Nesses tempos difíceis em que vivemos, precisamos rever os conceitos de caridade.
O que se conhece como "caridade" tem mais o foco no benfeitor do que nos necessitados.
Nem mesmo as esquerdas sabem o que é mesmo a "caridade".
Ela tem uma abordagem espetacularizada, um apelo publicitário, uma roupagem institucional.
Isso não é bom, e ficamos refletindo isso diante do plano do governo Jair Bolsonaro de privatizar estatais e vender boas fatias de nossas riquezas para empresas estrangeiras.
Estatais como a Petrobras repassavam uma parte de seu lucro para investimentos sociais, envolvendo Educação e Saúde públicas.
Serviços gratuitos de Educação e Saúde para o bem-estar da população carente eram contemplados com tais verbas.
Com as privatizações, isso acaba. Embora, aparentemente, fosse possível que empresas privadas, mesmo de origem estrangeira, invistam em "projetos sociais" que, em tese, são voltados à população carente.
Suponhamos que uma das petroleiras estrangeiras venha com um projeto filantrópico.
Será uma quantia modesta de investimentos, as ações serão eventuais, e a preocupação estará mais focalizada com a imagem publicitária da empresa.
Haverá gastos com ações sociais, mas haverá mais gastos em publicidade, e o foco central na imagem da empresa terá prioridade.
Eu larguei o Espiritismo que é feito no Brasil porque, entre outras coisas, seu projeto de "caridade" é paliativo e de ações paternalistas consideradas de limitado e baixo efeito social.
Festeja-se mais as ações associadas aos tais "médiuns", embora na verdade não são eles que ajudam.
Eles são apenas os "apresentadores" do espetáculo, mas não dão um centavo para os necessitados, cabendo apenas aos discípulos ajudarem com donativos e outras ações paliativas.
Seus resultados são corretos, porém medíocres. É festa demais para resultados tão mornos, que de modo nenhum fizeram diferença, pois o Brasil nunca atingiu patamares de desenvolvimento com essa "caridade" em que se comemora demais o pouco que se realiza.
As forças progressistas é que conseguem ir além de projetos educacionais mornos ou concessões de donativos.
Até achei o Bolsa-Família, durante anos, um projeto paliativo, mas depois que os resultados se tornaram amplificados, com famílias investindo em melhoria de vida, revi os conceitos.
Mas, apesar desse exemplo, mesmo as esquerdas ainda não conseguem diferir a suposta caridade que ajuda mais o benfeitor do que a caridade genuína que tem como foco os mais necessitados.
Não é simples explicar isso, porque há uma grande confusão das coisas, em que a emotividade cega só consegue fazer complicar.
Muita gente fica achando que a caridade paliativa de meros donativos ou o fato de apenas alojar pobres e doentes é, em si, "transformador".
Há uma série de aspectos diversos, que alongariam demais esta postagem.
Mas, pelo menos, no que se diz à pedagogia, a Escola Sem Partido responde à polêmica que um defensor de um "médium espírita" trouxe a respeito de um projeto pedagógico de uma instituição em Salvador, Bahia.
O sujeito havia lançado essa questão, exaltando seu ídolo religioso, numa comunidade de ateísmo nas redes sociais, na qual ele se tornou membro para tentar algum proselitismo religioso.
O devoto do "médium" achava "o máximo" um projeto pedagógico que só ensinava a ler, escrever e trabalhar.
Nesta polêmica, o devoto estava mais preocupado em endeusar o "médium" e pouco se preocupava com os necessitados, que "já são ajudados" por causa do prestígio religioso de seu ídolo.
Mas o projeto pedagógico segue a linha da Escola Sem Partido, na qual o preço da educação gratuita se dá por algum proselitismo religioso. Não sejamos ingênuos em creditar esse proselitismo, por sinal não-assumido, apenas ao ensino das "virtudes humanas" associadas a Jesus.
Há ideias místicas, fantasiosas, e há valores conservadores em jogo. No contexto da Escola Sem Partido, isso é compreensível, mas ela vai além dos círculos evangélicos, chegando, com gosto, aos chamados "espíritas".
E aí vemos que a ideia sobre o ato de ajudar alguém se torna complicada porque o foco é sempre institucional ou pessoal.
Imaginamos o ato de ajudar o próximo não como um altruísmo, mas como um meio de promover bom-mocismo para quem, em tese, decide ajudar.
Precisamos rever isso, porque, com essa ideia de "caridade" que temos, ficaremos mais preocupados com a imagem "boazinha" dos benfeitores, enquanto, por outro lado, desprezamos os necessitados que talvez nem sejam assim tão ajudados quando se parece.
Devemos terminar com a "caridade" que ajuda mais o benfeitor e nos preocuparmos realmente com os mais necessitados.
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