Pular para o conteúdo principal

MAIS UMA VEZ O PRAGMATISMO CARIOCA PAGA A CONTA


É lógico que o PMDB carioca hoje é, na verdade, um covil de "cachorros mortos" da política brasileira.

As prisões de vários membros do primeiro escalão do partido no Rio de Janeiro, incluindo Sérgio Cabral Filho e, ontem, o também ex-governador Luiz Fernando Pezão, em virtude da Operação Lava Jato, são feitas por critérios muito duvidosos, como é de praxe nesse processo.

É certo que também estão no embalo do desgaste político, independente de serem presos ou não, outros membros do cenário político de Cabral e companhia, que incluiu até os ex-PMDB Eduardo Paes e Carlos Roberto Osório.

Há muito o que questionar na incriminação ou denúncia desses políticos, não por eles serem figuras admiráveis, muito pelo contrário. É por causa da forma como eles são denunciados, investigados, presos ou condenados, feita ao arrepio dos princípios do Direito.

Dito isso, independente dessas questões o que se vê é que o PMDB carioca de dez anos atrás, símbolo do pragmatismo carioca promovido à políticas ambiciosas (como a realização das Olimpíadas Rio 2016, por exemplo), reflete o desgaste dessa ideologia.

A ideologia de "se contentar com pouco", de "se satisfazer com o básico do básico do básico", que garantiu a raiva dos "cães de guarda" sociopatas das redes sociais, começa a se desgastar no Rio.

Desde os anos 90, quando ser carioca passou a ser sinônimo não de alguém que quer o melhor, mas aquele que apela para o razoável e o defende com unhas e dentes, esse pragmatismo fez cair o conceito do Rio de Janeiro no resto do Brasil.

A defesa de mediocridades culturais como o "funk carioca" e as rádios pseudo-roqueiras - a posteridade mostrará que a experiência da Rádio Cidade foi vexaminosa - fez com que a antiga capital da Bossa Nova "pagasse mico".

E isso quando passou a jogar o samba dos morros para o consumo privado das elites Zona Sul e, nos morros, o que prevalecia era um pastiche brega e americanizado chamado "pagode romântico".

Trocou-se a Garota de Ipanema pela mulher-fruta, trocou-se o borogodó pela sociopatia, e se antes o carioca "garimpava" novos sabores, novos gostos e novos valores, hoje ele prefere a mesmice porque "é melhor do que nada".

O Rio de Janeiro que atraía intelectuais forasteiros como Ruy Castro, Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade passou a sentir um estranho fascínio pelo medieval Olavo de Carvalho.

O Rio de Janeiro da fundação do IPHAN tornou-se o Rio de Janeiro que viu o Museu Nacional ser consumido por um fogaréu.

O Rio de Janeiro que aportuguesou a palavra football hoje fala bike, além de não oficializar a tradução de bullying, que eu já denomino "valentonismo".

É um Rio de Janeiro perdido na "novilíngua" importada de São Paulo, da ridícula gíria "balada" que se pronuncia quase que cuspindo.

Esse pragmatismo ainda forçou a onda dos ônibus padronizados, medida que, felizmente, já está sendo descartada na capital fluminense. Mas foi difícil combater a onda dos ônibus iguaizinhos, pois até na busologia existem "bolsomínions".

O carioca que botava "personalidade" até em cada restaurante do Centro e da Zona Sul de repente passou a gostar só do "arroz e feijão" da mesmice pragmática.

E essa mesmice cria certos delírios, pequenos detalhes sensacionalistas em cada mediocridade defendida com unhas e dentes.

Políticos fisiológicos do PMDB carioca que prometiam espetáculo acima da cidadania e da qualidade de vida.

"Rádios rock" que eram reles clones da Jovem Pan 2 que apenas tocavam metal no lugar dos "grupos de garotos".

Ônibus padronizados iguaizinhos que prometiam o paraíso de chassis suecos e concepção avançada para premiar o passageiro que, na confusão, pegar o ônibus errado.

