LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS.
Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.
Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco".
Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos.
Os defensores de Léo dizem que a condenação vai contra a "liberdade de expressão", mas Léo chega a ser agressivo até com episódios trágicos, como o incêndio na Boate Kiss, além de citar pessoas famosas em suas piadas cheias de ofensas jocosas. É como se a comédia de estandape de Léo Lins fosse uma espécie de valentonismo (bullying) sob o verniz do humorismo.
Léo ganhou a solidariedade dos políticos de extrema-direita brasileiros, como os vereadores Lucas Pavanatto (PL-SP) e Amanda Vettorazzo (União-SP), que classificaram a condenação como "excessiva e preocupante para a liberdade de expressão no país".
Antônio Tabet, o comediante centro-direitista do canal Porta dos Fundos, também saiu em solidariedade a Léo, definindo a condenação da Justiça como "uma insanidade e um desserviço", manifestando seu desejo de que "essa decisão completamente descabida seja revertida". Danilo Gentili, outro humorista associado ao direitismo, também manifestou solidariedade a Léo Lins, mesmo sem declarações diretas.
Esse tipo de humorismo ofensivo que contaminou a comédia de estandape foi um fenômeno trazido pelos ventos conservadores de 2015. Durante dez anos, comediantes e influenciadores digitais tornaram-se um tipo informal de celebridades, cujo sucesso se dava a partir de um número de visualizações e curtidas nos seus canais do YouTube e, mais tarde, do Instagram e do Tik Tok.
Num contexto em que um programa de humorismo, o Pânico na TV, ajudou o candidato à Presidência da República da extrema-direita, Jair Bolsonaro, a ser eleito em 2018, o humorismo politicamente correto e o opinionismo dos influenciadores mais conhecidos - alguns deles atuando como escritores ou até dublês de escritores, pois há acusações de que alguns desses autores tenham ghost writers por trás - , tornaram-se o tom de um cenário que permitiu até a propagação de fake news no Brasil.
Além disso, nesse processo de mediocrização da sociedade, a invasão de influenciadores e comediantes no mercado literário e no mercado da Comunicação, tirando o lugar de quem realmente usa a liberdade de expressão de maneira responsável e quem realmente precisa trabalhar no ramo do Jornalismo e da análise de mídias sociais.
Diante da inflação de comediantes e influenciadores, houve uma onda de humoristas que se autoproclamavam "jornalistas", motivados pelo "efeito CQC" - o programa humorístico Custe o Que Custar, comandado pelo também jornalista Marcelo Tas, fazia uma paródia de telejornalismo - , que também transformou o Pânico da Pan (original radiofônico que gerou o Pânico na TV) em arremedo de radiojornalismo.
Enquanto pessoas com formação universitária genuína são obrigadas a assumir profissões como vendedores de aplicativos - como os motoqueiros que vendem comidas de lanchonetes e restaurantes através de plataformas como o iFood - e operadores de Telemarketing, gente sem conhecimento de Jornalismo nem de Comunicação ocupa postos de redatores, locutores e analistas de mídias sociais, trabalhando pouco e aproveitando sua visibilidade e prestígio para passar a maior parte do tempo tomando cafezinho, fazendo pose diante do computador e papeando com os colegas.
Voltando ao caso Léo Lins, ele acabou sendo, para o bem e para o mal, objeto de maniqueísmo que o colocou em oposição simétrica ao MC Poze do Rodo, funqueiro e pioneiro da franquia brasileira do trap estadunidense.
MC Poze, que acabou saindo da prisão na semana passada mas ainda sob investigação na Justiça - principalmente pelo vínculo com a esposa Viviane Noronha, acusada de "lavar" dinheiro do crime organizado através do esquema de rifas ilegais - , acabou sendo, para os lulistas, o "símbolo do bem" e, para a direita reacionária, moderada ou extrema, o "mal", rivalizando com Léo Lins, com qualidades opostas entre os respectivos polos.
Só que, fora da polarização, tanto MC Poze do Rodo quanto Léo Lins envergonham com suas respectivas atividades. Eles são, da mesma forma, expressão da decadência de um sistema de valores abusivo e desigual, herdeiro do culturalismo da Era Geisel que ainda resiste aos tempos atuais, mas que já começa a ser colocado em xeque neste Brasil em séria crise.
Comentários
Postar um comentário