VÍTIMA DA SUA PRÓPRIA ACOMODAÇÃO, O COMITÊ FORA BOLSONARO AMEAÇA CANCELAR MANIFESTAÇÕES DO QUINZE DE NOVEMBRO. NA FOTO, PROTESTO NO CENTRO DO RIO DE JANEIRO, EM 02 DE OUTUBRO ÚLTIMO.
As esquerdas brasileiras acham que estão com a História em suas mãos e se gabam de uma força que elas não têm.
Lula retomou os direitos políticos, mas isso não significa que ele está eleito. Assim como as pesquisas eleitorais não são garantia de que ele está "com a mão na taça".
Por incrível que pareça aos olhos das esquerdas, Luís Inácio Lula da Silva está fraco. Se ele tem que enfatizar alianças com empresários e políticos golpistas, é porque ele não está forte.
Se Lula tivesse mesmo uma força própria, bastaria o apoio das classes trabalhadoras, do povo brasileiro propriamente dito.
Se Lula fosse forte, bastaria ele mesmo. E ele tem gente de peso dentro do próprio partido: Gleisi Hoffmann, Paulo Pimenta, Wadih Damous, Aloísio Mercadante.
Mas Lula preferiu a aliança pragmática com os golpistas do MDB, sob o pretexto da "democracia".
Só que o pragmatismo é uma doença que elegeu Jair Bolsonaro presidente em 2018, e fez o Rio de Janeiro acolher retrocessos culturais que, do radialismo rock às mulheres sensuais, fez o Estado e sua antes imponente capital sucumbirem a uma decadência em níveis dramáticos.
A ilusão pragmática de "perder agora para ganhar depois", aceitando o pior em nome de melhorias futuras, ainda pode jogar o Brasil no abismo. Aliás, já está perto de jogar.
O Brasil vive uma decadência sem precedentes e as esquerdas não admitem isso.
Dominadas pela classe média bem de vida, as esquerdas até tiveram seus momentos de lucidez e brilhantismo, entre 2010 e 2020.
Tinham seus erros, como a adoção de "brinquedos culturais" da direita e o acolhimento ao canto de sereia de intelectuais pró-brega (tipo Pedro Alexandre Sanches e Paulo César de Araújo) surgidos nos porões intelectuais e acadêmicos do PSDB.
Isso fez as esquerdas adotarem um culturalismo conservador, sustentado pela ilusão de uma suposta simbologia "popular", tão caricatural quanto o núcleo pobre das novelas das 21 horas da Rede Globo.
Mas se as pautas culturais das esquerdas deixavam a desejar, as pautas políticas e econômicas pareciam impecáveis, naqueles tempos.
Bastava apenas evitar ver as pautas culturais, endeusando sobretudo funqueiros, velhos ídolos bregas, mulheres popozudas e "médiuns espíritas" reaças, que as demais pautas mostravam o seu recado consistente.
O próprio Lula parecia muito bem até pouco tempo atrás. Eu mesmo considerava o líder ideal para contornar a tragédia da pandemia no Brasil.
Mas hoje até o Lula perdeu o caminho, as esquerdas surtaram e a antiga lucidez desapareceu até de boa parte de seus jornalistas competentes, agora desesperados e enlouquecidos com a obsessão em ver Lula vencendo as eleições "na marra" em 2022.
Lula está perdido em seus erros estratégicos. Ele pensa que pode repetir 2002 e o grande acordo nacional da época, que já fez seu primeiro governo ser fraco em transformações sociais, em que pese alguns progressos incipientes.
O Brasil de hoje está pior do que há 20 anos e Lula desconhece isso.
Vivemos uma distopia, mas Lula fala como se tudo estivesse bem, só com "alguns probleminhas".
As esquerdas estão tão ingênuas que até mesmo o potencial de mobilização social é desperdiçado.
Os esquerdistas não querem se mobilizar de verdade para reconquistar os espaços que perderam desde 2016, e pensam que são donas de um espaço que há muito não lhes pertence.
Supervalorizando as concessões do Supremo Tribunal Federal, as esquerdas acham que os artífices do golpe lhes devolveram os espaços perdidos.
E vamos combinar que as próprias esquerdas perderam a noção de que o golpe existiu. Até admitem nominalmente, mas não parecem sentir os efeitos devastadores desses cinco anos de retrocessos.
E aí o Comitê Fora Bolsonaro foi vítima de sua própria acomodação, de seu próprio quixotismo.
Meses atrás, seus líderes, felizes da vida com o sucesso dos protestos de 19 de Junho, deram um tiro no pé ao marcarem a manifestação seguinte para 24 de Julho.
Vendo que pegaram pesado na procrastinação, marcaram um protesto "intermediário", como um suposto "aquecimento", para o dia 03 de Julho.
