Overdose de cerveja, carros, obscurantismo religioso. 1970, Brasil do governo Médici? 1974, Brasil da Era Geisel? Não, é o Brasil de 2023 de Lula 3.0, que repagina o milagre brasileiro, com muito consumo e um pouquinho de cidadania, sem o aparato repressivo de 50 atrás.
Temos uma euforia consumista que não pode ser confundida com qualidade de vida. Afinal, o Brasil tem, por exemplo, um mercado de trabalho que comete etarismo ou dá preferência a gente divertida do que talentosa, e concursos públicos que, perdidos na meritocracia das questões complicadas, não contratam os servidores certos, pois vários aprovados saem nas redes sociais falando mal do trabalho conquistado.
O Brasil não tem um padrão comparável ao da Escandinávia nem pode se arrogar em ser melhor do que essa região do Norte Europeu. Pelo contrário, nosso país anda muito atrasado, querendo apenas passar o milagre brasileiro a limpo, pois o que se vê são pessoas com dinheiro na mão eufóricas em comprar, comprar e comprar, enquanto, fora da bolha dos bem de vida, da elite do bom atraso que se acha "dona de tudo", temos pessoas gritando, chorando e se irritando de tanta pobreza e adversidades na vida.
Ontem um morador de rua se agitou feito louco sacundindo os braços como se quisesse bater nos carros que passavam pela Rua Cardoso de Almeida, em Perdizes, aqui em São Paulo. Esses pobres, que são muito diferentes da pobreza de comédia, de novela e dos discursos espetaculares de Lula, estão revoltados porque não têm a quem recorrer na vida.
As pessoas que ganham dinheiro sem necessidade é que ficam consumindo demais cerveja, automóveis, entretenimento, só quer curtição para si e privilégios extravagantes. E no caso dos automóveis, o erro de Lula em baratear os automóveis é o risco de haver um superconsumo, não bastasse as emissoras de TV realizarem uma verdadeira sobreposição de comerciais de automóveis ou de peças automotivas.
E aí vemos que, embora congestionamentos existam no Primeiro Mundo, no Brasil há o aspecto da gourmetização da coisa, pois consumismo é visto como "felicidade", mas uma felicidade tóxica, com pessoas consumindo cerveja, carros, diversão, cigarros e até criação de cachorros. Tudo garantindo o gasto abusivo e irrefletido do dinheiro, enquanto quem não tem grana fica enlouquecido ou deprimido.
E os assaltos estão voltando a crescer, como, também ontem, de manhã, no trecho do Itaim Bibi da Avenida Brigadeiro Faria Lima, a "meca" da burguesia brasileira, um ladrão tentou realizar um assalto, trocando tiros com policiais e, depois, preso. Isso é um reflexo de gente indignada com sua falta de perspectivas, enquanto os que estão bem de vida e de bem com a vida consomem, nos bares, restaurantes e boates, cervejas em quantidades industriais e cigarros próximo disso.
E isso também faz com que muita gente seja obrigada a acordar mais cedo para trabalhar, para que os congestionamentos não façam atrasar na chegada ao ambiente profissional. O velho problema do excesso de carros nas ruas, embora comum em qualquer país, no Brasil se soma ao contexto tóxico do cenário sociocultural e político atual, comandado pela elite do bom atraso.
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