Reportagem do jornal A Tarde comprova: Salvador não para de investir em novas estradas visando melhorar o trânsito e a mobilidade urbana.
Desta vez é o ambicioso projeto da Av. Vinte de Nove de Março (nome que homenageia a data de fundação da capital baiana), cuja terceira etapa de obras foi concluída anteontem.
A avenida, conhecida como a "Linha Vermelha soteropolitana", tende a ligar o bairro de Piatã, na orla próxima a Itapuã, ao trecho da rodovia BR-324 em Águas Claras.
Há um estudo para ver se a avenida se prolonga até Paripe, no subúrbio ferroviário. A terceira etapa custou R$ 78,3 milhões e foi investida pelo Governo da Bahia.
O atual projeto, ainda incompleto, corresponde mais ou menos como se, no Rio de Janeiro, se fizesse uma nova avenida ligando o Pontal - final do Recreio dos Bandeirantes - a Irajá, passando sobre Vargem Grande e Deodoro.
Enquanto isso, em Niterói, cidade que comemorou mais um aniversário há três dias, não há uma notícia sobre a nova avenida Rio do Ouro-Várzea das Moças.
Terreno existe e desapropriar, com justa indenização aos proprietários, é mais fácil nessa área do que na Av. Marquês do Paraná, onde a Prefeitura de Niterói realiza obras para mais uma pista.
No Rio do Ouro, a nova avenida poderia começar no final da Rodovia RJ-100 (Rod. Pref. João Sampaio, antiga Estrada Velha de Maricá), onde tem um muro velho e rachado por cima.
Dentro há um terrenão ocioso, que dá para uma nova avenida, com três pistas para cada mão, passarela no seu entorno e tudo.
Em Várzea das Moças, o terreno termina na proximidade com a Rua Jean Valenteau Mouliac, na cara da Av. Everton da Costa Xavier, conhecida como RJ-108. Nesse trecho parece ter uma velha casa (não sei se está abandonada), mas que com disposição dá para desapropriar e demolir.
São sugestões fáceis de serem cumpridas, só faltando a vontade política do prefeito Rodrigo Neves.
RODRIGO NEVES, PREFEITO DE NITERÓI, QUER IMITAR O PLANO DO EX-PREFEITO DE SÃO PAULO E PRESIDENCIÁVEL DERROTADO, FERNANDO HADDAD, PARA CICLOVIAS, MAS NÃO SEGUE O EXEMPLO DO GOVERNADOR BAIANO RUI COSTA PARA NOVAS ESTRADAS.
Niterói ignora que a RJ-106, único acesso possível - mas complicado - de ligação entre dois bairros vizinhos, Rio do Ouro e Várzea das Moças, é uma rodovia estadual, que liga cidades distantes que se situam na Região dos Lagos.
Imagine o problema.
Um caminhão de distribuição de produtos vem da Baixada Fluminense, pega a Av. Brasil, a Ponte Rio-Niterói, enfrenta tanto movimento, vai para a Região dos Lagos e pega a RJ-106.
Aí encara o trecho entre Rio do Ouro e Várzea das Moças, que faz a RJ-106 ter sobreposição de funções, virando "avenida de bairro", e se atrapalha todo.
Uma boa parte do trânsito que vem da RJ-100 para ir a Várzea das Moças pega a RJ-106. Mais lentidão para o caminhão que vai lá longe, digamos, para Cabo Frio.
E, aí, perto do trevo de Várzea das Moças, tem que competir até com ônibus de São Gonçalo que pega um bom trecho da RJ-106 sentido Maricá para pegar o retorno e ir a Tribobó.
Será que o niteroiense é tapado? Ele não virou a versão live action do fictício preguiçoso que o preconceituoso anedotário popular atribui aos soteropolitanos?
Fala-se que é NECESSÁRIO criar nova avenida ligando Rio do Ouro e Várzea das Moças e o niteroiense fica boiando.
E aí, quando se realiza apenas um trabalho de recapeamento de asfalto, agora descrito por nomes pomposos da moda como "macrodrenagem" e "patrolagem", cria-se um "carnaval" sem necessidade.
Faz-se um trabalho desses, necessário para insuficiente em termos de urbanismo, e a Prefeitura de Niterói sai alardeando que os bairros ficaram "repaginados".
Vergonha.
Salvador está recapeando o asfalto da Av. Paulo VI (Pituba, onde andei muito até dez anos atrás), e a capital da axé-music não fez micareta com isso, definindo o ato apenas como "intervenção asfáltica".
Aqui só falta botar o trio elétrico de Cláudia Leitte (que, apesar de ser cantora baiana, nasceu em São Gonçalo, vizinho a Niterói e conurbado com Rio do Ouro e Várzea das Moças) para animar micaretas a cada recapeamento de asfalto que se concluir em uma de suas avenidas.
Recapeamento de asfaltos, ciclovias são, sim, medidas necessárias, mas são insuficientes para assuntos de mobilidade urbana.
Tem que haver de tudo: passarelas, reurbanização de bairros - o que poderia ter prevenido a tragédia da comunidade Boa Esperança - , substituição de fiação elétrica no alto por fiações subterrâneas, retirada de ervas de passarinho nas árvores etc.
Há necessidade de se colocar passarela na Av. Marquês do Paraná, na altura do Rio Cricket, para livrar os pedestres e ciclistas do pesadelo das longas esperas nas sinaleiras.
Há necessidade de criar nova avenida ligando a Av. Jansen de Mello (altura do Rio Decor) à Estrada Viçoso Jardim passando por um terreno entre São Lourenço e Cubango, com túnel sob um morro e sob os entornos da Av. Vinte e Dois de Novembro e Rua Leite Ribeiro.
Tudo isso tem que ser considerado. Niterói parece que virou a capital da Zona de Conforto. Isso tem que acabar.
É até engraçado que Rodrigo Neves, ao falar de ciclovias, tenha em mente imitar uma das realizações do ex-prefeito de São Paulo e presidenciável derrotado, Fernando Haddad.
Mas o atual prefeito de Niterói não segue o exemplo do governador da Bahia, Rui Costa, que anda abrindo estradas para tirar Salvador do sufoco do trânsito.
Hoje a nova avenida Rio do Ouro-Várzea das Moças é um sonho como a via Cafubá-Charitas foi durante décadas.
Será que temos que esperar a geração de nossos netos provar que Rio do Ouro e Várzea das Moças necessitam de avenida própria para liberar o trânsito da RJ-106?
Acordem, niteroienses! Conheçam os seus próprios problemas!
Comentários
Postar um comentário