Chico Buarque foi jantar, anteontem, com o amigo cineasta Cacá Diegues, num restaurante da Rua Dias Ferreira, no Leblon, quando, ao sair foi cercado por um grupo de burgueses indignados, entre eles Álvaro Garnero Filho e o inexpressivo rapper Túlio Dek, que andava "sumido" depois que terminou um romance com a atriz Cléo Pires.
Alvarinho, por sua vez, é filho de um conhecido empresário da hi-so, Álvaro Garnero. O jovem é, portanto, neto do banqueiro Mário Garnero, que apoiou a ditadura militar e estava associado ao caso NEC, empresa de telecomunicações favorecida, durante o governo José Sarney, com alianças políticas com Antônio Carlos Magalhães e o empresário Roberto Marinho, das Organizações Globo.
Os dois então provocaram Chico Buarque, dizendo: "Petista, vá morar em Paris. O PT é bandido". É um comentário sem pé nem cabeça, justificado por um dos comentários dados pelo compositor: "Vocês são leitores de Veja".
A princípio a discussão parecia "animada", daí que vemos, na foto, Cacá Diegues se divertindo com a situação. Mas depois os dois lados se irritaram, embora Chico Buarque tivesse ficado com maior compostura. Trocaram xingações e foram embora.
Engraçado o contexto que envolve o cantor e os reaças da Internet. Chico Buarque chegou a ser hostilizado por uma geração de intelectuais de centro-direita - comandados pelo jornalista Pedro Alexandre Sanches, criado pelo Projeto Folha (aquele que eliminou focos de esquerdismo na Folha de São Paulo) - que se passaram por "esquerdistas convictos" usando tendenciosamente o pretexto da "cultura popular".
Foi Sanches que, um dos maiores detratores de Chico Buarque, teve a infeliz atitude de chamá-lo de "coronel da Fazenda Modelo" (alusão ao nome de um dos livros do cantor, que também tem carreira literária paralela), numa atitude sem pé nem cabeça.
Afinal, Sanches era o astro de uma facção de intelectuais tucanos infiltrados na intelectualidade petista que queriam a bregalização do país e cujos heróis, de Zezé di Camargo & Luciano e MC Guimê, passando por Joelma do Calypso, tiveram surtos reacionários notórios.
Graças a ele, essa intelectualidade "mais bacana do Brasil", que arrancava aplausos até quando espirravam em palestras, procurava esculhambar Chico Buarque, sempre fiel esquerdista, e exaltava os funqueiros, que apunhalavam as esquerdas pelas costas e comemoravam seu sucesso abraçados aos barões da grande mídia.
É certo que Chico Buarque não nasceu nas favelas, não faz estritamente um samba do morro, que é um sujeito abastado e tudo o mais. Mas, com certeza, ele é mais solidário aos pobres que muito funqueiro que baba gravatas de barão da mídia e depois vai para a imprensa de esquerda posar de "coitadinho".
E tem muito ídolo dos estilos musicais "populares demais" que é mais rico que Chico Buarque, que, sozinho, não tem metade do patrimônio de calcinhas, safadões, luans, tchans, psiricos, aviões, belos, chitões, catras e popozudas, e digo cada um destes em separado.
Que intelectualidade "de esquerda" se espera desses "bacanas"? Sanches esculhambava Chico Buarque, chamava ele de "coronel", mas pedia a "reforma agrária da MPB" com ídolos "sertanejos", patrocinados pelo latifúndio e agronegócio. É desta forma que nasceram os Olavo de Carvalho e Reinaldo Azevedo da vida.
Mas essa intelligentzia se ascendeu juntamente com os baderneiros da Internet, os trolls, que já se aportuguesou para "troleiros", os Revoltados On Line, Movimento Brasil Livre e Acorda Brasil cujos embriões já agiam escondidos em comunidades tipo Eu Odeio Acordar Cedo no Orkut.
Claro, essa "galera tudo de bom", "nota déiz (sic)" e "show de bola", que ouve Rádio Cidade, que cultua Luciano Huck e seus "dialetos" (como a gíria "balada"), que para entender de política recorre à revista Veja, elege Rodrigo Constantino e Luiz Felipe Pondé como "pensadores" favoritos e quer o fechamento do Congresso Nacional sob a desculpa do "combate à corrupção".
Essa "galera irada", que não suporta quem pensa diferente, que, feliz em esculhambar semi-anônimos nas mídias sociais, passa agora a esculhambar famosos. Maria Júlia Coutinho, Taís Araújo, Cris Vianna, Lola Aronovich e, agora, com o exemplo de dois de seus "heróis" discutindo com Chico Buarque.
E essa discussão se deu porque Chico Buarque sempre foi um dedicado ativista social, com suas temáticas políticas, sua poesia contundente e suas críticas ao regime militar. O "coronel da Fazenda Modelo" fez muito mais pelos trabalhadores rurais do que os "sertanejos populares demais" que se apresentam em feiras de agropecuária e disfarçam o patrocínio da UDR com verbas que, tendenciosamente, arrancam dos cofres petistas através da Lei Rouanet.
Essa briga também mostra o quanto a direita juvenil, os chamados fascistas mirins, caem no ridículo. Desde quando "ser bandido" é morar em Paris? Coitados dos parisienses! Além do mais, a histeria reacionária desses "miguxos" só consegue mostrar episódios patéticos.
Isso é uma lição para quem começa a carreira de fascista mirim fazendo trolagem na Internet. O cara se empolga, vai esculhambando gente famosa, vai aumentando o tom de seus ataques, mas também comete gafes intensas e atrai muita encrenca. No fim é o troleiro que será alvo de humilhação, reduzido a um "revoltadinho de bosta".
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