Infelizmente, o Brasil virou um paraíso dos arrivistas.
O que é um arrivista? É aquele que busca meios não muito justos de ascensão social.
É aquele sujeito que, primeiro, se afirma por qualidades equivocadas, geralmente medíocres ou levianas, e depois quer bancar o certinho.
Ou alguém retrógrado que se afirma por ideias atrasadas e reacionárias, mas quer depois se passar por vanguardista.
Tivemos um farsante religioso, pioneiro em obras fake atribuídas aos mortos, traidor de um pedagogo francês do qual se dizia seguidor (na verdade, nunca foi, mas queria estar associado a ele), e que, com a ajuda de terceiros (e até da mídia oligárquica), é hoje considerado "símbolo da bondade humana".
Tivemos, mais recentemente, nos anos 90, canastrões musicais que faziam brega com instrumentos de samba e música caipira, mas que, poucos anos depois, queriam se passar por "nova geração da MPB", sem representar inovação real e embarcando em repertório alheio.
Tivemos uma mulher-objeto do "funk" que se afirmava empinando os glúteos ao olho da plateia, e que se autoproclamava militante feminista.
Tivemos um jornalista surgido na mídia venal que, sem abandonar a devoção ao deus "mercado", se passava por "intelectual de esquerda", a ponto de parecer "integrado a ela", mediando debates, botando sua assinatura pessoal nos diversos periódicos esquerdistas etc.
Mas também um ex-prefeito de uma capital nordestina, "filhote da ditadura" e lançado pela ARENA, que também pegou gosto de ser empresário de mídia e dublê de radiojornalista, e, pior, também inclinado a se apropriar de movimentos de esquerda.
O arrivista é uma espécie de "canastrão de vanguarda", uma espécie de fura-fila social.
É um aproveitador da inovação alheia, um usurpador das façanhas dos outros, querendo patentear para si, por pura promoção pessoal e obtenção de vantagens fáceis, aquilo que outros fazem de mais moderno e inovador.
Os arrivistas viram pretensos heróis através da combinação de uma série de fatores.
Entre elas está a memória curta dos brasileiros. E o chamado jeitinho brasileiro, também.
Afinal, os aspectos sombrios são jogados para debaixo do tapete, enquanto que a imagem tardiamente idealizada do arrivista prevalece até tentando reinterpretar a trajetória original.
O jeitinho brasileiro e a memória curta se tornam aliados na construção de mitos que prevalecem e estabelecem supremacia à realidade.
E muita gente boa, mesmo de notável inteligência, cai em muitas armadilhas, acolhendo arrivistas dos mais aproveitadores, por causa da boa-fé.
Revelou-se que um sujeito que sempre admiro, o arquiteto Oscar Niemeyer, tinha um projeto em homenagem ao farsante religioso acima descrito.
Paciência. Campanhas sucessivas na mídia oligárquica, como TV Tupi e Rede Globo, construíram, à maneira de um "filantropo" de ficção noveleira, uma imagem adocicada desse pioneiro de obras literárias fake, adorado nos mesmos redutos de ódio e burrice nas redes sociais.
Niemeyer seguiu a orientação do amigo Juscelino Kubitschek, que décadas atrás contraiu azar ao acolher e homenagear o mesmo arrivista religioso, que os críticos comparam como o "Aécio Neves da fé".
Num país em que até um ritmo comercial, como o "funk", símbolo dos retrocessos sócio-culturais impostos à população pobre, oriundo da direita cubana e portorriquenha da Flórida e patrocinado pela Rede Globo e pela CIA, queria se passar por "progressista de vanguarda", isso faz sentido.
O Brasil nunca progride porque sempre damos lugar a esses fura-filas existenciais que obtém privilégios às nossas custas.
Em certos casos, chegam mesmo a nos dar emprego, amizade e até vida amorosa - quantas periguetes não assediaram os losers sob a falácia da "superação de diferenças"? - porque querem estar associados às nossas inovações, aos nossos diferenciais, de graça.
Não chegam a concordar conosco de verdade, mas querem se apropriar do que pensamos, fazemos e acreditamos para levar vantagem, para sair bem na fita e bancar o "vanguardista" do momento.
Isso é triste, porque verdadeiros progressos sociais são interrompidos ou prejudicados, porque sempre tem um canastrão na nossa frente para fingir solidariedade e pegar carona nas causas avançadas.
É como num trem novo em que o invasor finge ser amigo do maquinista e rouba sua função, desviando o trem do caminho a pretexto de tornar o percurso mais "empolgante".
Há muitas armadilhas representadas pelos arrivistas que se encontram no caminho.
E, o que é pior: os arrivistas não se arrependem de seus antigos erros. Eles apenas dizem que erraram, e só. Apenas se "aposentam" dos antigos erros, querendo se passar por "certinhos" para fazer agrado a todos.
É muito triste isso. Arrivistas são medíocres querendo bancar os "geniais", incompetentes que buscam parasitar a inovação alheia, em nome de vantagens sociais mais plenas.
O arrivista pode ser um privilegiado, mas ele é capaz de criar falsa modéstia para obter vantagens mais duradouras, chegando mesmo a se voltar contra antigos padrinhos profissionais, culturais ou políticos.
O arrivista é como a gralha que quer ser pavão, mas com a convicção de um urubu que pensa ser o mais sublime cisne.
Os arrivistas são muito mais perigosos que muitos opositores e reacionários assumidos, porque o arrivista nos apunhala depois de nos beijarmos, com sua falsa solidariedade que cheira a traição oculta.
Devemos aprender a ver o quanto os arrivistas se tornam inimigos internos em potencial, "aliados" de conveniências que, depois, mesmo sem romper com tendenciosas alianças, cometem traições aqui e ali e não conseguem sequer se explicar.
Precisam ser salvos pela complacência alheia, ficam quietinhos fazendo pose de choro, e não têm coragem de mostrar a verdadeira face reaça sob suas máscaras moderninhas.
São pessoas sem autocríticas, sem sinceridade, sem caráter. Acham que podem ser reacionárias num primeiro momento e, depois, parecer progressistas sem se identificar, realmente, com a causa, mas a usando em troca de vantagens pessoais.
O arrivista deveria ser o alvo de muitas análises questionadoras, por ser ele um sujeito que destrói por dentro.
O arrivista serve muito mais aos reacionários do que a gente imagina. Ele nos usurpa e enfraquece por dentro, como ervas parasitando árvores.
Nos enfraquecendo, os arrivistas abrem o caminho para o fortalecimento dos reacionários, dos obscurantistas, dos corruptos, dos abjetos, dos levianos.
Daí que é muito mais perigoso o traidor que insiste em beijar o rosto e a mão daquele que trai. Com amigos assim, quem precisa de inimigos?
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