Fiquei doente quando, da volta de uma caminhada, refleti com aflição diante da promessa de que o governo Jair Bolsonaro será um "longo reinado".
Foi vendo a primeira página do Jornal do Brasil impresso, nas bancas de Niterói, e vendo a chamada da coluna de Teresa Cruvinel.
Tossi, tive febre, fiquei de repouso, e ontem não pus postagem no blogue. Sério.
É uma aflição muito grande, porque o país ruma para tantos retrocessos.
Jair Bolsonaro é apenas o showman do espetáculo, mas conta com muitos articuladores.
O principal de seus três filhos políticos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, tornou-se um articulador político ambicioso, a comandar o movimento Cúpula Conservadora.
Ela será o extremo oposto do Foro de São Paulo, que foi o movimento de nações progressistas latino-americanas que permitiu as experiências na Venezuela, Bolívia e Brasil.
Hoje há um desmonte em tudo isso, de um ritmo assustador.
A arrogância dos extremo-direitistas quer até que se sacrifique a realidade e a lógica dos fatos para prevalecer as convicções pessoais do chamado 1% dos ricos.
Noto que os conservadores surtaram, ficaram mais alucinados.
No passado, conservadores poderiam ser elitistas, criminosos, corruptos.
Mas eles os faziam com um mínimo de compostura. Jornalistas reacionários até interpretavam levianamente os fatos, mas evitavam produzir mentiras tão descaradas.
Hoje fala-se que até o aquecimento global foi um blefe montado por "comunistas".
E Fernando Haddad, o presidenciável derrotado no segundo turno, vive seu inferno astral desmerecido.
Ele virou réu por suposto esquema de corrupção envolvendo a empreiteira UTC, numa denúncia que o Judiciário acatou de forma cínica, sabendo da inexistência de provas.
Como se não bastasse, Haddad teve um prejuízo de R$ 3,8 milhões em sua campanha.
É triste ver que o candidato derrotado está incluído nessa caça às bruxas.
Será uma revanche pela vitória apertada, já que Jair Bolsonaro esperava que ganhasse com larga vantagem?
Ele esperava ganhar no primeiro turno, mas mesmo a vitória apertada no segundo turno lhe garantiu o prazer sádico.
Afinal, foi como se conseguisse arrombar a porta à força, depois de muito esforço.
Agora, a agenda bolsonarista segue em uma louca cavalgada.
A equipe de governo está sendo montada com relativa celeridade.
Paulo Guedes já colocou seus colegas para chefiar o Banco Central e a Petrobras, e foi criada a Secretaria de Privatizações para vender nossas riquezas para empresas estrangeiras.
A BR Distribuidora, visada no governo Michel Temer, será em breve extinta, porque é certo que o governo Jair Bolsonaro irá incluir a subsidiária da Petrobras na privatização "gradual" da estatal.
A privatização vai trazer uma série de prejuízos.
Diante do cartel das petroleiras gringas, a BR Distribuidora era a única a desafiá-las na concorrência pelo menor preço.
Os motoristas pobres sairão prejudicados com o aumento disparado dos combustíveis, sobretudo gasolina. E os preços dos serviços e produtos aumentarão, pressionados pelos combustíveis, que influem nos transportes de produtos e deslocamentos diversos.
Além disso, com a outra etapa, a venda de refinarias, sobretudo as de pré-sal (cobiçadíssimas pelos gringos), será extinto o fundo social, já proposto no Senado.
Isso significa que o lucro do pré-sal não servirá mais para serviços públicos de Educação e Saúde, entre outros benefícios, já afetados com o congelamento de gastos públicos.
Há ainda outros retrocessos em marcha, como a conclusão da reforma previdenciária e a "consolidação" (note a ironia) da reforma trabalhista.
E há a tenebrosa Escola Sem Partido, que mais parece Escola Com Mordaça.
Será um pesadelo sem limites, ainda mais quando se vê o ex-presidente Lula envelhecido na prisão, sem chance de ser solto.
No seu depoimento para o caso do sítio de Atibaia, ele estava mais envelhecido para seus 73 anos de idade.
Com razão: nunca na História deste país um grande líder foi tão desmoralizado, alvo de campanha tão difamatória, ofensiva e humilhante.
Com essas perspectivas, aliás, não dá para não ficar abatido.
Ainda estou em convalescença, tossindo um pouco, mas estou melhor e sem febre.
A combinação de estresse, apreensão e tristeza profunda podem causar doenças, dependendo do caso.
Espero que eu não fique mais doente por conta desse cenário político.
Afinal, não se sabe se o governo Bolsonaro é um caminho sem volta, porque as elites também podem ser surpreendidas pelas circunstâncias repentinas.
Do naufrágio do Titanic aos incêndios na Califórnia, as elites também vivem seus infortúnios.
Não é bom. Mas em certos casos, como na retomada reacionária brasileira, talvez fosse preciso que os neomedievais que estão no poder encarem suas adversidades.
O tempo dirá.
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