Eu havia escrito que os reacionários, no Brasil, são bons em festa, mas ruins de ressaca.
E a ressaca da onda bolsonarista tornou-se bastante dolorosa.
No domingo, 28, quando, em minha casa, em Niterói, as urnas estavam na faixa de 88%, 92%, já havia um clima de expectativa quando Jair Bolsonaro tornou-se o favorito no segundo turno.
As pessoas estavam gritando palavras como "Bolsonaro" e "mito", tão extasiadas.
Um outro local estava tocando "Macho Man", do Village People, música que eu e meu irmão, nos nossos papos de humor, definíamos como o tema dos bolsomínions, pela "virilidade" desses machões tendência Alexandre Frota.
Nasci num 21 de março, também me chamo Alexandre e minha terra natal é um grande reduto bolsonarista chamado Florianópolis. No entanto, votei em Fernando Haddad nos dois turnos.
Na ocasião, fiquei perplexo quando as pessoas gritaram, como se fosse fim de campeonato, com suas cornetas, a vitória de Bolsonaro.
Um vídeo mostrou carros do exército desfilando com militares fardados e armados diante de aplausos e gritos entusiasmados da população niteroiense, na Rua Miguel de Frias, próxima à reitoria da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Perdi o sono e fiquei bastante preocupado, embora, estranhamente, todo o estardalhaço parou, de repente.
Os bolsonaristas foram dormir tranquilos. Achavam que uma "nova era" viria para o Brasil, com um momento de "mudança pra valer".
Só que tudo foi fogo de palha. Nem os ataques bolsonaristas repercutiram. Um grupo de supostos nerds (diria NERFS) tentou meter medo numa aparição na USP e agora estão sendo investigados.
VINGANÇA DOS NERFS.
Foi na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo.
Armados, os rapazes usavam diversas referências, como Donald Trump, o ditador Kim Jong-Um, a Bandeira de Gladsen (ligada à extrema-direita estadunidense) e embalagens de cerveja Pitu.
Eles estavam armados e, na mesa, exibiam mensagens como "está com medo, petista safada?" e "a nova era está chegando".
Na lousa, os quatro patetas deixaram escrita a expressão B17, referente ao número de inscrição partidária do PSL de Jair Bolsonaro.
Eles estão sendo alvos de uma sindicância na USP. É bom os bolsomínions jair se acostumando com seu inferno astral, com seu suicídio de reputação.
Na USP, várias garotas se deram as mãos para anunciar que vai ter resistência.
Na Universidade de Brasília, bolsonaristas foram expulsos por uma multidão de universitários.
Na terça-feira, uma grande passeata na Av. Paulista, em direção ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), anunciou-se como o primeiro grande protesto contra o presidente Bolsonaro, que não tomou posse ainda, mas já causa muito barulho.
Também houve protesto no Rio de Janeiro e em algumas outras capitais.
Enquanto isso, Jair Bolsonaro lembra Fernando Collor na montagem de seu ministério de "notáveis".
Tentando parecer que mostra serviço, Jair anunciou que terá, no máximo, 16 ministérios.
As igrejas evangélicas pentecostais deveriam seguir o exemplo, porque elas têm excesso de "ministérios".
Bolsonaro recebeu um representante do Departamento de Estado dos EUA, como queridinho de titio Samuca que o "mito" é, com gosto.
Tentando agradar seu fã-clube, Bolsonaro já articulou seu ministério com uma velocidade de um tigre.
Além de oficializar Paulo Guedes como titular de um "superministério" da Economia (que substituirá Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio.
As várias fusões dos ministérios trarão ainda a das pastas da Agricultura e Meio-Ambiente, submetendo a área ambiental aos ruralistas.
O esquecido astronauta Marcos Pontes foi designado para a Ciência e Tecnologia. Ele aceitou no ato.
Onyx Lorenzoni, outro esquecido, que sumiu de cena após admitir que recebeu propina de R$ 100 mil da JBS, e era um dos astros do "Fora, Dilma", foi escolhido para comandar a Casa Civil.
