Até se admite que o departamento de Jornalismo das rádios comerciais ditas “de rock” é esforçado e tenta mostrar serviço. Mas nem de longe isso pode representar um diferencial para as tais “rádios rock”, por mais que haja alguma competência no trabalho de seus repórteres.
A gente vê o contraste que existe nessas rádios. Na programação diária, que ocupa a manhã, a tarde e o começo da noite, elas operam como rádios pop convencionais, por mais que a vinheta estilo “voz de sapo” tente coaxar a palavra “rock”. O repertório é hit-parade, com medalhões ou nomes comerciais, e nem de longe oferecem o básico para o público iniciante de rock.
Para piorar, tem aquele papo furado de que as “rádios rock” não tocam só os “clássicos”, mas também as “novidades”. Papo puramente imbecil. É aquela coisa da padaria dizer que não vende somente salgados, mas também os doces. Que diferença isso faz?
O endeusamento, ou mesmo as passagens de pano, da imprensa especializada às rádios comerciais “de rock” se deve mais porque essas emissoras só têm alguma razão de ser entre as 21 horas e a meia-noite, quando há os programas específicos, comandados por algum jornalista ou músico de rock. São verdadeiros feudos radiofônicos que, em poucas horas, fazem a “imagem” da rádio, por meio de uma propaganda enganosa, pois o pessoal pensa que tudo é assim 24 horas por dia. Não é. No aspecto geral, as “rádios rock” são apenas rádios pop que, em tese, “só tocam rock”.
E aí o setor de Jornalismo é apenas outro feudo que não condiz à filosofia de trabalho geral da rádio. E vamos combinar que quem controla as “rádios rock” é um pessoal burguês e riquinho que trata o rock com a mesma falta de sensibilidade com que tratam automóveis, sabões em pó, planos de saúde e Internet e espaços fitness. E os locutores poperó que atuam na programação diária das “ rádios rock” estão mais preocupados em vender ingressos, automóveis e viagens de avião do que divulgar a cultura rock que, por sinal, não é sua vocação natural.
Portanto, esse jornalismo chega a um contexto em que o esforço individual dos jornalistas esbarra numa lógica similar a de uma revista Capricho querendo parecer a Rock Brigade, que é a linha editorial abordada pela rádio comercial “de rock”. O esforço individual do jornalista é até respeitável e expressivo, mas a lógica patronal apenas atende a fins comerciais, portanto não é a mesma coisa que trabalhar numa revista ou numa rádio feita por roqueiros autênticos.
Por isso o trabalho jornalístico que a 89 FM, a Rádio Cidade e similares fazem é sempre na carona do que a Rock Brigade, o Whiplash e a Roadie Crew fazem. O jornalista pode ser talentoso, mas seus patrões não compartilham necessariamente de um compromisso cultural, mas de um aparato que é voltado principalmente para o mercado de shows estrangeiros no Brasil.
Ultimamente o jornalismo rock está focado a fatos e curiosidades biográficos de artistas de rock antigos e contemporâneos, com base no que o portal britânico Far Out está fazendo. A partir desse trabalho, nomes do Rock Brasil como Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii), Nando Reis (Titãs) e Paulo Ricardo (ex-RPM) são entrevistados enquanto antigos depoimentos e fatos envolvendo artistas como Raul Seixas, Rita Lee, Cazuza e Renato Russo são revelados ao público.
A partir dessas informações, o rock, que perdeu o protagonismo no gosto do público jovem, está vivendo um ciclo de debates e revisões que escapa do comercialismo obsessivo das ditas “rádios rock”, que por sua vez perderam audiência para as plataformas digitais como Spotify e YouTube.
As rádios comerciais “de rock”, como 89 e Cidade (esta transmitida via Internet) só servem a um público mais pop e convencional, mais receptivo a Coldplay e System of a Down sem ter um compromisso real com o verdadeiro rock. É um pessoal que, portanto, está fora do debate, mais preocupado com seu divertimento pop de todo dia.
Por isso, o jornalismo rock está voltado ao seu nicho mais específico e restrito, que não vê o rock como catarse como as gerações pós-1978 educadas pela dupla rockneja 89 e Cidade. Os debates sobre o rock, portanto, não chegarão aos escritórios da Faria Lima e ficarão apenas no público mais especializado. Rock voltou a ser coisa de roqueiro.
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