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A DIREITA E SUA MANIA DE ARGUMENTAR "RACIONALMENTE" SUAS CONVICÇÕES


Depois do procurador Oscar Costa Filho, do Ministério Público Federal, acusar a Universidade Federal do Ceará (UFC) de "impor narrativa específica" com o título "Golpe de 2016", a sociedade conservadora continua com mania de argumentar "racionalmente" suas convicções.

É um grande cacoete. Defende-se pontos de vistas retrógrados ou antipopulares com uma retórica enfeitada de termos técnicos, argumentos supostamente objetivos etc.

É uma forma bem engenhosa de criar desculpas para qualquer coisa.

Quando foi imposta a impopular pintura padronizada nos ônibus do Rio de Janeiro, medida que fez decair o sistema de ônibus nas capitais que "escondem" empresas de ônibus com pintura de prefeitura ou governo estadual para acobertar a corrupção, muitos argumentos "técnicos" surgiram.

Vários mirabolantes, falando em "organização, disciplina e funcionalidade" que comprovadamente não se aplicam à realidade.

São meras desculpas de gabinete, nas quais é só alguém aparecer diante de uma estante de livros para que qualquer desculpa esfarrapada, pronunciada no mais puro juridiquês ou qualquer outro dialeto verborraguês, seja vendida como "verdade indiscutivel".

Pois a mania, acima descrita, ressurge com a declaração do sociólogo e cientista político Bolivar Lamounier, amigo e parceiro de Fernando Henrique Cardoso e, portanto, ligado ao PSDB e ao Instituto Millenium.

Ele tentou justificar a prisão do ex-presidente Lula - que, em verdade, foi uma prisão política - como "decorrência inevitável" das investigações da Operação Lava Jato.

Claro, a sociedade "em geral" tem que tratar a equipe da Lava Jato como se fossem vacas sagradas, às quais não se pode criticar um til que venha da mente de qualquer um de seus membros.

Lamounier disse que é "ilusão" acreditar numa perseguição política ao ex-presidente Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT).

Disse que "muita gente se recusa a reconhecer que houve corrupção em larga escala nos governos petistas".

Perguntamos ao senhor Lamounier se também não havia "corrupção em larga escala" nos governos do amigo Fernando Henrique Cardoso. E a escandalosa privataria, que nas mãos de FHC, José Serra e companhia fez milhões de reais dos brasileiros pararem em contas privadas em paraísos fiscais?

Lamounier tentou desmentir a parcialidade da Justiça, mas também tentou salvar a pele do também tucano Eduardo Azeredo, através de um comentário sem a menor coerência.

Primeiro, ele disse: "Mas temos políticos de outros partidos também condenados. Um ministro do STJ acaba de confirmar a condenação a 20 anos de prisão do ex-governador Eduardo Azeredo".

Depois, quando indagado sobre a liberdade condicional do tucano mineiro, Lamounier veio com essa desculpa:

"Se Lula ficasse solto por alguns anos, com a capacidade de mobilização que ele tem, é evidente que criaria obstáculos para nunca ser preso".

Mas a asneira veio logo depois:

"É claro que o Azeredo não representa risco nenhum para a sociedade, para o processo. É uma figura tranquila, serena, não sobe em palanque em dia sim e outro também".

Vamos nos recordar de um fato grave: Eduardo Azeredo queria estabelecer limites para o uso da Internet.

Ele estava encrencado com o mensalão tucano - quando o publicitário Marcos Valério fazia conchavos com políticos do PSDB - e queria salvar a própria pele e a de seus semelhantes.

Como senador, ele propôs uma lei que criminaliza, sim, atos realmente criminosos, como difundir dados maliciosos e danosos para outrem, mas também criminaliza atos como obter, transferir ou fornecer dados ou informações sem autorização.

Só isso traz uma série de equívocos que podem botar na cadeia quem faz jornalismo investigativo ou publica fotologues de maneira saudável e informativa.

Só essa proposta, que foi chamada de "AI-5 da Internet", mostra que Eduardo Azeredo representa, sim, risco à sociedade.

O asneirol de Bolívar Lamounier se refere ao fato de definir como "ameaçador" um simples ato de "subir em palanque dia sim e outro também".

Isso porque conversar com o público subindo em palanque não tem coisa alguma a ver com ameaça ou agressividade.

E se fosse Aécio Neves, tucano e mineiro como Azeredo, subindo em palanque, seria, para Lamounier, também "ameaçador"?

Azeredo, Aécio, Serra, FHC, Geraldo Alckmin, eles não são tranquilos.

Todos eles, de uma forma ou de outra, estão com a consciência pesada e, além disso, atuam de forma voraz na devoração do dinheiro público, que mandam para suas contas no exterior.

A própria privataria, o mensalão tucano de Azeredo, o "esquema de Aécio", as "santices" de Alckmin e a "prescrita" corrupção de Serra, tudo isso é ameaça e risco à sociedade.

Afinal, são os políticos do PSDB que têm mais apetite em abocanhar o dinheiro público e levar tudo para as contas pessoais e de seus amigos e familiares.

Agora que Lula está preso, a Justiça só está mexendo com os tucanos para "mostrar serviço" e dar a impressão de "imparcialidade".

Mas será que, desta fez, os tucanos deixarão de ser intocáveis? Provavelmente não...

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