Pular para o conteúdo principal

OS ERROS DA PRESIDENTA E DAS ESQUERDAS


Derrota quase fulminante para a presidenta Dilma Rousseff.

Por 367 votos contra 137, além de sete abstenções e duas ausências, o pedido de abertura do impeachment da presidenta Dilma foi aprovado numa votação tensa e frustrante para os esquerdistas.

Os que defendiam a permanência de Dilma no poder não conseguiram atingir os 35 votos que faltavam para impedir a vitória do projeto oposicionista, que não só venceu como teve folga de 25 votos a mais.

A vitória do projeto do impedimento representa um provável fim da Era PT no Governo Federal.

Os petistas prometem resistência e ainda há possibilidade de Dilma se defender no julgamento que virá em breve.

Mas a pressão oposicionista cresceu de forma descontrolada e a população brada pela saída do PT do governo do país.

A onda neo-conservadora se ascendeu, embora de forma atrapalhada, precipitada e estúpida, mas a pressão se tornou intensa e preocupante.

Admite-se, todavia, que o governo Dilma Rousseff errou, como erros ocorreram durante os dois governos Lula.

Culturalmente, o que se via era um Brasil político da Era Jango convivendo com um Brasil cultural da Era Geisel.

As classes populares foram entregues a uma bregalização que havia sido patrocinada pelas forças conservadoras, de latifundiários locais a políticos tucanos e barões da grande mídia.

Ninguém foi debater os problemas culturais do país. Quando havia alguma discussão, era somente pela via econômica, pelo investimento de verbas públicas para financiar o mesmo jabaculê cultural que aparecia nos meios de comunicação sob o rótulo de "popular demais".

Era como se mandassem as classes populares brincar. Tirando o povo do debate público, os intelectuais "bacanas" que se infiltraram nos círculos esquerdistas mas faziam o serviço free-lancer em colaboração aos barões da mídia, o esquerdismo se isolava sem ouvir as classes populares que eram empurradas a "descer até o chão".

Dessa forma, o povo pobre era jogado ao entretenimento mais rasteiro, sob a desculpa de "expressão das periferias" e "ativismo mais provocativo", pura desculpa para a espetacularização da imagem das favelas, roças e sertões, que envergonharia um intelectual europeu, mas enche de orgulho o intelectual "bacana" que prevalece no Brasil.

Com o povo distraído com o "funk", o tecnobrega, o "sertanejo", o "brega de raiz" e outros, o debate progressista se limitou a sindicalistas, jornalistas, políticos e líderes ativistas que praticamente falaram sozinhos.

Em contrapartida, se estimulou o "ativismo" debiloide dos "revoltados" da oposição, que aos poucos surgiram a partir de jornalistas "urubólogos" e troleiros que, em primeiro momento, eram lobos de direita fantasiados de cordeiros de esquerda.

Os troleiros pseudo-esquerdistas apenas expressavam seu macartismo no âmbito de setores como entretenimento, cultura e mobilidade urbana, enquanto politicamente fingiam serem simpáticos ao PT e ao PSOL só para ganhar simpatizantes.

Esses pseudo-esquerdistas, "marx-cartistas" muito mal disfarçados em seu discurso raivoso, até fingiam odiar o FMI e o Imperialismo norte-americano, mas debaixo dos panos eles agradeciam até a Nike pelos calçados caríssimos que ostentavam nas áreas nobres de suas cidades.

O PT não conseguiu fazer um profundo programa de reformas sociais.

Lula, apesar da origem operária, teve um programa muito mais moderado do que João Goulart, que, por ironia, era um grande fazendeiro de São Borja mas tinha um centro-esquerdismo visceral, embora sem radicalismo.

Dilma, que prometia avançar mais que Lula, recuou mais ainda.

No conjunto da obra, Lula e Dilma não foram muito além de programas econômicos neoliberais com alguns projetos de reformas sociais que podem até ter resultado em alguma coisa, mas era muito longe do ideal.

Além disso, as esquerdas perderam, porque aceitaram a infiltração de intelectuais culturais de centro-direita que empurraram a aceitação esquerdista da bregalização cultural antes patrocinada pelo coronelismo político-midiático.

As esquerdas perderam porque fizeram ou defenderam projetos econômicos que expressavam um frágil reformismo social, e pararam em medidas que poderiam ser paliativas como o Bolsa Família.

O Bolsa Família, que deveria ser o ponto de partida para a melhoria de vida, teve o erro de ser visto como a linha de chegada da inclusão social.

As esquerdas também perderam com o consentimento com alianças tão ecléticas e duvidosas, seja com intelectuais culturais de centro-direita, que empurravam para o esquerdismo preconceitos dignos da Globo e Folha sobre cultura popular, seja com políticos que hoje estão na oposição.

A um certo momento, até Marco Feliciano e Jair Bolsonaro eram "esquerdistas", por questão de vínculo partidário. E Eduardo Cunha também.

Isso comprometeu os avanços sociais e fez o PT se paralisar pelo pouco que fez, sendo impedido de ir além, como nas medidas em favor da sociedade LGBT.

