A crise cultural existe no Brasil.
Mas muitos se recusam a ver.
Alegam que muito dinheiro está circulando e muita gente está fazendo alguma coisa, em uma infinitude de espaços.
Querem dizer que não há crise usando a quantidade como pretexto.
O problema não é quantidade. Se for assim, teríamos uma fartura de artistas.
Mas o que se vê é que a maioria é medíocre ou, quando muito, mediana.
Pessoas até bem informadas culturalmente, mas incapazes de digeri-las de forma criativa e inovadora.
Temos sempre aquele padrão de "vanguarda" que a imprensa musical repetidamente descreve na Internet.
Sempre aquele papo; cantores alucinados, cantoras provocadoras, grupos hilários etc.
Os mesmos esquisitos da moda, que no entanto mostram repertórios mornos e convencionais.
Há os escritores que mais parecem escrever para si mesmos e montar um dicionário de gírias da moda.
Isso fora os modismos como Minecraft e livros para colorir que empastelam o mercado literário.
Ou as peças de teatro que são franquias da Disney.
Ou as comédias americanizadas do cinema.
A crise cultural está aí e as pessoas arrumam desculpa para dizer que ela não existe.
Acham que se tem um monte de espaços para um monte de artistas e um monte de ideias.
Mas o problema é que não temos mais cultura alternativa, mas feudos culturais que mais parecem uma repetição do mainstream.
Não temos mais cultura independente, mas versões mirins das grandes gravadoras, que só têm estrutura minúscula, mas o apetite de lucro, mesmo enrustido, existe e é forte.
E se tem um monte de gente fazendo, o problema é que eles tocam para poucos.
Ou, se tocam para muitos, são depois esquecidos.
Não há um que desafie o mainstream imbecilizante do brega-popularesco.
A gente boa da cultura que surge, seja no teatro, na literatura, na música, no cinema, precisa fazer alguma concessão, a mínima que seja, para o establishment.
Temos um comercialismo voraz que praticamente transformou o mainstream em algo chato e maçante.
E temos um suposto cenário alternativo em que as pessoas estão mais preocupadas em provocar ou dizer que possuem uma "salada" de referenciais culturais.
Uma ideia na mão e um computador na cabeça.
As pessoas ficam maravilhadas, mas o resultado é quase sempre insosso.
Afinal, vivemos sob o signo da Idade Mídia.
Com feudos, maçonarias, e um monte de gente tocando para muito pouca gente.
Ou, quando toca para muitos, caem no esquecimento.
Enquanto isso, o mainstream anda imbecilizando o país.
A crise está aí, não há como negar. Relativizar não ajuda a resolver essa crise.
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