Fico pasmo quando leio pessoas passando pano no culturalismo pós-1989, em maioria confuso e extremamente pragmático, como se alguém pudesse ver uma espessa cabeleira em uma casca de um ovo.
Não me considero careta e, apesar dos meus 54 anos de idade, prefiro ir a um Lollapalooza do que a um baile de gala. Tenho uma bagagem cultural maior do que mimha idade sugere, pelas visões de mundo que tenho, até parece que sou um cidadão mediano de 66 anos. Mas minha jovialidade, por incrível que pareça, está mais para um rapazinho de 26 anos.
Dito isso, me preocupa a existência de ídolos musicais confusos, que atiram para todos os lados, entre um roquinho mais pop e um som dançante mais eroticamente provocativo, e no meio do caminho entre guitarras elétricas e sintetizadores, há momentos pretensamente acústicos.
Nem preciso dizer nomes, mas a atual cena pop é confusa, pois é feita por uma geração que ouviu ao mesmo tempo Madonna e AC/DC, Britney Spears e Nirvana, Backstreet Boys e Soundgarden. Dançava a macarena e, por outro lado, pulava o nu metal. As mesmas pessoas faziam isso e o resultado aplicado na música é um som pop confuso e perdidamente eclético.
Mas isso é outra história. O que vejo na Geração Z, que já é filha da geração nascida entre 1978 e 1987, que em maioria sucumbiu, no Brasil, a uma gravíssima degradação sociocultural, é um perfil geral de comportamento que, descontadas as peculiaridades, é moderno na forma e antiquado no conteúdo.
O pessoal até imita o figurino de Woodstock, e isso eu vejo em gente que nasceu a partir do fim dos anos 1980. Um hippie de boutique, aparentemente gozando da liberdade plena trazida pelos hippies originais - que já eram bem menos subversivos do que a tradição tanto nos faz crer - , que esconde uma personalidade ao mesmo tempo obediente e resignada.
O pessoal dessa geração até cumpre o figurino e o comportamento hedonista da Nação Woodstock, mas quanto a certos detalhes deixa a desejar. Aceita de bom grado a precarização do mercado de trabalho e também aceita ser massa de manobra de lideranças das esquerdas identitaristas, fazendo com que só decidam comparecer a protestos de rua se recebem ordens superiores para isso.
Daí que, nos 53 anos da Marcha dos Cem Mil, importante movimento contra a ditadura militar ocorrido no Rio de Janeiro, foi preciso muita pressão no tuitaço para que o 26 de junho de 2021 tivesse alguma manifestação, pois se fosse pela organização dos protestos contra o então presidente Jair Bolsonaro, todo mundo ficava em casa zoando com o “capitão” nas redes sociais.
No que se diz à cultura, a Geração Z causa profundo vexame, sendo muito mais careta do que se pode cogitar. Se observar bem, o pop juvenil que curtem é um mercado chefiado com mãos de ferro pelo produtor, compositor e empresário Max Martin. Fora dos EUA, o público consome k-pop e ritmos popularescos brasileiros como a franquia do trap mais o piseiro, o arrocha e os já antigos breganejo e sambrega, todos com notória finalidade comercial que, embora nunca assumida, é escancarada.
No cinema, na literatura e na TV, a Geração Z e sua divisão woke também são subservientes à cultura de massa, por mais que finjam serem diferenciados. E se comportam como gente infantilizada, pois, aos 24, 25 anos, ainda agem como se tivessem a metade de seus anos de vida.
Nas universidades, sobretudo pela influência da “invasão privada” da Era FHC (ou seja, quando surgiram uma série de universidades e faculdades particulares), nota-se que o ensino superior está mais próximo do antigo ensino secundário - ironicamente definido nos EUA como high school (“escola superior”, em inglês) - do que do curso universitário que, nos anos 1960, tinha uma reputação superior reconhecida.
Em outros tempos, havia secundaristas lendo livros de alta qualidade, ouvindo música autêntica como Bossa Nova, jazz, rock progressivo, rock alternativo e MPB autêntica. Gente que via o cinema europeu, que conversava coisas interessantes, transmitindo ideias consistentes entre uma piada e outra. Agora os universitários de hoje ouvem música de péssima qualidade, apreciam livros ruins e filmes comerciais inócuos, cultuam subcelebridades e falam muitas bobagens.
Que futuro esse pessoal representa para o Brasil? Nenhum. E a mais grave ironia é que essa juventude infantilizada aposta num idoso frágil para conduzir o futuro do nosso país. Muito surreal. Por sorte, a Geração Z não quer assistir a filmes de Luís Bunuel nem ler livros de Franz Kafka. Essas obras são muito complicadas para elas. E o Brasil não é para principiantes.
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