Enquanto o "funk" posa de "anti-mídia" e tenta convencer os incautos de uma postura falsamente progressista, como na manifestação anti-impeachment de ontem (num dia que resultou na maior derrota política de Dilma Rousseff e do PT nos últimos anos), um DJ do gênero entrega e revela que um dos programas da Rede Globo contribuiu decisivamente para a popularização do "funk".
Foi numa entrevista ao jornalista Léo Dias, do jornal carioca O Dia. O DJ Tubarão, que tem um programa na FM O Dia, entregou revelando não só a influência de um programa da Rede Globo como de uma socialite no processo de empurrar o ritmo para as elites.
Embora o DJ Tubarão falasse com aqueles mesmos pontos de vista positivistas em relação ao "funk", subentende-se que a popularização do ritmo obedeceu a uma lógica de marketing e busca de novas reservas de mercado através de um serviço de relações públicas de uma socialite, Carol Sampaio.
É bom deixar claro que as celebridades que se envolvem com ritmos do brega-popularesco fazem tudo em troca de um cachê. O advogado dos famosos, Sylvio Guerra, e a atriz Samara Felippo, já alertaram que todos os famosos sempre recebem um cachê para ir a uma micareta, uma vaquejada ou um "baile funk". Nada é feito de graça.
DJ Tubarão cita o programa da Xuxa, na época Xuxa Park (1994) e, depois, Planeta Xuxa, como responsável pelo sucesso do "funk". Devemos lembrar que o programa da Xuxa, com os diferentes nomes (Xou da Xuxa, Xuxa Park, Planeta Xuxa, TV Xuxa) era um dos principais espaços de divulgação de atrações popularescas na Rede Globo de Televisão.
É certo que hoje Xuxa é contratada pela Record, mas no tempo em que ela divulgava o "funk" ela era uma das estrelas máximas da Rede Globo e um dos símbolos do poder e prestígio da rede televisiva, influindo no comportamento do público infanto-juvenil, que, pelos interesses da corporação midiática e seus anunciantes, tinha que antecipar a adolescência na infância para estimular o consumismo. Os críticos acusavam Xuxa de erotizar e mercantilizar as crianças, na época.
Não devemos nos esquecer que o Caldeirão do Huck também foi outro responsável pela popularização do "funk", a ponto da gíria "é o caldeirão" ser adotada como sinônimo de "é o máximo", aludindo ao programa do apresentador Luciano Huck, amigo de Aécio Neves e partidário do impeachment. Por causa de Huck, nomes como Mr. Catra ganharam visibilidade.
Além disso, Xuxa Meneghel também se manifestou em prol do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, cuja proposta de abertura de processo foi aprovada pela Câmara dos Deputados. Um deputado da Baixada Fluminense apontado (por Val Marchiori) como amante de uma "mulher-fruta" do "funk" votou SIM pelo impeachment.
Vamos então ao trecho da entrevista com DJ Tubarão. Que mostra que o suposto progressismo do "funk carioca" não passa de conversa para boi dormir, afinal o "funk" sempre apunhalou os esquerdistas pelas costas, comemorando suas conquistas, na hora H, abraçados aos barões da grande mídia.
Qual foi a importância de pessoas como Xuxa Meneghel e Carol Sampaio para o funk?
Eu costumo falar que existe um divisor de águas. O funk se divide entre antes e depois da Xuxa. O funk sempre foi um movimento forte, mas não era da classe consumista. Ele era da periferia. Depois que a gente fez o programa da Xuxa na Globo, que eu fui convidado através do DJ Marlboro, ela vira e fala: “Sou funkeira mesmo. Quem gostar, gosta, quem não gostar…”. Isso aconteceu em 1994 e foi um divisor de águas.
Então Xuxa nacionalizou o funk?
Com certeza que ali foi o pontapé inicial porque outras pessoas passaram a olhar o funk com outra cara. Foi aí que começou a surgir o funk nas boates. Marlboro e eu começamos a fazer baile, eu na Circus… E a Carol Sampaio hoje com o ‘Baile da Favorita’ expandiu mais o funk.
Você não acha que a Carol fez com que a elite passasse a gostar do funk?
O pessoal sempre gostou de funk. Eu sempre toquei em casamento e aniversário de celebridades muito antes de existir o ‘Baile da Favorita’. Todo aniversário da Carol tinha show com MC Marcinho, MC Sapão, sempre teve DJ Marlboro e DJ Tubarão. Um dia ela me ligou falando: ‘Estou com a ideia de fazer o Baile da Favorita’. No segundo baile já foi aquela coisa avassaladora. Daí em diante, ela trouxe a alta sociedade para curtir o baile funk. Você passa na pista, olha para o lado e vê a Carol Castro dançando. Olha para o outro lado está a Juliana Paes no camarote. É aquela coisa de todo mundo misturado.
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