Jair Bolsonaro desistiu de ter em sua equipe Alberto Fraga, que iria para a Secretaria de Governo da Presidência da República.
Bolsonaro chegou a dizer, em vídeo: "Já anuncio aqui que quem vai coordenar a bancada no Planalto vai ser o Fraga".
Ao saber que Fraga é condenado, ainda em primeira instância, pela acusação de pedir R$ 350 mil em propina a cooperativas de transporte, em 2008, quando era secretário de Transportes do governo José Roberto Arruda, Bolsonaro disse que não vai escolher "ministro condenado por corrupção".
A pendência, marcada para ser resolvida hoje, está em torno do juiz Sérgio Moro. Ele mesmo, o astro maior da Operação Lava Jato.
O juiz paranaense foi convidado por Bolsonaro para optar entre dois cargos: o de ministro da Justiça ou o de ministro membro do Supremo Tribunal Federal.
Sérgio Moro agradeceu o convite e sinalizou aceitá-lo, mas pediu para Jair um tempo para reflexão e discussão. Hoje os dois vão acertar o destino de Moro no governo do "mito".
A defesa do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva está bastante atenta neste caso.
O casal Cristiano Zanin e Valeska Zanin acompanham este acontecimento para colher informações para enviar à ONU, como provas da parcialidade de Sérgio Moro.
Levando em conta uma comparação do cronista esportivo Juca Kfouri, Sérgio Moro desclassificou, sem motivo, um time (o Partido dos Trabalhadores, PT), deu cartão vermelho (desculpe o trocadilho) a Lula e deu a vitória ao time adversário (os golpistas de 2016).
Depois, esse time adversário premiou o juiz com uma oferta para escolher um de dois cargos estratégicos no governo de Bolsonaro. Foi como se este time o chamasse para participar do conselho administrativo do clube.
O que se observa no governo Bolsonaro é que ele terá que se conter.
Não há contexto para um governo fascista que ele tanto sonhava e sugeria fazer. Para manter o aparato democrático, ele tem que se conter.
Os bolsonaristas estão recebendo cobranças diversas. Os bolsomínions têm até que se conter na violência digital, moral ou física, se não quiserem matar suas reputações e virarem vidraça na sociedade.
Um bolsonarista do Piauí, Rodrigo Magalhães, foi desafiar um policial militar para um duelo e foi morto depois de recusar a entregar sua arma e fazer gozações e ameaças.
A princípio, os bolsonaristas em geral, a partir do próprio presidente eleito, precisavam se conter para tentar justificar a forma democrática que o levou ao poder.
Foi um jogo sujo, é claro, movido por fake news e outros artifícios. E ainda por cima com a comunidade internacional, de Roger Waters à Anistia Internacional, fazendo marcação cerrada.
Até a China advertiu que, se Bolsonaro imitar Donald Trump no seu projeto político, a crise se agravará e o Brasil pagará um preço muito caro com isso.
Enquanto isso, há os bolsonaristas melancólicos, como os que há muito no Grande Rio, porque votaram em Jair Bolsonaro como "experiência", torcendo para que "tudo melhore com ele".
Votaram às escuras, sem saber coisa alguma, movidos apenas por dois motivos: a aversão ao PT e o desejo de segurança pública.
Mais realistas estão os bolsonaristas arrependidos, que até o dia 28 de outubro achavam que Jair representava o "novo" e a "mudança pra valer".
É certo que eles erraram tarde demais, pois deveriam ter evitado transformar a urna eletrônica num saco de vômito.
Agora eles têm que pagar pela festa, mas é interessante ver que estão desiludidos.
Há várias comunidades nas redes sociais de bolsomínions arrependidos. Só falta surgir a Associação dos Bolsonaristas Anônimos, para completar o rol de desilusões.
Em todo caso, tem-se o próximo dia 02 para chorar o que foi feito no último domingo.
Realmente a ressaca anda muito dolorosa.
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