O clima de luto que se observou nos telejornais da Rede Globo hoje de manhã foi notório.
Os semblantes cansados, tristes, melancólicos.
Muito diferentes do clima de alegria de um ano atrás, quando Michel Temer assumiu o poder tendo nas mãos o receituário do rival de chapa eleitoral de 2014, Aécio Neves.
Temer chegou até a nomear o vice de Aécio, Aloysio Nunes Ferreira, como ministro das Relações Exteriores, substituindo José Serra, depois que este cumpriu as negociações sobre a entrega de parte do espólio da Petrobras para as "grandes irmãs" do petróleo.
Pois o motivo da melancolia é este: o Supremo Tribunal Federal mandou afastar do mandato de senador o presidente nacional do PSDB.
Aécio Neves já andava desacreditado por causa das pressões na Internet.
Até pouco tempo atrás, ele era blindado como se fosse mais "santo" do que o "santo da Odebrecht", seu colega de partido e ocasional rival de ambições políticas, o governador paulista Geraldo Alckmin.
Mas foi só a divulgação do depoimento dos irmãos Joesley e Wesley Batista, empresários da JBS, afirmar que Aécio recebeu R$ 2 milhões, que foram depois depositados para Zezé "Helicoca" Perrella, para o neto de Tancredo Neves cair das nuvens.
Recebe-se a notícia de que a irmã de Aécio, Andrea Neves, sócia de muitas empreitadas do senador, foi presa em sua casa, em Belo Horizonte.
Ela teria envolvimento na propina que o irmão pediu à JBS.
Chegou-se a dizer que Andrea estava em Londres e a Interpol chegou a ser acionada, mas a PF prendeu a irmã de Aécio na capital mineira.
O episódio caiu como uma bomba, e representou o fim dos sonhos do neto de Tancredo.
Tancredo Neves, sabe-se, foi ministro da Justiça de Getúlio Vargas e estava no Palácio do Catete, antiga sede da República, no Rio de Janeiro, quando o presidente se suicidou em 1954.
Depois, em 1961, Tancredo foi nomeado primeiro-ministro da fase parlamentarista do governo João Goulart, solução feita como condição para os anti-janguistas aceitarem Jango no poder.
Um dos poucos políticos poupados pela ditadura militar, Tancredo chegou a ser eleito, em eleição indireta no Congresso Nacional em 1984, presidente da República.
Não pôde sequer ser empossado, pois Tancredo adoeceu gravemente e morreu, ironicamente, num 21 de abril de 1985, ofuscando até uma vitória de Ayrton Senna numa corrida de Fórmula 1.
O neto de Tancredo, Aécio Neves, nasceu 11 dias antes de Ayrton e 17 antes de Renato Russo.
Queria ter o carisma dos dois, estes já falecidos. e queria ser o líder político que seu avô não pôde ser.
Mas Aécio "morreu" atropelado não por uma curva de corrida, mas por uma delação de um empresário baiano.
Aécio foi afastado do cargo de senador, sua irmã foi presa, e existe um mandado de prisão de Rodrigo Janot, que no momento de digitação deste texto está ainda sob apreciação do STF.
A notícia caiu como uma bomba, numa semana em que a grande mídia esperava que o ex-presidente Lula fosse finalmente preso.
Evidentemente que a queda de Aécio Neves não representa, ainda, uma esperança para o PT voltar ao poder, até porque, a essas alturas, a plutocracia, com o orgulho ferido, quer "sangue".
E Aécio ainda tem as suas residências em Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte sendo vasculhadas pela Polícia Federal.
Além de Aécio Neves, foi afastado o deputado federal e peemedebista paranaense Rocha Loures, um dos braços-direitos do presidente Michel Temer.
Aécio e Loures são alvos de busca e apreensão da Polícia Federal, além do senador Zezé Perrella e do ex-assessor da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), Altair Alves, considerado um dos homens de confiança do ex-deputado Eduardo Cunha.
E isso parece ser o começo. O Titanic da plutocracia só está sofrendo os primeiros efeitos do desastre.
O presidente Michel Temer tenta suas últimas poses do "grande líder" que nunca foi.
Ele disse que não cogita renunciar e que acredita que governará até o fim. Temer também tentou negar as acusações dos donos da JBS, sem sucesso.
Temer é acusado de pedir para a JBS pagar Eduardo Cunha e o operador financeiro Lúcio Funaro para eles não fazerem delação premiada.
Joesley afirmou ter gravações com Temer dizendo para "ficar assim", com Cunha e Funaro calados.
O Brasil anoiteceu com o governo Michel Temer sangrando e amanheceu com Aécio no mesmo estado.
Isso ainda não é garantia de volta das forças progressistas ao poder.
Há muito chão pela frente e o Brasil continua numa situação bastante complicada.
Só o fato da sujeira ser identificada não significa que a barra está limpa.
O momento ainda é de apreensão. Não sabemos o que vai acontecer após a queda de Temer e Aécio.
Ainda há o risco de Lula também ser preso.
Muita coisa vai acontecer ainda, mas o momento é de cautela.
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