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CRACOLÂNDIA, CONFLITOS DE TERRA E A VIOLÊNCIA CARIOCA


Nunca as classes populares sofreram tanto no governo Michel Temer.

Nem deu para criar uma ilusão de prosperidade, apesar de pessoas de classe média no Sul e Sudeste parecerem mais felizes com a saída do PT do governo.

A crença de que políticos e tecnocratas considerados "moderados", "imparciais" e "responsáveis" iriam tomar o poder até tentou se firmar como uma pretensa realidade.

Mas os escândalos políticos transformaram essa crença em ilusão.

E "velhos fantasmas" tão conhecidos do período ditatorial vieram à tona.

Como os conflitos de terras no interior do país, um longo drama de tragédias intensas, em quantidade e gravidade.

Em Mato Grosso, num assentamento em Colniza, em abril passado, pistoleiros teriam atirado em vários trabalhadores, causando nove mortes.

Já no município de Pau d'Arco, no interior do Pará, policiais mataram um grupo de colonos suspeitos de terem matado um vigilante de fazenda.

Consta-se que os policiais invadiram o local atirando, como se fossem bandoleiros entrando numa cidade num filme de faroeste.

E tudo isso ocorre quando já existem propostas de vender terras do interior do Brasil e, sobretudo, da Amazônia, para grupos empresariais estrangeiros, criando, na prática, "territórios estrangeiros" dentro do solo brasileiro.

Enquanto isso, no Rio de Janeiro de muitos cidadãos felizes além da conta, a violência toma conta dos complexos do Alemão e da Maré.

Tratam-se de duas grandes áreas de favelas no caminho entre o Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) e o Centro carioca.

Nas últimas semanas, vários moradores morreram vítimas de balas perdidas, nestas áreas.

Hoje mesmo uma moradora morreu baleada, no Complexo do Alemão.

É muita violência para os cariocas médios saírem nas ruas como se estivessem caçando borboletas.

Infelizmente, os cariocas médios estão contribuindo para sofrerem chacotas do resto do país, na ironia do Rio de Janeiro ser o maior reduto de bullying e cyberbullying no Brasil.

Enquanto o Rio de Janeiro sofre de decadência cultural, crise de segurança, déficit financeiro e um antes inimaginável surto de provincianismo, os cariocas médios creem que ainda vivem nos "anos dourados".

São Paulo já teve situação semelhante, mas nos últimos anos não dava para esconder a sua decadência social.

Que Sampa sempre representou o conflito entre o cosmopolitismo e o provincianismo, isso é verdade.

Mas o provincianismo havia vencido desde os anos 1990.

Os governos do PSDB fizeram com que a cidade de São Paulo deixasse de ser a "cidade-modelo" do Brasil.

Como a turma de Eduardo Paes, Sérgio Cabral Filho etc fez com o Rio de Janeiro.

No caso de São Paulo, a onda neoconservadora apostou na imagem de "administrador" de João Dória Jr., um aristocrata sem carisma famoso por um programa de TV de baixa audiência.

Ele virou prefeito de São Paulo praticamente pela influência do governador Geraldo Alckmin, seu padrinho político.

E aí João Dória Jr., que adora se fantasiar de gari e se dizer "trabalhador", acabou cometendo um grande desastre ultimamente.

Depois dele transformar as avenidas marginais da capital paulista em pistas da morte, com a reaceleração das velocidades mínimas para os veículos, ele criou outra tragédia, com a repressão à Cracolândia.

Sabe-se que havia um reduto de usuários de crack no quarteirão entre a Av. Duque de Caxias, a Rua Helvétia e as alamedas Barão de Piracicaba e Cleveland. Era a chamada Cracolândia.

Desde a gestão de Fernando Haddad, havia programas sociais que tentavam, aos poucos, ressocializar os viciados em crack, estimulando-os a largar o vício aos poucos, numa recuperação social mais segura, voluntária e sem traumas.

De repente, João Dória Jr., conhecido como prefake (neologismo que mistura a expressão "prefeito" e o termo inglês fake, "falso"), ordenou uma repressão policial para desfazer a Cracolândia.

Pontos de venda eram destruídos, o comércio local era reprimido e os viciados expulsos do local.

Resultado: todo mundo foi arranjar outro local. E viram na Praça Princesa Isabel, localizada junto a uma área residencial, como um novo reduto de consumo de crack.

Isso causou problemas para os moradores do entorno da praça, que agora evitam sair à noite, e, mesmo assim, saem no período diurno com o máximo de cautela.

Na repressão policial na Cracolândia, os expulsos ainda reagiram saqueando as lojas das proximidades.

Esse foi o preço dos paulistanos acreditarem nas fantasias da Era Temer de eleger políticos associados aos mitos de "austeridade", "competência" e "eficiência".

Levaram gato por lebre e agora têm que aturar a "gestão" desastrosa de "João Dólar".

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