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EDUARDO CUNHA E "FUNK CARIOCA" NA ERA COLLOR


Começo dos anos 90. Quando a década não inspirava saudosismo nos incautos - afinal, era a década em que os barões da mídia e o "deus" mercado aumentaram sua influência na sociedade brasileira - , Eduardo Cunha e o "funk carioca" andavam às boas com a Era Collor.

Hoje Eduardo Cunha está fora, desde ontem, da presidência da Câmara dos Deputados e foi suspenso do cargo de deputado federal pelo Rio de Janeiro. Mas a sentença é provisória e Cunha anunciou que recorrerá contra ela.

O "funk", por sua vez, é jogado pela "mão invisível do mercado" e pelos barões da grande mídia para distrair o povão enquanto o Judiciário partidarizado prepara a expulsão de Dilma Rousseff.

O "funk" não está aí com Eduardo Cunha.

Eduardo Cunha nem está aí com o "funk".

Mas ambos foram beneficiados por um mesmo cenário político.

A Era Collor, entre 1990 e 1992.

Foi nela que Eduardo Cunha, nomeado presidente da TELERJ, antiga estatal de telefonia fixa do Rio de Janeiro que, privatizada, hoje corresponde à OI, se ascendeu políticamente, casado com a estonteante Cláudia Cruz.

Foi nela que os DJs mais bem-sucedidos de "funk", DJ Marlboro e Rômulo Costa (Furacão 2000), rasgaram as lições dos mestres e reduziram o antigo funk eletrônico a uma baboseira simplória de vocais desafinados.

O "funk" cresceu com o apoio do mercado, da mídia e de políticos associados.

A Era Collor serviu para a ascensão e o crescimento vertiginoso da politicagem e ganância mercadológica que influíram na decadência política e cultural do Brasil.

Nela foi posta em prática a farra de concessões que José Sarney e Antônio Carlos Magalhães prepararam para políticos e empresários aliados na década anterior.

Ritmos caricatos e pastiches de gêneros populares, como o "sertanejo" e o "pagode romântico", que parodiavam respectivamente a música caipira e o samba, eram lançados.

O fisiologismo político se consolidava criando quadros viciosos de clientelismo e demagogia.

Com o tempo, essa situação degradante, que causaria vergonha nos tempos de João Goulart (1961-1964), se tornou normal no Brasil.

E ganhou ares de falso progressismo.

Com o tempo, Cunha, Collor e os funqueiros saltaram de pára-quedas sobre a base aliada do governo Lula.

Parasitaram o presidente e tentaram embarcar no primeiro governo Dilma Rousseff. Iniciaram o segundo mandato dela na mesma carona, mas depois veio a crise.

E aí Eduardo Cunha passou para a oposição explícita.

Fernando Collor se absteve.

O "funk carioca" e derivados, um falso apoio ao governo Dilma.

Cunha sendo usado pela grande mídia como um "chato útil" para preparar o processo de impeachment.

Collor ajudando a campanha anti-Dilma e anti-Lula como um aparente aliado do PT.

E o "funk carioca" espetacularizando o povo pobre num triplo trabalho.

O de despolitizar os movimentos sociais.

O de distrair o povo pobre deixando-o fora do debate político.

E o de promover a imagem de ridícula das classes populares para permitir a reação das elites.

Hoje Eduardo Cunha, Fernando Collor e o "funk carioca" não se bicam.

Mas todos estiveram juntos num mesmo contexto social, cultural e político.

E é provável que sobrevivam no establishment do futuro governo de Michel Temer.

Abraçados ao "deus" mercado e aos barões da grande mídia.

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