Também compactuou com a grande mídia, facilitando até a veiculação de publicidade do Governo Federal, fazendo com que o governo do PT alimentasse e fortalecesse seus predadores.

Agora o PT fala em luta nas ruas, protesto contra o avanço do impeachment.

Mas, a julgar pela pressão oposicionista, que é bastante voraz, a resistência será mais frágil.

E a pior ideia foi usar o "funk" para fazer a trilha sonora dos protestos contra o impeachment.

Do contrário do "coronel da Fazenda Modelo", Chico Buarque, sempre fiel aos esquerdistas sobretudo nas horas difíceis, o "ritmo das periferias" sempre trai as esquerdas comemorando suas conquistas ao lado dos barões da grande mídia golpista.

Dilma não trabalhou a regulamentação da mídia, não realizou uma política salarial profunda e segura, não conseguiu criar um cenário econômico ao mesmo tempo próspero e equilibrado.

Num dado momento, as alianças espúrias deixaram a máscara cair e passaram aos poucos à oposição.

A intelectualidade "bacana" que achava a bregalização "o máximo" abria as portas, escancaradamente, para "revoltados" como Rodrigo Constantino e Rachel Shererazade.

Os pró-bregas legitimavam a imbecilização cultural, deixando o povo pobre vulnerável ao clamor de colunistas oposicionistas e, com o debate esquerdista esvaziado, deram voz e vez à direita.

Eduardo Cunha, político inexpressivo, foi carregado para o Planalto pelos cariocas, num contexto em que o Estado do Rio de Janeiro tornou-se a unidade federativa mais decadente do Brasil, com um nível de retrocesso que o faz parecer um Estado da Região Norte de 40 anos atrás.

E passou a presidir a Câmara dos Deputados e a articular a gradual queda de Dilma Rousseff.

Com isso, o PT desesperadamente tenta o último apelo para passeatas para tentar salvar, se não Lula, impedido de assumir o gabinete da Casa Civil, pelo menos o governo Dilma.

Tudo isso, creio, será em vão, porque a pressão da oposição é violenta e intensa.

E se os esquerdistas vierem com "baile funk" novamente para salvar o governo Dilma, aí é que a coisa vai naufragar de vez.

Até porque, se Dilma cair "dilma vez", os funqueiros deixam as esquerdas de lado e vão festejar seus louros junto aos irmãos Marinho e aos Frias e Civita.

As esquerdas erraram, e o jeito é buscar uma avaliação auto-crítica, pelos erros cometidos. Até se fizerem as passeatas contra o governo Michel Temer, terão que pensar no que fizeram de errado e no que deixaram de fazer de correto.

O que se sabe é que há uma pressão muito forte para que se encerre a Era PT.

Encerrando essa era, a crise não deixará de acontecer, até porque a direita comemorará demais para ter uma ressaca dolorosa e confusa amanhã.

O Brasil terá que passar por uma longa crise, para avaliar seus conceitos e paradigmas.

O país anda muito velho e enferrujado, e a crise, neste caso, não tem perfil ideológico. A crise não é só na Economia nem na Política, e nem só das esquerdas. A crise é de todo o país.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

OS CRITÉRIOS VICIADOS DE EMPREGO

De que adianta aumentar as vagas de emprego se os critérios de admissão do mercado de trabalho estão viciados? De que adianta haver mais empregos se as ofertas de emprego não acompanham critérios democráticos? A ditadura militar completou 60 anos de surgimento. O governo Ernesto Geisel, que consolidou o Brasil sonhado pelas elites reacionárias, faz 50 anos de seu início. Até parece que continuamos em 1974, porque nosso Brasil, com seus valores caquéticos e ultrapassados, fede a mofo tóxico misturado com feses de um mês e cadáveres em decomposição.  E ainda muitos se arrogam de ver o Brasil como o país do futuro com passaporte certeiro para ingressar, já em 2026, no banquete das nações desenvolvidas. E isso com filósofos suicidas, agricultores famintos e sobrinhos de "médiuns de peruca" desaparecendo debaixo dos arquivos. Nossos conceitos são velhos. A cultura, cafona e oligárquica, só defendida como "vanguarda" por um bando de intelectuais burgueses, entre jornalist

MAIS DECEPÇÃO DO GOVERNO LULA

Governo Lula continua decepcionando. Três casos mostram isso e se tratam de fatos, não mentiras plantadas por bolsonaristas ou lavajatistas. E algo bastante vergonhoso, porque se trata de frustrações dos movimentos sociais com a indiferença do Governo Federal às suas necessidades e reivindicações. Além de ter havido um quarto caso, o dos protestos de professores contra os cortes de verbas para a Educação, descrito aqui em postagem anterior, o governo Lula enfrenta protestos dos movimentos indígenas, da comunidade científica e dos trabalhadores sem terra, lembrando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) já manifestou insatisfação com o governo e afirmou que iria protestar contra ele. O presidente Lula, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assinou, no último dia 18, a demarcação de apenas duas terras para se destinarem a ser reservas indígenas, quando era prometido um total de seis. Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT) foram beneficiadas pelo document

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul