Bonito, né, esquerdas? A miséria aumentou no Brasil e as favelas duplicaram.
Ninguém lê Esses Intelectuais Pertinentes... e seu alerta urgente para a farsa do mito da "pobreza linda" que derrubou culturalmente o Brasil e abriu caminho para a máquina genocida de Jair Bolsonaro.
Têm medo de ler as revelações que derrubariam a reputação de críticos musicais, acadêmicos e cineastas envolvidos na gourmetização da miséria humana, desenvolvida sob o rótulo hipócrita do "combate ao preconceito".
Preferem ler livros de ficção escritos por autores milionários, cujos enredos parecem pastiches de seriados transmitidos pelos canais HBO, Netflix e Amazon Studios.
Tem autor de "livros independentes" que vive no bem-bom e mora num condomínio no Leblon que escreve livros sobre "bruxas" e 'mistérios místico-religiosos", como se fosse um Dan Brown do Baixo Gávea.
As obras mais vendidas são do nível daquelas em que o cavaleiro medieval Paul Durow procura o enigma da lendária espada de Bee Law. Pastiches de enredos nórdico-germano-britânico-celtas, escritos sob o sol ou sob a noite estrelada da Zona Sul do Rio de Janeiro.
Os livros mais vendidos fogem de qualquer compromisso com o Conhecimento e tem leitor arrogante dizendo que "tem direito de ler livro só para relaxar e esquecer os problemas".
Pois não é para esquecer os problemas. O cara bem de vida vai esquecendo os problemas da miséria e acaba se lembrando deles da pior forma, sendo assaltado à noite, na volta para casa, perdendo o seu carro e o seu celular cheio daquelas fotos exclusivas que ainda não pôs no Instagram.
Temos uma classe média cada vez mais burra e estúpida, mesmo a classe média de esquerda que, também na boa vida, põe seus filhos para estudar no exterior, relembrando os tempos do Brasil colônia, em vez de colocá-los nas nossas universidades públicas para batalhar por melhorias.
Um levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), usando o critério da Escala Brasileira de Segurança Alimentar adotado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta a dura realidade.
20 milhões de brasileiros, ou seja, 10% da população do nosso país ou o total da população do Chile, vive em situação de fome extrema, passando pelo menos um dia inteiro sem comer.
Já 55% da população, incluindo os anteriormente citados, se enquadram no critério de sofrer algum tipo de insegurança alimentar, independente de ser grave, moderada ou leve (em casos como subnutrição).
Um outro levantamento, do IBGE, mostra que o número de favelas em todo o Brasil aumentou de 6.329 para 13.151, no período entre 2010 e 2019.
Isso representa mais que o dobro. E não se fala do aumento vertiginoso de população de rua, que desde 2016 cresceu a olhos vistos, bastando uma simples observação nas ruas das cidades brasileiras.
Em parte desse período, 2010-2014, eu tive o trabalho solitário de combater o discurso intelectual dominante, que falava em "pobreza linda", "prostituição empoderada" e outras falsas maravilhas do discurso "contra o preconceito".
Naveguei contra a maré, com baixíssima visibilidade, enfrentando intelectuais que eram aplaudidos até quando tossiam em suas palestras.
A bregalização cultural era a consagração do viralatismo, que Esses Intelectuais Pertinentes... explica e questiona corajosamente, a ponto de publicar até mesmo os ataques que um Eugênio Raggi, historiador mineiro, contra meus questionamentos à cultura popularesca.
Eugênio, assim como outros nomes como Rodrigo Faour e a "santíssima trindade" da intelectualidade "bacana" - Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna - , além de outros "santos" entre cineastas, acadêmicos e jornalistas culturais, veem a pobreza humana de longe.
Eles pensam que as periferias vivem num carnaval permanente, que a pobreza é "fonte de felicidade" e que medidas como a prostituição, o comércio clandestino e o alcoolismo são "rotinas admiráveis" que fazem a "felicidade" e a "prosperidade" do povo pobre.
