Setores das esquerdas afirmam que a influência de Lula continua intata nas eleições a serem feitas daqui a alguns meses.
Pode ser. Mas a pressão da sociedade conservadora quer que o candidato dela é que saia vitorioso de qualquer maneira. Nem que os algoritmos sejam inseridos em possível fraude eletrônica nas urnas.
Aparentemente, a sociedade mais reacionária só se acalma quando algum espectro do Partido dos Trabalhadores ou coisa semelhante se apaga por definitivo.
Aí as pessoas ficam tão despreocupadas que não ligam sequer para quando um restaurante solta um cheiro de vazamento de gás.
É preocupante. Pessoas conversando felizes diante de um cheiro de vazamento de gás. Ou jovens contando piadas, alegremente, diante de um cocô de cachorro deixado ali próximo, no calçadão.
São essas mesmas pessoas que, só de ver a imagem de Lula em algum lugar, espumam de raiva e rancor profundos.
O Brasil anda tão surreal que são os mais jovens que parecem gostar de ideias e projetos mais reacionários.
Vai um general, tipo Eduardo Villas-Boas ou Hamilton Mourão, defender alguma intervenção militar, que explodem as "curtidas" nas redes sociais e o número de seguidores.
Desde quando sofri ataques de cyberbullying de internautas da comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo", no Orkut, em 2007.
Fui criticar um jargão dessa patota, a famigerada gíria "balada", patenteada pelo consórcio Globo / Jovem Pan, e os caras não gostaram, invadindo meu espaço de mensagens para simular bate-papos jocosos e agressivos.
Identifiquei neles o ovo da serpente fascista, o pessoal antecipava o Facebook e o WhatsApp em reacionarismo digital, numa época em que nem as esquerdas os viam como os famosos fascistas mirins que iriam ajudar a derrubar Dilma Rousseff, quase uma década depois.
Ficava pensando na letra de "A Dança", da Legião Urbana, em que Renato Russo, criticando um grupo de jovens riquinhos da Brasília do final dos anos 1970, descrevia o reacionarismo juvenil que era camuflado na aparente modernidade da pouca idade.
Ele falava que os jovens reacionários se julgavam "modernos" e "espertos" mas eram iguais aos seus pais caqueticamente conservadores.
Era só uma questão de idade esse reacionarismo, pois passando essa fase, tanto faz ser considerado reacionário ou não.
Lembra 2016, com o arremedo de rebeldia de jovens reacionários que usam, aparentemente, o modus operandi dos punks, usando de agressividade, ironia e irritabilidade.
Na época do valentonismo digital de 2007, um internauta se identificou como ouvinte da "antiga" Rádio Cidade, se referindo à suposta "rádio rock" que esteve no ar, na época, até 2006, antes do breve reboot de 2014-2016.
Vendo que hoje os roqueiros andam ultimamente reaças, desde o direitismo light de Paulo Ricardo e Andreas Kisser até o bolsonarismo de Nando Moura, passando pelos óbvios casos de Lobão e Roger Rocha Moreira, até um pseudo-roqueiro deve até exagerar na dose desse reacionarismo.
No Jornal do Brasil, os produtores da Rádio Cidade eram vistos com estranheza pelos profissionais do referido jornal carioca.
A "turma da Cidade" de 1995-2006 era um misto de "gente bonita Zona Sul", "rebelde sem causa" e juventude fascista, se comportando como se fossem filhos de uma socialite com um nazi-punk ou como um cruzamento dos "baixinhos" da Xuxa Meneghel com os Hell's Angels.
Era gente que via a Terra girar em torno de seus umbigos.
O Jornal do Brasil apoiava o PSDB na época. Mas hoje adota a linha progressista, que fez superada a sua presença histórica na campanha Rede da Democracia, que pediu o golpe civil-militar de 1964 junto com as Organizações Globo e os Diários Associados.
Mas o JB ensaiava um jornalismo de qualidade nos anos 1990-2000. Até os jornalistas culturais sinalizavam preferir a antiga Fluminense FM do que a "Jovem Pan com guitarras" que irradiava os 102,9 mhz, atualmente entregues à popularesca Rio FM.
E aí vemos essa juventude que vai influir na corrida eleitoral ameaçando pôr Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.
Ou, ao menos, querendo algum bonitão de perfil neoliberal.
Atualmente, o mais recente nome "liberal" a ser ventilado é o ex-tucano Álvaro Dias, do Paraná, ligado ao PODEMOS (ex-PTN), que surge como o "presidenciável liberal favorito da última semana".
Isso num contexto em que a ex-esquerdista (ou ex-querdista?) Marina Silva, o agora semi-esquerdista Joaquim Barbosa e o esquerdista "mais ou menos" Ciro Gomes estão no páreo, querendo disputar os "órfãos" de Lula.
Não há um favorito no páreo e o que surgem são apenas "favoritos de ocasião", o que preocupa a sociedade conservadora que não quer que o Brasil caia na tentação fascista do bolsonarismo.
Lula continua sendo o favorito e seus defensores atuarão com seus últimos esforços para livrá-lo da cadeia e liberá-lo para concorrer e ser eleito novamente presidente da República.
Mas não creio que isso seja possível, porque, indiscutivelmente, a parcela conservadora da sociedade sente um rancor extremamente doentio a Lula e tudo que se relacione com petismo e esquerdismo.
É o mesmo pessoal que não dá a mínima para fedor de caminhão de lixo nem para cheiro de vazamento de gás, que fica gritando por seu time de futebol a altas horas da noite e aceita comer aquele lanche horrível e doentio do "restaurante" (sic) McDonald's.
Infelizmente, temos que fazer um Brasil a gosto desses retardados que só sabem se indignar contra o Lula, PT e seus símbolos, mas aceita que bairros vizinhos de Niterói, como Rio do Ouro e Várzea das Moças, não tenham avenida própria de ligação, dependendo da travessia de uma rodovia estadual.
Essa sociedade neocon ainda precisa aprender muito com os problemas do nosso país.
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