O que as pessoas tentam procurar nos "sertanejos" dos anos 1980 e 1990 - hoje tidos erroneamente como "sofisticados" e "de raiz" - , como o romantismo, o lirismo juvenil e as raízes culturais, encontram com muito mais brilho e profundidade no Clube da Esquina.
Esqueçam aquelas duplas que cantaram a vitória da Era Collor e que hoje tentam fazer "MPB de mentirinha". Joguem fora os CDs de "sertanejo" que estão nas suas estantes e os troque por discos do pessoal do Clube da Esquina, no qual haverá muito ganho melódico, poético e artístico.
Não se fala apenas de nomes como Milton Nascimento e Flávio Venturini, ou então no Lô Borges com mais trânsito entre os roqueiros. Não se fala apenas em "Canção da América", "Travessia" e "Todo Azul do Mar". Fala-se no "lado B", que o público deveria ouvir sem medo e sem depender de mídia para dizer o que se deve ouvir.
Toninho Horta é um dos nomes mais injustiçados. Ele deveria estar no coração daqueles que, em vão, procuram sofisticação em duplas do Paraná e de Goiás que fazem pastiche de Clube da Esquina com seus breganejos que, de vez em quando, vampirizam o repertório mineiro.
Destacado músico, cantor e compositor, Toninho Horta acrescenta ao som do Clube - calcado no som rural mineiro mesclado com rock progressivo e o rock sessentista de Beatles e Byrds - influências de jazz rock, e sua trajetória é narrada no livro Harmonia Compartilhada, da autora Maria Tereza Arruda Campos.
Toninho Horta é um dos músicos mais arrojados do Clube da Esquina e é lamentável que o público médio espere que ele apareça em uma trilha sonora de novela da Rede Globo para ser mais conhecido. O público deveria abrir mão dessa dependência de trilhas de novelas, porque a qualidade musical não se mede pelo tema de personagem tal em novela qual.
O livro descreve a carreira de Toninho Horta, como "sócio do Clube" e, depois, como um músico de projeção internacional, com um reconhecimento artístico ímpar que o grande público não percebe porque não está no CDzinho da trilha da novela das 19 horas, único espaço que o provinciano e hipócrita mercado brasileiro dá para nomes pouco conhecidos da MPB autêntica.
O público que tenta ler "livros para colorir" deveria muito bem buscar o tesouro anti-estresse lendo a trajetória de um dos grandes músicos brasileiros, um nome hoje atuante e que dá sólidas contribuições para a verdadeira Música Popular Brasileira, Música com P maiúsculo e que não se faz com meros lotadores de plateias.
Vale a pena reeducar os ouvidos e deixar de lado aqueles chorosos e enjoados "sertanejos" que fazem muita canastrice e só disfarçam, de vez em quando, pegando carona na musicalidade e na poesia dos outros, sem ter o mesmo talento.
O Clube da Esquina merece ser aprofundado e admirado além de seus belos, porém manjados, grandes sucessos. O livro biográfico já é um bom cartão de visita para conhecer outros lados do Clube da Esquina a partir de Toninho Horta.
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