maneira, é uma elite que defende a pintura padronizada nos ônibus, que desafia as atenções de quem tem muito o que fazer. Ou que defende a precarização do trabalho, com escala 6x1 ou trabalho 100% comissionado sob a desculpa de que os empregados sempre dão um jeito a essas limitações.
Dotada de um juízo de valor marcado por um complexo de superioridade, a elite do bom atraso sempre deseja ao próximo o “menos ruim”, e criam uma série de desculpas para defender que os outros sofram sempre sérias dificuldades na vida. Esse juízo de valor é consequente de uma sensação de pretensa superioridade social que a elite do bom atraso sente, iludida com seu prestígio e seu poder econômico, que se confundem com uma pretensa superioridade intelectual.
Daí o autoritarismo dessa elite dita “democrática”, julgando, de maneira claramente preconceituosa, não só as vontades e desejos dos outros, mas a suposta capacidade de aguentar as adversidades da vida, como se o prejuízo alheio fosse uma situação sustentável.
Por isso lembramos sempre que essa burguesia “democrática” e fantasiada de “gente simples” não é uma fruta que caiu fora da árvore. A diferença é que a atual burguesia quer a "democracia" e a "liberdade" só para ela, para curtir um Brasil feito um parque de diversões. O resto que aceite as limitações da vida e se conforme com o papel que a burguesia lhe reserva nesse país pretensamente "livre".
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