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RÁDIOS COMERCIAIS “DE ROCK”, DEPOIS DE DERRUBAR O ROCK BRASIL 80, SE PROMOVE ÀS SUAS CUSTAS


As ditas “rádios rock”, a Rádio Cidade do Rio de Janeiro, hoje atuando na Internet, e a 89 FM de São Paulo, depois de derrubar o Rock Brasil dos anos 1980 com a mentalidade hit-parade que gerou os Raimundos e Mamonas da vida, tentam se promover às custas da cena que acabaram destruindo, à maneira do que ocorre com Michael Sullivan, que usa a mesma MPB que tentou destruir para retomar sua carreira.

Não sendo mais do que meros escritórios das empresas de eventos, a Cidade e a 89 só “funcionam” com alguma razão de ser no fim de noite. Essas “rádios rock” comerciais vendem gato por lebre e na maior parte do tempo funcionam como rádios pop comuns, tipo a Jovem Pan dos anos 1990. A programação roqueira, pra valer, se dá somente nos programas específicos comandados por especialistas transmitidos entre 21 horas e a meia-noite.

Portanto, nunca passou de conversa para boi dormir dessas “rádios rock” o papo de “24 horas de puro rock’n’roll”, pois mal dá para um oitavo da programação diária, piis a maior parte finciona como rádio pop comum, só tocando os hits definidos pelo mercado como “rock”.

Temos que enfatizar isso porque nossa crítica especializada não ajuda. Elas ouvem as ditas “rádios rock” somente nessa faixa noturna e, como trabalham no período diurno e vespertino, quando essas rádios estão no modo “rádios pop que tocam rock”, e por isso pensam que a programação diária é visceralmente roqueira. Só que não.

São rádios que nos anos 1990 tocavam coisas convencionais como Alanis Morissette, Skank, Cidade Negra e Mamonas Assassinas, como a Jovem Pan de então. A diferença é que, depois, a Jovem Pan vinha com Backstreet Boys e a 89 e a Rádio Cidade vinham com Metallica da fase mainstream. E juntamente a isso, o medíocre cenário dos anos 1990 do Rock Brasil, do qual pouca coisa se salva.

As ditas “rádios rock”, emissoras canastronas que passaram a fazer concorrência predatória contra as rádios de rock originais, destruíram a cultura rock quando deixaram de lado a criatividade que marcou o rock dos anos 1980 para substituí-la pela pragmática cena dos anos 1990, com bandas bem estruturadas empresarialmente, mas sem muita criatividade e, não obstante, com mais humor.

Agora, dentro do morde-e-assopra, as “rádios rock” que transformaram o Rock Brasil num A Praça é Nossa com guitarras passaram a pegar carona na nostalgia oitentista. As rádios Cidade e 89 tentam se promover com a exploração do prestígio de veteranos famosos, como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs, Ira! e Barão Vermelho.

Mas a coisa não fica por aí. O coordenador da 89, Tatola Godas, também dublê de roqueiro com sua festiva banda de pop-rock Essa Nem Liminha Ouviu - algo como um Restart “rardicór” e “tiozão”- , foi participar de um revival da banda de rock paulista Musak, com um dos ex-bateristas da antiga formação, o hoje palestrante e youtuber Régis Tadeu, tocando novamente. Talvez Régis esteja cobiçando um horário na grade noturna da 89, mais rentável que o programa da USP FM que apresenta.

O grande problema é que essas “rádios rock” derrubaram a cena roqueira marcada por muita informação musical, nos anos 1980. Sem um pessoal capacitado para divulgar artistas realmente renovadores, o foco acabou sendo para bandas com mentalidade mainstream, sem muitos referenciais diferenciados para apresentar.

Essas "rádios rock" ficam se achando ao bajular o legado da Legião Urbana - embora essas rádios só toquem os hits, vale lembrar - , mas se a banda tivesse surgido hoje as mesmas rádios que agora falam no "legado eterno do grande Renato Russo" estariam rejeitando a banda e o talento arrojado do vocalista. Faixas como "A Dança", "Tempo Perdido" e "Faroeste Caboclo" causariam estranheza e seriam vetadas de imediato.

Daí que soa muito superficial dizer que a Fluminense FM foi importante somente por ter divulgado o Rock Brasil. Hoje qualquer rádio comercial que veste a fantasia de "rádio rock" e não passa de mero escritório auxiliar da Artplan pega carona no prestígio do Rock Brasil dos anos 1980 e tenta babar ovo até em cima do Musak, do Finis Africae e do Arte no Escuro.

E isso depois dessas emissoras terem derrubado o Rock Brasil oitentista e colocado no lugar o falso hardcore gracejante dos anos 1990 e, em seguida, os falsos "Picassos Falsos" que emulavam pretensos sambas e baiões muito mal disfarçados de grunge, com aquela fórmula "clone fajuto do Skank imitando o Santana dos primórdios". Ou seja, as "rádios rock" trocaram a criatividade pela mesmice e agora querem se promover às custas dos antigos criadores que expulsaram do dial.

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