LULA SUPERVALORIZA PEQUENAS VITÓRIAS PONTUAIS EM SUA TRAJETÓRIA.
Imagine alguém perder os espaços e, sem que faça um único esforço para recuperá-los, acha que ainda é o dono deles de qualquer maneira.
É o que as esquerdas estão agindo hoje. Elas de repente esqueceram o golpe político de 2016, do qual até mencionam seu nome, mas esqueceram de tudo que realmente sofreram nesses últimos anos.
Do golpe político de 2016, tivemos retrocessos promovidos pelo governo Michel Temer.
Tivemos a violência institucionalizada dos "homens de bem", empoderados por essa retomada reacionária de cinco anos atrás.
Tivemos a surreal vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, que a sociedade reaça achou urgente eleger por conta de clichês mesquinhos de suposta moralidade.
Nesse caminho, Luís Inácio Lula da Silva foi preso por acusações infundadas da estranhíssima Operação Lava Jato, que se sustentava pelo mito messiânico de Sérgio Moro, então juiz, e sua relação juridicamente promíscua com um procurador do Ministério Público, Deltan Dallagnol.
Antes disso, eu via o trabalho de figuras do PT, como Gleisi Hoffmann, Paulo Pimenta, Wadih Damous e Lindbergh Farias em tentar barrar, sem sucesso, as atrocidades do governo Temer.
E Moro e Dallagnol ávidos em faturar financeiramente com a Lava Jato, revelando sua atuação abusiva que agredia os princípios do Direito.
A atuação do casal que defendeu Lula, Cristiano e Valeska Zanin Martins, foi exemplar, no esforço difícil em barrar as ações da Lava Jato e a pedir suspeição de Sérgio Moro.
Na prisão, Lula parecia lúcido, coerente, realista, e realizou grandes entrevistas que poderiam render um livro.
Aí, de repente, o Supremo Tribunal Federal, a partir de uma decisão de Luiz Edson Fachin, um de seus ministros, anulou gradualmente várias ações da Lava Jato contra Lula.
Aparentemente, Lula passou a ser considerado favorito pela maioria das pesquisas de intenção de voto, sendo considerado vencedor em todas as prévias no primeiro ou segundo turno conforme alguns dos institutos.
Mas o que me fez decepcionar seriamente com Lula e decidir não votar nele em 2022?
Simples. Com todo o respeito que tenho com Lula e outros personagens a ele associados, eu sinto que o líder petista está cometendo erros estratégicos muito graves.
Lula se esquece que o Brasil está passando por uma fase de distopia muito grande, se comportando como se fosse um ativista caricato de contos de fadas.
O Brasil está prestes a cair num precipício, e Lula fala como se tudo estivesse bem e só há algumas "marolinhas" para serem resolvidas em seu governo.
Lula e as esquerdas supervalorizam as pequeninas vantagens, a liberação do STF e as pesquisas eleitorais. Pensam que, com isso, estão com a "mão na taça", mesmo quando a competição eleitoral nem começou.
Fico aborrecido com isso. Não é o Lula que eu gostaria que fosse, e vejo que aquele líder operário, simbolicamente, morreu, em algum lugar do passado.
O Lula que está aí está alegrinho e tranquilo demais para um cenário sombrio que se aproxima no território brasileiro.
Além disso, a ilusão das pequenas vitórias (STF e pesquisas eleitorais) e a aparente popularidade de Lula o faz ficar tão empolgado que ele parece se lambuzar demais da retomada de seu sucesso.
E isso mesmo com o antipetismo ressurgindo nas ruas com toda força, com reflexos na mídia, como a Folha de São Paulo e a Record TV.
Não acredito que Lula seja financiado pelo narcotráfico como também não creio que ele tenha apoiado o golpe que derrubou Dilma Rousseff.
Mas fico muito triste e, de certa forma, bastante aborrecido ao ver que Lula pensa que ganhou todas, que as esquerdas se acham donas do pedaço que, em verdade, já não lhes pertence há um bom tempo.
E isso fez com que Lula fizesse acordos com quem quisesse e achasse, mesmo assim, que pode também fazer o que quiser no seu governo.
Também me aborreço com a arrogância das esquerdas que ficam agredindo seus oponentes, achando que as esquerdas ganharam toda a parada.
Ciro Gomes e seus apoiadores até fizeram alertas quanto aos acordos que Lula faz com a turma golpista do MDB.
É claro que Ciro exagerou, ao dizer que Lula "teria conspirado contra Dilma Rousseff", e isso provocou o ódio das esquerdas contra o pedetista, a ponto deste ser tratado como se fosse um "Jair Bolsonaro 2.0".
Uma matéria do portal BBC Brasil até tenta explicar o que os próprios petistas não explicam: que a aliança de Lula com os golpistas é "pragmática", com as divergências supostamente postas de lado em prol do objetivo comum de combater Bolsonaro.
Mas eu não creio que seja válido o PT aceitar o "resultado do impeachment" e achar que pode se aliar aos mesmos que derrubaram Dilma.
É como se, na escola, os valentões tenham agredido e empurrado a amiga de um aluno gordinho que, depois, para se candidatar à presidência do grêmio estudantil, ele tenha que pedir apoio aos mesmos agressores.
O PT alega que age por pragmatismo. Mas é essa desculpa de pragmatismo que está fazendo do Rio de Janeiro o Estado mais decadente do Brasil.
O problema é que Lula quer falar com todo mundo, fazer alianças com o que aparecer na frente, sem ter critérios reais de quais alianças poderão ser ou não nocivas no futuro.
Lula não vai receber de graça o apoio de quem diverge de seu projeto político.
Não há almoço grátis e o pretexto da "democracia" pode causar ao petista problemas futuros e comprometer seu projeto político.
Lula faz acordos com empresários, com políticos golpistas, com religiosos conservadores, e isso faz com que ele tenha que pagar contas por isso.
Ele terá que tirar satisfações. Terá que eliminar pontos de seu programa de governo que desagradam essa parcela de aliados.
Isso me fez decepcionar com Lula, porque ele está repetindo 2002.
Fico muito triste quando vejo que o Lula que parece "ganhar todas" não é o Lula que admirei, mas um Lula domesticado pelos aliados mais conservadores.
Daí que não vou votar em Lula, porque não quero que ele faça um papelão de um governo fraco e sem mudanças significativas para a população.
Da mesma forma, também não quero que Lula faça o mesmo papel de Dilma e João Goulart, que começaram seus governos com pautas conservadoras, mas, quando avançaram, foram golpeados.
E é isso que me faz, apesar de todo o apoio que dei ao Lula, eu não querer mais votar nele. É porque Lula não parece ver os limites e impasses do caminho para voltar à Presidência do Brasil.
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