E tiveram que aceitar a realização dos protestos de 26 de Junho, para lembrar os 53 anos do maior protesto contra a ditadura militar ocorrido nesta data em 1968.
Mas aí os protestos eram sempre marcados com grandes intervalos entre um e outro, eram espetacularizados a ponto de parecerem mais carnavais fora de época do que protestos contra Bolsonaro.
Os efeitos eram inócuos e a "histórica" manifestação do último 02 de Outubro simplesmente foi fogo de palha. A segunda-feira seguinte dava a impressão de que o protesto não ocorreu.
E aí temos a consciência do fracasso, que as esquerdas não admitem. O número de manifestantes diminuiu, até por influência dos "de cima", como personalidades políticas e os próprios líderes do Comitê Fora Bolsonaro, que preferem ficar em casa para brincar com a memecracia.
As esquerdas, arrogantes, só se acham vitoriosas dentro da sua bolha.
Acham que, havendo personalidades tricotando entre si nas redes sociais, como vários políticos e blogueiros de esquerda, muitos com mais de 50 anos de idade, vão derrubar Bolsonaro.
Ora, ora, ora, como é que nomes como Jandira Feghali, Erika Kokay, Humberto Costa, Paulo Pimenta, Paulo Teixeira, Cynara Menezes e outros, mesmo com boas intenções, vão derrubar Bolsonaro apenas porque transmitem mensagens entre si nas redes sociais?
É como se os jogadores de um time de futebol permanecessem no campo de defesa, fazendo passes uns com os outros. Isso nunca vai levar a marcar um gol no time adversário.
As esquerdas estão enfraquecidas, não fortalecidas. Elas se movem pela ingenuidade que contamina até mesmo gente que havia se destacado pela luta política e pela lucidez intelectual.
Lula está cometendo erros terríveis ao fazer alianças sem critério.
Ele pensa que está sendo estratégico "falar com todo mundo", mas será que ele sabe dos riscos que ocorre ao fazer alianças com os golpistas?
Os golpistas do MDB, que participaram da logística macabra do governo Michel Temer, não iriam aceitar ver o "amigo" Lula cancelando a reforma trabalhista e outros retrocessos do "Vampirão".
Não vou votar em Lula porque tenho certeza que seu governo será o mais fraco de todos.
Lula não percebe que vivemos em outro contexto, o Brasil está à beira do precipício.
O discurso de Lula é o mesmo de 2002, até parece que ele está repetindo, pelo piloto automático, a retórica de vinte anos atrás.
Daí que sou obrigado a dar razão a Ciro Gomes, que, com todos seus excessos, foi feliz ao afirmar que Lula não renovou as suas ideias.
Lula não percebe a gravidade da realidade brasileira de hoje, faz um discurso tranquilo e imagina que pode fazer o que quiser, seja buscando alianças sem critério, seja prometendo grandes realizações sem ver os entraves no caminho.
Com essas duas atitudes ambíguas, Lula poderá tanto ser castrado politicamente em seu governo, tendo que governar apenas para a burguesia, como pode ser golpeado por tanques e aviões militares dos EUA, no caso de avançar um pouco nos seus limites governamentais.
O MDB não vai aceitar de graça apoiar Lula. Os golpistas do partido de Michel Temer só aceitam acordo com o petista se ele não mexer na chamada "Ponte para o Futuro", o projeto golpista que cancelou direitos trabalhistas no Brasil.
Eu escrevi, meses atrás, que Lula teria que enfrentar muitas dificuldades. E elas serão bem maiores e muito mais difíceis de se enfrentar, ainda mais quando o governante será um idoso de 77 anos que já encarou um câncer.
E Lula, com seus erros de estratégia, está muito mais próximo de uma derrota do que da "vitória certeira" que as esquerdas cegamente alardeiam por aí.
E as esquerdas, perdidas nas suas bolhas digitais, só se acham vitoriosas porque estão dentro da sua caixinha, do seu feudo de umas centenas de pessoas que concordam entre si nas mesmas fantasias.
Fora desse ambiente, o antipetismo renasce. Bolsonaro oferece às Forças Armadas dos EUA campos de treinamento militar, o que pode ser um sinal de um futuro golpe contra Lula.
As esquerdas estão frágeis. Lula está fraco. As chances das esquerdas voltarem ao poder são muitíssimo menores do que se imagina.
E o próprio triunfalismo cego e irritado das esquerdas paranoicas em ver Lula presidindo o Brasil de novo só revela o grande medo de tudo dar errado e a terceira via jogar seu candidato seja para derrotar Lula ou Bolsonaro no segundo turno.
Enquanto as esquerdas "chapeuzinho vermelho" acreditam que Lula é "o único vencedor" das campanhas de 2022, que ainda nem começaram, o antipetismo retoma fôlego e a terceira via faz reuniões constantes para lançar seus diversos candidatos, sendo um deles mais forte.
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