A elite do bom atraso pouco está se importando com a pobreza do outro. Ela julga a pobreza uma "coisa linda de se ver", mas não para vivê-la. Pobreza é bom para quem é pobre, segundo essa "boa" sociedade que ganha demais sem ter necessidade de ter sequer metade do que ganha. Afinal, ganhar para quê? Para comprar grandes quantidades de cerveja? Para comprar um monte de comida e jogar boa parte dela no lixo? Para fazer festinhas todo fim de semana? Para fazer viagens supérfluas para a Europa?
Fora da bolha da elite do bom atraso, vemos que existem pessoas pedindo socorro. E aí eu me lembro de vários canais de programas de socorro dos animais, dos quais se destaca o ótimo Hope for Paws, que frequentemente mostra animais de rua em estado deplorável que, passando por um intenso tratamento de salvação, quase sempre se recuperam e passam a ter uma aparência saudável.
A espécie humana precisa de um tratamento assim, não sob a sombra da religião, com todo o respeito dos que fazem questão de ter uma religiosidade. Afinal, é preciso ajudar o próximo sem focalizar a "realização pessoal" do suposto filantropo, pois o foco da ação de ajuda ao próximo tem que ser os miseráveis, não o ídolo religioso visto como um suposto super-herói.
Chega de tanta idolatria, pois os pobres não gostam disso. Fica parecendo que o pobre é apenas um instrumento para o triunfalismo de ídolos religiosos, vários deles usando a caridade para mascarar seu vergonhoso charlatanismo e sua soberba vaidade em ver fileiras de miseráveis cansados, famintos e deprimidos terem que esperar horas para receber, por mês, um saquinho de mantimentos que se esgotam em dois dias.
Os pobres querem é tratamento de saúde, assistência psicológica - viver na miséria extrema é traumatizante - , educação e emprego. Seria preciso um esforço enorme e de natureza laica, tal como se faz com cães e gatos, que ganham até nome, enquanto em certas manifestações de "caridade religiosa" os pobres mal conseguem ser reconhecidos pela cara, quanto mais pelo nome, pois a idolatria idiota dos beatos de sofá não está aí para saber quem é o indivíduo pobre a ser assistido.
Devemos mudar a mente do nosso país e botar a elite do bom atraso na berlinda, pois se trata de uma ordem social que protagonizou os anos de chumbo da ditadura militar e agora quer bancar a boazinha, apagando seu passado escravocrata e golpista para posar de "democrática de esquerda". É ela que mantém as desigualdades sociais mal disfarçadas pela caridade paliativa que beneficia mas os pretensos altruístas, que recebem até medalhas, do que os pobres, que ficam com as migalhas.
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