Cheguei a sentir simpatia pelo general Eduardo Villas-Boas, achando que ele seria um guardião da Constituição de 1988.
Me enganei. Villas-Boas é mais um alinhado com o golpe político que hoje vivemos.
Ele havia rompido o protocolo militar e divulgou no seu perfil do Twitter um comunicado que muitos entenderam como ameaça ao STF, no caso de confirmar o habeas corpus ao ex-presidente Lula.
Duas coisas foram escritas pelo general:
1. “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”
2. “Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.”
A mensagem é bastante sutil, mas sugere que o Exército Brasileiro, a pretexto de respeitar a Constituição, se julga acima das instituições e da lei.
O Jornal Nacional deu grande destaque aos tuítes de Villas-Boas, que estaria pressionando o Supremo Tribunal Federal a rejeitar o habeas corpus e reafirmar a sentença que condena Lula à prisão.
A Globo está interessada em banir Lula da corrida presidencial de 2018 e fará de tudo para realizar esse objetivo.
Há uma pressão para pedir a prisão de Lula e a visão dominante que se tem, da parte de setores conservadores influentes na sociedade, é que o cumprimento da prisão, mesmo com o "apressado" recurso da segunda instância, é uma "garantia" do cumprimento da lei e da ordem.
Grande falácia. A prisão em segunda instância é uma ruptura constitucional, porque descumpre o princípio legal da presunção de inocência e é uma negação do direito de defesa para mostrar provas contra as acusações presumidas.
A mesma Globo dos funqueiros, do "Espiritismo cristão" e da tutinhense-huckiana gíria "balada", três coisas ainda vistas com complacência por vários setores dos movimentos progressistas.
Por mais que alguém seja contra o ex-presidente, ele tem direito a ampla defesa, o que significa que ela ultrapassaria o limite das duas instâncias.
Lula é vítima de boatos muito mal explicados sobre o triplex do Guarujá, que depois se revelou de propriedade da OAS e não do ex-presidente.
Mas esses boatos se transformaram em monstros que fazem com que considerável parcela de brasileiros queira ver Lula preso o mais rápido possível.
A histeria reacionária é tanta que a declaração de Villas-Boas, por pior que fosse, ainda é fichinha diante da declaração de outro general, subestimada pelas esquerdas.
Segundo o general da reserva, Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, se Lula for poupado da prisão, se tornar candidato e ser eleito, haverá intervenção militar.
A desculpa dada foi que Lula iria "induzir" os brasileiros à violência e à desordem. Lessa, que falou para o jornal O Estado de São Paulo, chegou a falar em "luta fratricida", para causar pavor à opinião pública.
Foi mais ou menos assim que os militares fizeram tirar João Goulart do poder, falando em "governo da aventura" que "causava desordem e baterna" no Brasil de 1964.
E não nos esqueçamos do "xará de sobrenome" e "colega de farda" do general Olímpio Mourão Filho, o general Hamilton Mourão, com suas declarações golpistas.
Hoje será julgado o pedido de habeas corpus ao ex-presidente, pela condenação em segunda instância do caso do triplex do Guarujá.
Sérgio Moro deu uma sentença de nove anos e seis meses para o petista, em regime semi-aberto. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) aumentou a sentença, para doze anos e meio em regime fechado.
O parecer será divulgado até hoje. E há forte pressão para o STF reafirmar a prisão de Lula e negar o habeas corpus.
Ainda mais com Villas-Boas, Mourão e Schroeder Lessa fazendo chantagens que sugerem que o golpismo militar de 1964 continua como um "fantasma" a nos assombrar novamente.
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