Enquanto muitas pessoas não se interessam em adquirir o livro MÚSICA BRASILEIRA E CULTURA POPULAR EM CRISE, que traz um diagnóstico sobre a crise cultural brasileira, até músicos mais esperançosos admitem a existência desta crise.
Fernanda Takai é um exemplo, e olha que ela busca dar sua contribuição para a renovação da MPB.
Descontando uma participação caça-níqueis num disco-tributo a Michael Sullivan (o homem que quis destruir a MPB com a submissão dela ao "livre-mercado"), ela deu contribuições valiosas para a divulgação da MPB do passado como forma de inspirar a MPB do futuro.
Segundo ela, também integrante do Pato Fu junto ao seu marido John Ulhoa, a música brasileira entrou em crise antes dos demais setores da vida no país.
"O auge da crise da música foi em 1998 quando apareceu o MP3. A gente está colado na crise. Todo mundo da música mudou muito o jeito de produzir, de fazer. Para a música, que está calejada, esse momento é normal. Essa foi a área que entrou em crise antes de todo mundo. Foi por causa das novas tecnologias. Eu, por exemplo, disponibilizo meu som na rede do jeito que o fã, assim como eu também sou, achará melhor. Como? Coloco no meu site coisas que eles não acharão em nenhum outro lugar. Agora, o CD, para ouvir, tem no Spotify, no Deezer e por aí vai. Eu sei que o retorno de ganho não é o ideal. Mas o que eu recebo do Ecad também deveria ser muito maior. Das TV’s também deveria ser. É melhor você ter várias frentes de ação e gente cuidando disso do que ficar reclamando. Não dá para você lutar contra a tecnologia", disse Fernanda.
É a visão dela, mas muito válida para entender e enriquecer o debate.
Melhor do que não comprar um livro com título "incômodo" como "crise" porque há aqueles livros "divertidos" sobre Minecraft ou coisa parecida.
Melhor do que encostar no sofá e acreditar que a cultura brasileira está em alta só porque faz um tremendo sol lá na praia.
Claro, quem acredita que a cultura brasileira está em alta porque os problemas são resolvidos com bonequinhos de jogo eletrônico estrangeiro, então a crise está mais séria do que aquela que eles se recusam a imaginar.
Se esperava que o livro que escrevi vendesse, não é para ficar famoso ou rico.
Nem de longe penso nessa forma de sucesso, que me parece superficial e supérflua.
É para mais leitores dialogarem com os problemas apresentados pelo livro.
As pessoas veem o título, fingem que concordam com ele, e se recusam a comprar.
Mas não resistem ao novo livro do Minecraft que aparece nas livrarias.
Ficam acreditando que a cultura está em alta, porque a filha de fulano foi cantar numa festa de aniversário e foi aplaudida, porque o rapaz de cabelo crespo lançou uma música em MP3 com um sâmpler na mão e uma ideia na cabeça ou o guitarrista de jazz emepebista se apresentou no programa das quatro da madrugada naquele canal de TV paga que nem os operadores sabem da existência.
Se tem muita gente fazendo sua parte e existem mil espaços de divulgação, isso não quer dizer que a crise inexista.
Temos crises de valores, de princípios, e até dos próprios meios de divulgação, porque os que mais se destacam são de valor muito duvidoso.
Vide as imbecilizantes emissoras de TV, as reacionárias revistas de informação, as canhestras FMs "populares" e as incompetentes "rádios rock" que prevalecem também em FM.
As pessoas ainda não se situam culturalmente e não querem compreender e crise que se recusam sequer a admitir a existência.
Até porque nem todos os "novos artistas" que muitos dizem ser "geniais" são geniais.
Nem todos os que se dizem "artistas" realmente são artistas.
Muito do que se produz de "genial" e "revolucionário" não passa de rascunhos de canções "arrojadas".
Gente que mal consegue digerir alguns referenciais ousados dos anos 1960 e 1970, como o Funkadelic ou o Santana, em sonoridades que se resultam convencionais.
Gente que acha o máximo o que faz só porque está sintonizado com as novas tecnologias, que no entanto são apenas máquinas, equipamentos, aparelhos.
E tem gente que acha que a cultura está em alta porque chove dinheiro e tem gente fazendo algo em tudo quanto é lugar.
Mas isso é apenas quantidade. E a qualidade cultural? Ninguém sabe.
Talvez mudando um pouco o foco de literatura possa ajudar.
Não é fingindo que os problemas da vida estão nos romances de Minecraft que se resolverá a crise da nossa cultura ou acreditar que ela não existe.
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