Sem aqui querer prolongar os lamentos sinceros que se tem em relação à morte de John Bradbury, baterista dos Specials, músico que faleceu no mesmo dia que o baixista Lemmy Kilmister do Motorhead, duas grandes perdas para a história do rock, um detalhe chama a atenção no caso do falecido músico de ska.
John Bradbury tinha 62 anos e nasceu em 1953, dentro de um período, entre 1950 e 1955, que apresenta, no Brasil, homens - sobretudo empresários, executivos e profissionais liberais - de personalidade muitíssimo antiquada.
Bradbury entrou nos Specials em 1979. Os Specials eram uma banda de ska da vertente "2-Tone" - que simbolizava a integração artística de músicos negros e brancos, reagindo contra preconceitos raciais ainda dominantes no mundo ocidental de então - e era um derivado do punk rock, sendo uma variação do pós-punk ligada aos ritmos jamaicanos, como reggae e ska.
O caso de John Bradbury é apenas um dos milhares de exemplos. Entre músicos que fizeram o punk rock e o pós-punk sob diversos aspectos e já eram veteranos na virada dos anos 1970 e 1980, a maioria deles nasceu na primeira metade dos anos 1950.
O som dos Specials é apreciado por skatistas, um público muito diferente do que, no Brasil, se atribui ao dos sessentões. Ver um grisalho de 60 anos associado a um som curtido por jovens é uma heresia, mas a verdade é que os sessentões britânicos e estadunidenses têm um compromisso e um respeito maior com a juventude do que os contemporâneos brasileiros, salvo as devidas exceções.
Para se ter uma ideia, o primeiro compacto punk oficialmente lançado, "New Rose" do Damned, por exemplo, foi feito por músicos dessa geração. Além disso, uma expressiva parcela de músicos nascidos na primeira metade dos anos 1950, e uns até no final dos anos 1940, "desenharam" o som dos anos 1980.
E no Brasil, o que vemos? Fora notáveis exceções que a cultura rock do Brasil nos mostrou, entre músicos, jornalistas e radialistas, o que se observa é que a maioria dos homens nascidos na primeira metade dos anos 1950 tem uma personalidade bastante envelhecida e antiquada.
Li muito a imprensa de colunismo social - principalmente Caras - e fico constrangido em saber que uma geração de empresários, médicos, economistas e advogados, casados com moças bonitas e mais jovens que eles, se comporta como se fossem o "rabo" da geração nascida nos anos 1940. Apesar de pegarem moças jovens, esses homens sentem alergia a tudo que lhes soa jovial e arrojado.
É constrangedor. Mesmo médicos e empresários nascidos em 1953 e 1954 parecem preocupados em parecerem forçadamente "maduros", tentando se apropriar de referenciais culturais dos anos 1940 e falando dos anos 1950 como se eles já fossem adultos nessa época.
Esses homens expressam, sobretudo, um grave preconceito aos anos 80, época da adolescência feliz de suas jovens esposas, e buscam "justificar" seus cabelos brancos e grisalhos com um apego a eventos de gala e uma superexposição de seus ternos e sapatos de verniz como se isso lhes garantisse seriedade e amadurecimento.
Se os sessentões do Reino Unido e dos EUA anteciparam os anos 1980, os sessentões brasileiros teimam em correr atrás do trem dos anos 1940 que haviam perdido (claro, nasceram na década seguinte). E dá para perceber porque, quando vão para a Europa, nossos sessentões tentam evitar a Grã-Bretanha e a terra de Tio Sam: porque, lá, os homens de sua idade estão ligados a "molecagens" que "nossos coroas" não compreendem.
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