Por breves momentos, o governo Jair Bolsonaro quase conseguiu minimizar sua tragicomédia de erros, a menos de dez semanas de se iniciar.
Cogitou-se a escolha de Mozart Neves, ligado a Vivianne Senna, irmã de Ayrton Senna e responsável pelo instituto com o nome do falecido corredor, que tinha um perfil mais técnico.
Por ser contrário a Escola Sem Partido, a trevosa proposta pedagógica a ser votada no Congresso Nacional na próxima quinta-feira, Mozart foi descartado.
E aí foi escolhido o colombiano naturalizado brasileiro, Ricardo Veléz Rodriguez, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, da cidade onde, ironicamente, o presidente eleito sofreu um atentado.
Isso porque ele é anti-marxista convicto, ultraconservador de carteirinha e que pretende proibir o debate sobre "ideologia de gênero" nas escolas em geral.
Dois dados surreais.
A exemplo do "diplomata" Ernesto Araújo, o lunático futuro ministro das Relações Exteriores que disse que o aquecimento global é uma "invenção marxista", Ricardo é indicação do lunático Olavo de Carvalho, que até sua filha o considera um insano.
Olavo é um pseudofilósofo - costumava, por ironia, definir "fisólofo" - que vive recluso mas anda nas redes sociais espalhando mentiras de apelo reacionário, se tornando um estranho ídolo entre muitos jovens reaças que atuam nas redes sociais.
É dose ver que um sujeito desses é influente num público jovem e num governo que se autoproclama o "novo", mas se revela nada mais do que uma continuidade mais radicalizada do governo Michel Temer.
Olavo de Carvalho ainda vive no Século XII, e tenta escravizar o futuro aos horizontes mofados e apodrecidos de seu tempo.
E aí temos duas indicações, que podem destruir o Brasil tanto quanto o trator privatizante de Paulo Guedes e sua turminha de "chicagões".
Ernesto Araújo vai comandar um desastre diplomático, marcado pelo preconceito contra países fora do eixo rico ocidental, atuando contra o Mercosul e os países árabes, entre outros.
Será um trabalho ideologizado e ainda mais caótico do que o do reacionário Aloysio Nunes Ferreira e do grotesco José Serra, porque estes, por pior que sejam, são "mais profissionais" em suas artimanhas.
Ricardo Velez pretende arruinar a Educação, retomando os padrões de 1940 descontando a transmissão do verdadeiro saber.
As pessoas aprenderão a ler, escrever e trabalhar, mas não a pensar. Só tem que "pensar" dentro da rota definida por Olavo de Carvalho, família Bolsonaro, MBL e afins.
A respeito da Escola Sem Partido, um manifesto de mais de 150 entidades estrangeiras, incluindo vários relatores da Organização das Nações Unidas, declarou repúdio à proposta.
O manifesto foi aprovado na 6ª Assembleia Mundial da Campanha Global da Educação, realizada no Nepal.
A aprovação foi unânime e inclui membros e entidades de vários países, como EUA, Holanda, Reino Unido, Suíça, entre outros.
"Como estratégia política, os agentes promotores do ultraconservadorismo têm incentivado a censura a professoras e professores por parte de estudantes e famílias, prática que tem se tornado cada vez mais frequente", destaca o documento.
A Escola Sem Partido estará a serviço do fundamentalismo religioso e se servirá do método macartista de permitir que alunos gravem as aulas pelo celular e denunciem professores que estivessem apresentando pautas mais críticas da realidade brasileira.
Sofrendo da "projeção psicológica", síndrome que domina os reacionários brasileiros, a Escola Sem Partido diz querer combater a "doutrinação ideológica".
Mas quem fará doutrinação ideológica é a própria Escola Sem Partido, proibindo o debate sobre a realidade, mas permitindo a prevalência de delírios religiosos surreais.
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