E, agora, político que vai governar a República sob a simbologia da farda do Exército, como se isso fosse um diferencial para comandar os rumos do Brasil.

A onda extremo-direitista que surpreendeu o Brasil, vinda das plagas cariocas, ainda elegeu para governador o nada favorito Wilson Witzel, por causa da catarse pragmática da "disciplina" que pouco combina com o cenário de praias e urbanismo.

Paciência. O Rio de Janeiro pragmático virou a "Calibama", misto da festiva Califórnia com o ultraconservador Alabama.

Em cada uma dessas medidas, há, no primeiro momento, a horda de sociopatas furiosos defendendo com unhas e dentes tais causas, adotando como represálias os ataques nas redes sociais e até em blogues ofensivos criados nas ocasiões.

No segundo momento, porém, tais causas naufragam e esses sociopatas viram vidraça, passando a ser atacados e denunciados e sendo alvo de humilhação pior a que impunham aos discordantes.

Agora vemos que a mais recente realização do "pragmatismo carioca", a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, está dando com os burros n'água.

O presidente eleito nem tomou o poder e está envolvido em muita confusão.

Mais uma vez, a turma do "é melhor que nada" naufraga em suas causas simplórias. E, novamente, os sociopatas que antes eram caçadores, passarão a ser caça.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

BRASIL PASSOU POR SEIS DÉCADAS DE RETROCESSOS SOCIOCULTURAIS

ANTES RECONHECIDA COMO SÉRIO PROBLEMA HABITACIONAL, A FAVELA (NA FOTO, A ROCINHA NO RIO DE JANEIRO) TORNOU-SE OBJETO DA GLAMOURIZAÇÃO DA POBREZA FEITA PELAS ELITES INTELECTUAIS BRASILEIRAS. A ideia, desagradável para muitos, de que o Brasil não tem condições para se tornar um país desenvolvido está na deterioração sociocultural que atingiu o Brasil a partir de 1964. O próprio fato de muitos brasileiros se sentirem mal acostumados com essa deterioração de valores não significa que possamos entrar no clube de países prósperos diante dessa resignação compartilhada por milhares de pessoas. Não existe essa tese de o Brasil primeiro chegar ao Primeiro Mundo e depois “arrumar a casa”, como também se tornou inútil gourmetizar a decadência cultural sob a desculpa de “combater o preconceito”. Botar a sujeira debaixo do tapete não limpa o ambiente. Nosso país discrimina o senso crítico, abrindo caminho para os “novos normais” que acumulamos, precarizando nosso cotidiano na medida em que nos resig...

“GALERA”: OUTRA GÍRIA BEM AO GOSTO DA FARIA LIMA

Além da gíria “balada” - uma gíria que é uma droga, tanto no sentido literal como no sentido figurado - , outra gíria estúpida com pretensões de ser “acima dos tempos e das tribos” é “galera”, uma expressão que chega a complicar até a nossa língua coloquial. A origem da palavra “galera” está no pavimento principal de um navio. Em seguida, tornou-se um termo ligado à tripulação de um navio, geralmente gente que, entre outras atividades, faz a faxina no convés. Em seguida, o termo passou a ser adotado pelo jornalismo esportivo porque o formato dos estádios se assemelhava ao de navios. A expressão passou a ser usada, também no jornalismo esportivo, para definir o conjunto de torcedores de futebol, sendo praticamente sinônimo de “torcida”. Depois o termo passou a ser usado pelo vocabulário bicho-grilo brasileiro, numa época em que havia, também, as sessões de cinema mostrando notícias do futebol pelo Canal 100 e também a espetacularização dos campeonatos regionais de futebol que preparavam...

