Era uma vez, um período em que as elites econômicas ricas, os políticos conservadores e os cidadãos mais reacionários retomaram o poder, com apetite nunca visto antes.
Um apetite maior que a fome, diga-se de passagem.
Uma classe que quis institucionalizar seus vícios e omissões, promovendo graves retrocessos sociais.
A desculpa era a crise econômica, a qual botaram a culpa em Dilma Rousseff, mas na verdade foi provocada mundialmente pelo capitalismo internacional.
Eles combinavam uma suposta perspectiva de prosperidade social com a eliminação das conquistas sociais das classes populares.
Esfregavam seus corpos suados, em passeatas "contra a corrupção", com a bandeira brasileira, mas defendiam que o país entregasse suas riquezas todas para os estrangeiros.
Os tempos eram sombrios mas a chamada "sociedade do bem" parecia com uma felicidade além da conta.
A fúria despejada contra Dilma se converteu numa apática aceitação do poder nada carismático de Michel Temer, um verdadeiro canastrão político.
O empresariado, incluindo os chamados barões da grande mídia, retomaram o seu protagonismo.
E, de repente, propostas amargas, que antes eram fruto do descaso de empresários e políticos, passaram a ser defendidas como "projetos de lei" ou "emendas constitucionais".
O congelamento das verbas públicas para Educação, Saúde e outros setores, antes uma omissão tradicional do poder público, passou a ser lei por meio de emenda na Constituição Federal.
As reformas trabalhistas e previdenciárias também trarão vários malefícios que patrões e governantes antes faziam na surdina.
A terceirização generalizada, que transforma o trabalhador numa "mão-de-obra de aluguel", é um exemplo. Como nos demais itens da reforma trabalhista.
Combina-se, no terrível pacote, trabalho temporário, trabalho informal, escravidão, salários atrasados, e isso quando há salários.
Um dos entusiastas destes novos velhos tempos é Flávio Rocha, dono da rede de lojas de roupas Riachuelo.
Ele apareceu na capa da edição da revista Forbes de abril passado forjando bom-mocismo, enquanto a chamada o definia como "o empresário cidadão".
A Riachuelo está dentro do "espírito do tempo" de empresas "modernas" que escondem históricos sombrios de exploração desumana de mão-de-obra, a chamada "escravidão moderna".
Certa vez, a Riachuelo obrigou uma funcionária a costurar zíperes e outras peças de calças em tempo recorde, num ritmo desgastante.
Por trás das propagandas "modernas" e da "arrojada" marca da Riachuelo, "RCHLO", Flávio Rocha defendia entusiasmadamente a terceirização a ponto de cobrar do presidente Temer a aprovação das tais reformas.
Flávio, apesar de ser oriundo do Nordeste brasileiro, nascido em Recife, parece pensar como sulistas e sudestinos que embarcam nesse Titanic político reacionário implantado em 2016.
Ele atacou o governo Dilma Rousseff e comemorou o fim da Era Lula-Dilma como o "fim do Estado Robin Hood".
Além disso, Flávio deu uma indireta nas classes trabalhadoras, como um típico representante do mais austero patronato.
No seu perfil do Twitter, Flávio Rocha escreveu o seguinte:
"Não se trata de capital x trabalho. Nem ricos x pobres, nem negros x brancos. O conflito que divide o Brasil, é entre PRODUTIVOS x PARASITAS".
Sob o ponto de vista do patronato, "produtivo" é o trabalhador que tem carga horária excessiva, faz mais tarefas em menos tempo e ganha menos salários.
Ou, da parte do empresariado, "produtivo" é aquele empreendedor que não está disposto a gastar mais com mão-de-obra, não tolera processos trabalhistas e quer dar menos encargos e outras obrigações para seus empregados.
É um estado de espírito de uma fase tenebrosa, na qual injustiças sociais, hipocrisias humanas e elitismo selvagem garantiam a suposta felicidade de uma parcela de brasileiros.
Um pesadelo que se vendia como se fosse um "sonho dourado".
Se não fossem os sucessivos escândalos, das revelações diversas que vinham de Romero Jucá a Joesley Batista, talvez a historiografia oficial definiria a Era Temer como "um dos momentos mais felizes vividos pelo povo brasileiro".
Uma visão hipócrita, mentirosa, mas que seria amplamente difundida pela grande mídia, que fez o possível para apoiar o governo Temer e tentar fazê-lo se tornar "popular".
Mas as elites estavam tomadas de tantas confusões, brigas, reacionarismos e tantos e tantos e tantos erros, que não dava para definir a Era Temer como "tempos felizes".
Os "tempos felizes" da Era Temer se limitaram a ser apenas uma ficção transmitida pelos noticiários da grande mídia, cada vez mais se assemelhando com as páginas de fake news, por sinal bastante reacionárias em sua maioria esmagadora.
O período do governo Temer foi marcado por confusões, contradições, omissões etc.
Será definido, na posteridade, como um cenário político bastante desastroso.
Michel Temer tenta mexer as peças do jogo para tentar se manter no poder e não ser cassado pelo TSE por conta do caso das irregularidades da chama Dilma-Temer de 2014.
Mas ele está politicamente isolado.
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