As esquerdas andam decepcionando, e muito, e Lula também frustra com sua fome descontrolada em costurar alianças sem critério, tudo "em nome da democracia".
A noção de arrogância das esquerdas ultrapassa os limites. Não são essas as esquerdas que eu gostaria de ver voltando ao poder. Há muita falta de humildade e autocrítica, enquanto há uma mania de triunfalismo em excesso.
Na noite de anteontem, um grupo de manifestantes apoiadores de Ciro Gomes, comandados por João Carlos Cyrilo, secretário-geral da Juventude Socialista e social media designer do PDT, estiveram diante da casa do ex-presidente do Senado, Eunício Oliveira.
Eunício recebeu Luís Inácio Lula da Silva num jantar na casa do senador, para acertar o apoio dos "caciques" do MDB ao petista, parlamentares que também estavam no encontro.
O grupo protestava contra essa reunião, avisando que Lula está fazendo acordos com políticos que, em 2016, estavam engajados no golpe político contra a presidenta Dilma Rousseff.
Uma faixa dizia "Está fazendo o que com essa gente, Lula?", enquanto outro cartaz perguntava "Ué, Lula, não foram esses que fizeram o golpe contra Dilma?".
O Correio Braziliense publicou matéria a respeito. Com a arrogância típica das esquerdas, a Revista Fórum publicou matéria alegando que o protesto era fake, que o apoio a Dilma Rousseff era "falso" e que tudo não passou de armação de João Cyrilo para desmoralizar Lula.
O grande problema é que os petistas não conseguiram explicar as razões de apoiar os acordos do petista com os emedebistas, apenas partindo para agressões ainda mais grosseiras do que os antigos ataques de Ciro Gomes a Lula.
Recentemente, Ciro Gomes diz que "o ódio que Bolsonaro e Lula alimentam um contra o outro está contaminando o Brasil", propondo que se evite o voto em qualquer um dos dois.
Eu poderia votar em Lula, mas vejo uma coleção de erros estratégicos do petista.
Não vou disparar desaforos contra Lula, não vou virar "coxinha", mas quando é para criticar os erros do petista, tem que se fazer, mesmo que seja com firmeza.
Não há condições objetivas para a volta das esquerdas ao poder, embora houvesse até oportunidade para as esquerdas se manifestarem de verdade e lutarem arduamente pela reconquista dos espaços perdidos em 2016.
Só que as esquerdas não agiram assim. Tiveram o tempo todo para derrubar Bolsonaro fazendo protestos de rua o tempo todo, e fazendo protestos de verdade, como os antigos sindicalistas.
Mas preferiram as micaretas dos protestos "eventuais", separados por longos intervalos, ou a zona de conforto da memecracia e da tricotada das esquerdas, com seus membros interagindo entre si nas redes sociais.
Algo comparável a jogadores de um time de futebol que ficam fazendo passes uns com os outros no seu campo de defesa, em vez de partir para a cima do time adversário.
Lula deixou para o passado sua função de grande líder e se comporta como se fosse celebridade de colunas sociais, dando entrevistas como se o Brasil estivesse às mil maravilhas.
E aí Lula faz alianças a torto e a direito (e à direita), sendo capaz de apoiar até um cupim se este inseto destruir o armário do quarto de algum Bolsonaro. Mesmo que seja com seus próprios carrascos de três anos atrás.
E isso é ruim. Não me tornei reaça por dizer que não voto mais em Lula. É porque me constrange ver ele repetindo 2002, ao lado de José Sarney, e de forma ainda piorada, jantando e negociando apoio com quem derrubou Dilma e torceu para o próprio petista ser preso.
É tão vergonhoso isso quanto ver as esquerdas cruzando os braços e se achando vitoriosas a todo custo.
Ficam isoladas com o triunfalismo nas redes sociais porque, nas bolhas digitais, as esquerdas se acham com tudo, porque nesses ambientes todo mundo concorda com todo mundo.
Mas, fora desse isolamento digital, o antipetismo voltou com toda força, e aí Lula tem que agir de forma bipolar.
Num momento, ele enfatiza suas alianças, sem critério seletivo algum, com o empresariado, querendo agradar o mercado da maneira mais convicta possível.
Noutro momento, ele quer reunir com associações de trabalhadores, como os catadores de lixos, ou sindicatos proletários, atitudes que se tornam cada vez mais raras.
Mais comum é ver Lula jantando com empresários e fazendo acordos com quem queria vê-lo prisioneiro pelo resto de sua vida.
E vou passar pano nisso tudo? Não. Ainda mais quando o que está em jogo é a bipolaridade, que a desinformação reinante entre os brasileiros sempre confundiu com "equilíbrio".
Eu abandonei o Espiritismo brasileiro porque não suportava essa catolicização medieval que contaminou a Doutrina dos Espíritos que, lá do Triângulo Mineiro, acendia velas para o imperador Cosntantino, num momento, e, em outro, bajulava o francês Allan Kardec com toda a saliva na boca.
Imagine os "espíritas" brasileiros, apoiando um "médium" picareta que usava peruca e boné, defendendo ideias tão reacionárias quanto Silas Malafaia, mas depois bajulando figuras progressistas como Paulo Freire e Júlio Lancelotti.
Eu também me indignei com as "rádios rock" que, de 1990 para cá, eram quase todas meras rádios pop que "só tocavam rock" e que, com perfil não muito diferente da Jovem Pan, alternavam entre momentos pop (sucessos mais "pop-rock" e besteirol) com outros pretensamente "radicais".
Imagine sintonizar uma emissora "roqueira" que, em dados momentos, toca até coisas pop como A-ha e Coldplay e amenidades tipo Spin Doctors e Counting Crows, num clima bem Jovem Pan, e em outros momentos prometer que se tornará "mais radicalmente rock" tocando até Nektar no fim de noite.
Bipolaridade só enche de orgulho o internauta médio, porque ele, na sua burrice, acha o maior barato esse jeito "o médico e o monstro" de ser.
Só que isso não traz coerência nem sinceridade. Aliás, o que é sinceridade num meio como as redes sociais, em que a mentira se torna o motor da autoafirmação humana?
E aí vejo o quanto os ciristas foram humildes e coerentes ao tentar avisar Lula de que aqueles emedebistas o quiseram ver atrás das grades poucos anos atrás.
Mas os ciristas foram ridicularizados pelos petistas que, arrogantes, não conseguiram sequer arrumar um motivo razoável para explicar por que Lula está negociando apoio dos seus próprios carrascos, como um galo de briga querendo aliança com a raposa.
E é por isso que eu me decepcionei com as esquerdas petistas, pelo rol de ilusões e pela falta de estratégia.
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