“ROCK PADRÃO 89 FM” PERMITE CULTUAR BANDAS FICTÍCIAS COMO O VELVET SUNDOWN

Antes de irmos a este texto, um aviso. Esqueçamos os Archies e os Monkees, bandas de proveta que, no fundo, eram muito boas. Principalmente os Monkees, dos quais resta vivo o baterista e cantor Micky Dolenz, também dublador de desenhos animados da Hanna-Barbera (também função original de Mark Hamill, antes da saga Guerra nas Estrelas).  Essa parcela do suposto “rock de mentira” até que é admirável, despretensiosa e suas músicas são muito legais e bem feitas. E esqueçamos também o eclético grupo Gorillaz, influenciado por hip hop, dub e funk autêntico, porque na prática é um projeto solo de Damon Albarn, do Blur, com vários convidados. Aqui falaremos de bandas farsantes mesmo, sejam bandas de empresários da Faria Lima, como havíamos descrito antes, seja o recente fenômeno do Velvet Sundown, grupo de hard rock gerado totalmente pela Inteligência Artificial.  O Velvet Sundown é um quarteto imaginário que foi gerado pela combinação de algoritmos que produziram todos os elementos d...

LULA DEVERIA SE APOSENTAR E DESISTIR DA REELEIÇÃO

Com o anúncio recente do ator estadunidense Michael Douglas de que iria se aposentar, com quase 81 anos de idade, eu fico imaginando se não seria a hora do presidente Lula também parar. O marido de Catherine Zeta-Jones ainda está na sua boa saúde física e mental, melhor do que Lula, mas o astro do filme Dia de Fúria (Falling Down) , de 1993, decidiu que só vai voltar a atuar se o roteiro do filme valer realmente a pena  Lula, que apresenta sérios problemas de saúde, com suspeitas de estar enfrentando um câncer, enlouqueceu de vez. Sério. Persegue a consagração pessoal e pensa que o mundo é uma pequena esfera a seus pés. Seu governo parece brincadeira de criança e Lula dá sinais de senilidade quando, ao opinar, comete gafes grotescas. No fim da vida, o empresário e animador Sílvio Santos também cometeu gafes similares. Lula ao menos deveria saber a hora de parar. O atual mandato de Lula foi uma decepção sem fim. Lula apenas vive à sombra dos mandatos anteriores e transforma o seu at...

ATÉ PARECE BRIGUINHA DE ESCOLA

A guerra do tarifaço, o conflito fiscal movido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, leva ao paroxismo a polarização política que aflige principalmente o Brasil e que acaba envolvendo algumas autoridades estrangeiras, diante desse cenário marcado por profundo sensacionalismo ideológico. Com o "ativismo de resultados" pop das esquerdas woke  sequestrando a agenda esquerdista, refém do vício procrastinador das esquerdas médias, que deixam as verdadeiras rupturas para depois - vide a má vontade em protestar contra Michel Temer e Jair Bolsonaro, acreditando que as instituições, em si, iriam tirá-los de cena - , e agora esperam a escala 6x1 desgastar as mentes e os corpos das classes trabalhadoras para depois encerrar com essa triste rotina de trabalho. A procrastinação atinge tanto as esquerdas médias que contagiaram o Lula, ele mesmo pouco agindo no terceiro mandato, a não ser na produção de meros fatos políticos, tão tendenciosos que parecem mais factoides. Lula transforma seu...

NEM SEMPRE OS BACANINHAS TÊM RAZÃO

Nesta suposta recuperação da popularidade de Lula, alimentada pelo pesquisismo e sustentada pelos “pobres de novela” - a parcela “limpinha” de pessoas oriundas de subúrbios, roças e sertões - , o faz-de-conta é o que impera, com o lulismo se demonstrando um absolutismo marcado pela “democracia de um homem só”. Se impondo como candidato único, Lula quer exercer monopólio no jogo político, se recusando a aceitar que a democracia não está dentro dele, mas acima dele. Em um discurso recente, Lula demoniza os concorrentes, dizendo para a população “se preparar” porque “tem um monte de candidato na praça”. Tão “democrático”, o presidente Lula demoniza a concorrência, humilhando e depreciando os rivais. Os lulistas fazem o jogo sujo do valentonismo ( bullying ), agredindo e esnobando os outros, sem respeitar a diversidade democrática. Lula e seus seguidores deixam bem claro que o petista se acha dono da democracia. Não podemos ser reféns do lulismo. Lula decepcionou muito, mas não podemos ape...

