A crise na música brasileira não existe?
Tudo está em alta, porque qualquer maluco com um sâmpler e um chip faz uma coisa qualquer nota?
Enquanto as pessoas fazem vista grossa a isso, mais gente analisa o cenário musical com realismo.
Desta vez foi Samuel Rosa, vocalista e guitarrista do Skank, que resolveu falar a respeito.
Ele até admite que as novas tecnologias e a Internet facilitaram o consumo de música.
Mas avisou que o ato de ouvir música tornou-se mais "grosseiro".
"É como se as pessoas voltassem a comer com as mãos. Um álbum precisa ser degustado. O Clube da Esquina, por exemplo, tem que ser ouvido de cabo a rabo", disse Samuel.
Ele ainda acrescentou sobre a tão conhecida falta de hábito dos brasileiros em tirar um tempo para realmente ouvir música: "As pessoas precisam criar espaço na agenda delas para ouvir música. Está tudo superficial. Estamos na época dos surfistas e não dos mergulhadores".
Isso desmascara aqueles loucos de traje hippie e cabelo crespo que prometem revolucionar a música com um sâmpler na mão e um chip na cabeça.
Realmente, há muita gente fazendo alguma coisa e tendo algum espaço de divulgação.
Mas a qualidade de muitos desses novos artistas é sofrível, só sendo menos ruim dos que os "populares demais" que dominam o brega-popularesco das rádios e redes de TV.
Até a pseudo-MPB dos antigos "pagodeiros" e "sertanejos" da Era Collor, com sua pretensa grandiloquência, consegue ser superada pelos inócuos "novos artistas" que prometem mudar o Brasil.
Mas isso não significa que eles sejam bons.
Até porque eles também não querem romper com o establishment brega reinante.
Pelo contrário, os robôs humanos multiconectados com o nada sentem uma complacência adesista ao brega, ao "funk" e a tantas bobagens musicais trazidas sob o rótulo do "popular".
Da mesma forma que as patricinhas supertransadas que prometem revolucionar a MPB com pastiche de Jovem Guarda com letras "confessionais", que não resistem a um trio elétrico de axé-music para lhe oferecer visibilidade.
A propósito, o parceiro de Samuel Rosa também deu seu comentário sobre o brega-popularesco.
Lô Borges, o experiente co-fundador (com Milton Nascimento) do Clube da Esquina, tentou ser educado sobre o direito das pessoas cantarem o que lhe convém, mas mesmo assim arriscou uma crítica.
"Não conheço a música ("Tá Tranquilo, Tá Favorável", do MC Bin Laden). O título é simpático, mas soa como algo que não presta. Acho que cada um deve cantar e tocar o que lhe convém. A diversidade musical serve para diferenciar e juntar as pessoas", disse.
Evidentemente, a crise na música brasileira é um fato que não deve ser ignorado.
Há coisas de qualidade duvidosa, em tese "válidas", mas soam como uma diarreia artística.
Outras, mais medianas, são apenas promessas nunca cumpridas de renovação musical.
Felizmente, supera-se a condescendência forçada imposta por uma elite de intelectuais badalados, os intelectuais "bacanas".
Eles queriam que aceitemos a diarreia musical com a desculpa do "combate ao preconceito".
Passaram uma década pregando isso, se aproveitando do monopólio da visibilidade.
Não havia gente a fazer contraponto com uma projeção equiparada a esses jornalistas culturais, acadêmicos e cineastas.
Hoje, felizmente, isso foi rompido. E hoje analisa-se a crise musical com isenção.
Isso é que é combater o preconceito. Não é ficar aceitando porcarias fazerem sucesso.
Diante do comercialismo voraz que a intelectualidade "bacana" ajudou a crescer, cabe retomarmos o debate perdido pelo medo de enfrentarmos os "bacaninhas" da intelligentzia.
E agora assumimos a situação de um Brasil que não costuma ouvir música direito, assimilando tudo às pressas e sem profundidade.
É esse superficialismo que Samuel Rosa conta que bloqueia a renovação musical.
Todos ouvem tudo, mas poucos são capazes de sentir alguma melodia.
O "corpo" musical acaba prevalecendo, em detrimento da "alma".
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