Me escapou o nome de um intelectual que anunciou que a pedofilia nos atos sexuais dos "bailes funk" ou nas "suingueiras" baianas (hoje a Bahia tem os "paredões" da pisadinha) era "iniciação sexual das jovens pobres da periferia". Mas já li essa atrocidade, que os algoritmos da Internet esconderam.
O esnobismo desses intelectuais sempre disparava chacotas e comentários hidrófobos contra quem contestasse esse "mundo feliz" das "Disneylândias suburbanas" das "periferias de contos de fadas".
Dito isso, os esquerdistas ainda me perguntariam: "Mas você vai votar na terceira via. Por que não vota em Lula, único a resolver a miséria humana de verdade?".
Não voto em Lula porque ele está cometendo erros estratégicos e fazendo acordos com a direita golpista, que inevitavelmente irá castrar o seu governo, que promete ser mais fraco do que no mandato de 2003-2006.
Além disso, tenho receio de que um menor avanço de Lula, um pequenino que houver, possa acionar as elites para golpear o petista, que nunca lutou para reconquistar espaços nem para criar uma base forte de resistência.
Lula abandonou os trabalhadores, essa é a verdade, e se perdeu no carnaval identitário das esquerdas engajadas num culturalismo conservador, abraçadas aos intelectuais "bacanas" e pró-brega e apegadas aos "brinquedos culturais" da direita (funqueiros, "médiuns", mulheres-objetos, craques etc).
Ele vai achar que basta fazer mágica com o Auxílio Emergencial que vai extinguir a miséria no país?
Ou ele vai prometer qualquer ousadia, sem perceber que o Brasil está pior do que em 2003 e não há condições objetivas para realizar o que o petista pretende fazer em apenas quatro anos?
Ainda mais com Lula enfatizando acordos com golpistas, com empresários neoliberais, achando que tudo é possível para formar a "frente ampla pela democracia e contra Bolsonaro".
Tudo isso tem seu preço. E as esquerdas já pagaram caro demais pelo seu culturalismo conservador.
Endeusaram intelectuais culturais vindos dos porões do PSDB, que exaltaram a bregalização como suposta "cultura das periferias", e seu maior ídolo religioso é um "médium espírita" de Minas Gerais que fez literatura fake, apoiou a ditadura militar e foi um "caridoso" tão fajuto quanto Luciano Huck.
Daí que a classe média dominou as esquerdas, que preferiram o identitarismo em detrimento das causas trabalhistas.
Com isso, achavam que a pobreza era um "paraíso", bastando apenas o assistencialismo fácil para resolver a miséria, enquanto a trilha sonora popularesca mostrava sua expressão musical e comportamental de baixíssimo nível (mas "é o que o povo sabe fazer", né, intelligentzia?).
E assim as esquerdas foram ouvir gente como Pedro Alexandre Sanches, que só apoiou Lula e Dilma visando obter grana da Lei Rouanet, e aí se deu uma confusão, Dilma foi derrubada e Bolsonaro foi eleito.
Nesse caminho, o MDB promoveu retrocessos políticos, a CLT foi extinta, os sindicatos se enfraqueceram e a Lava Jato desempregou milhares de pessoas a ponto de ex-funcionários da Petrobras terem que vender balinha na rua só para pagar a comida da família.
E Lula vai fazer acordo com Romero Jucá, Edison Lobão, José Sarney e Eunício Oliveira, parte dessa gangue que destruiu os direitos dos trabalhadores e botou muita gente a viver na rua, sob o clima do medo, da fome, da doença e da sujeira?
Por isso estou sendo mais realista do que essas esquerdas que estão aí.
Não vou votar em Lula porque ele não está sendo estratégico e ele subestima a realidade catastrófica que o nosso país vive, parecendo mais um líder de uma alienada "esquerda Saint Tropez" e sua vida cor-de-rosa movida a memecracia.
Podem essas esquerdas reclamar, mas sou muito mais esquerdistas do que elas, que ficam rezando para "médiuns" de direita garantirem a vitória eleitoral de Lula.
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