A FALSA RECUPERAÇÃO DA POPULARIDADE DE LULA

LULA EMPOLGA A BURGUESIA FANTASIADA DE POVO QUE DITA AS NARRATIVAS NAS REDES SOCIAIS. O título faz ficar revoltado o negacionista factual, voando em nuvens de sonhos do lulismo nas redes sociais. Mas a verdade é que a aparente recuperação da popularidade de Lula foi somente uma jogada de marketing , sem reflexão na realidade concreta do povo brasileiro. A suposta pesquisa Atlas-Bloomberg apontou um crescimento para 49,7%, considerado a "melhor" aprovação do presidente desde outubro de 2024. Vamos questionar as coisas, saindo da euforia do pesquisismo. Em primeiro lugar, devemos pensar nas supostas pesquisas de opinião, levantamentos que parecem objetivos e técnicos e que juram trazer um recorte preciso da sociedade, com pequenas margens de erros. Alguém de fato foi entrevistado por alguma dessas pesquisas? Em segundo lugar, a motivação soa superficial, mais voltada ao espetáculo do que ao realismo. A recuperação da popularidade soa uma farsa por apenas envolver a bolha lulist...

RADIALISMO ROCK: FOMOS ENGANADOS DURANTE 35 ANOS!!

LOCUTORES MAURICINHOS, SEM VIVÊNCIA COM ROCK, DOMINAVAM A PROGRAMAÇÃO DAS DITAS "RÁDIOS ROCK" A PARTIR DOS ANOS 1990. Como o público jovem foi enganado durante três décadas e meia. A onda das “rádios rock” lançada no fim dos anos 1980 e fortalecida nos anos 1990 e 2000, não passou de um grande blefe, de uma grande conversa para búfalos e cavalos doidos dormirem. O que se vendeu durante muito tempo como “rádios rock” não passavam de rádios pop comuns e convencionais, que apenas selecionavam o que havia de rock nas paradas de sucesso e jogavam na programação diária. O estilo de locução, a linguagem e a mentalidade eram iguaizinhos a qualquer rádio que tocasse o mais tolo pop adolescente e o mais gosmento pop dançante. Só mudava o som que era tocado. Não adiantava boa parte dos locutores pop que atuavam nas “rádios rock” ficarem presos aos textos, como era inútil eles terem uma boa pronúncia de inglês. O ranço pop era notório e eles continuavam anunciando bandas como Pearl Jam e...

LÓGICA DAS "PSICOGRAFIAS" É A MESMA DOS ABUSOS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

HUMBERTO DE CAMPOS, OLAVO BILAC E RAUL SEIXAS - Exemplos mais vergonhosos do que oficialmente se define como "psicografias". É vergonhosa a tentativa de reabilitação do Espiritismo brasileiro, a pior religião de todas mas que se deixa prevalecer pelo pretenso sabor melífluo de suas pregações, tal qual uma mancenilheira institucional. Além da patética novela A Viagem  - amaldiçoada tanto na versão da TV Tupi quanto da Rede Globo - , temos mais um filme da franquia "Nosso Lar" que só agrada mesmo a setores místicos e paternalistas da elite do bom atraso, a "bolha" que impulsiona o sucesso "fogo de palha" dos filmes "espíritas". Pois bem, eu, que fui "espírita" durante 28 anos, entre 1984 e 2012, tendo que largar a religião durante um fase terrível de minha vida particular, posso garantir que o Espiritismo brasileiro é muito pior do que as seitas neopentecostais no sentido de que, pelo menos, os "neopentecostais" possue...