A popularesca Nativa FM foi embora. Voltou ao ar, para a alegria de muitos ouvintes, a Antena 1 do Rio de Janeiro, rádio de pop adulto que tinha um cuidado próprio na seleção de repertório, pois procurava explorar o hit-parade mas ir além, mostrando preciosidades como Laura Nyro e Herman's Hermits, por exemplo.
A orientação da emissora carioca é diferente da paulista - que só toca sucessos estrangeiros - e investe também em MPB. A Antena 1 paulistana sempre continuou no ar. Uma curiosidade também foi que eu pude vivenciar a breve existência da Antena 1 no dial de Salvador, furando o cerco do rádio FM local, brutalmente coronelista, bem sucedido mas abortado por causa dos interesses politiqueiros locais.
A Antena 1 carioca dá um banho de lição na Rádio Cidade, por honrar as raízes de sua programação. É certo que havia uma diferença, no princípio, porque a Antena 1 surgiu tão pop quanto a Rádio Cidade de 1977 e, se a locução ficou mais formal e o repertório mais calcado nas músicas antigas, mas, mesmo assim, a essência da proposta original não foi afetada, mas apenas adaptada.
Isso traz uma diferença enorme na Antena 1 (ou Antena Um, para diversificar a busca na Internet) em relação à Rádio Cidade, que nos seus 102,9 mhz voltou apenas como um nome, mas sem assumir novamente a proposta original, perdendo uma excelente chance de tocar Adele, Pharrell Williams, Nico & Vinz ou mostrar o lado musical da atriz Hailee Steinfeld.
A Rádio Cidade hoje é uma morta-viva, uma rádio que renega sua história e virou reduto de jovens reacionários que, há pouco tempo, ouviam Zezé di Camargo & Luciano e Exaltasamba em alto volume nos bares do Baixo Gávea e hoje se julgam "roqueirões" sem saber a diferença entre um solo de guitarra e um som de furadeira elétrica.
Nem rádio de rock autêntica a Rádio Cidade é, apesar de todo o oba-oba publicitário. Não existe rádio de rock autêntica no dial FM do RJ. Além disso, a equipe da Cidade é composta de gente da antiga Jovem Pan carioca, coordenada por um tal de Van Damme, ex-Beat 98, cuja experiência mais próxima do rock (e olhe lá!) foi através da divulgação do "sertanejo universitário". Um horror!
O despretensiosismo nem sempre caminha junto com a aparente rebeldia. A Antena 1, sendo rádio de pop adulto, tem maior liberdade de escolha de repertório, daí que pode tocar não apenas os sucessos costumeiros que as rádios de pop adulto tocam, mas podem ir mais fundo tocando nomes como Gerry Rafferty, Laura Nyro, Herman's Hermits e Hollies.
Já a Rádio Cidade, coitada, só toca duas músicas do Pink Floyd - as únicas que a emissora tocava quando era assumidamente pop, nos seus primórdios - , e fica se achando exibindo foto do AC/DC em suas propagandas de outdoor e transdoor, quando da banda australiana se limita a tocar tão somente "Back In Black", quase nada diante de tantos clássicos da admirável banda.
Por isso, bem vinda ao dial novamente, Antena 1. Que a rádio dos 103,7 continue honrando suas raízes, sua trajetória sóbria e criativa, dando um banho na neurótica vizinha que não sabe mais o que quer em sua vida.
Enquanto a Cidade não terá condições para explicar os 40 anos de existência com sua história original renegada, a Antena 1 seguirá tocando os grandes clássicos da canção. Nem sempre todo mundo convence bancando o rebelde, não é mesmo? O que convence é o talento, a vocação e o respeito à sua trajetória. E isso é o diferencial da Antena 1.
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