O Brasil atual é complexo e não se trata somente de resíduos do bolsonarismo. A situação está feia mesmo dentro da sociedade dita "democrática", por parte de uns abastados que, depois da pandemia e do bolsonarismo, tiveram um apetite insaciável e guloso por consumismo, achando que o Brasil virou um grande parque de diversões.
Nessa bolha social em que pessoas ganham demais sem ter necessidade e sem saber direito o que vão gastar a não ser com supérfluos, e cujo mercado de trabalho dá preferência a pessoas "divertidas" do que talentosas, há um outro lado não menos glamouroso e diferente da "gente bem" que conta piadas e dá risadas histéricas diante do público.
Ontem mesmo, quando pegava o metrô para a estação Santa Cruz, para chegar ao estágio de corretor de imóveis que estou fazendo num empreendimento da Vila Clementino, aqui em São Paulo, vi um jovem pedindo dinheiro para comprar duas caixas de bombons para vender na rua. Ninguém deu um níquel. Eu, passando também por dificuldades, não podia, mas se quisesse, eu ajudaria, sim.
A "boa" sociedade "não" tem dinheiro para ajudar o próximo, auxiliar quem está com dívidas a pagar, comprar doces, comprar jornais e revistas independentes, ajudar músicos de rua etc. Mas se é um vendedor de cigarros e cerveja, o dinheiro "inexistente" aparece como que por um milagre.
Por outro lado, vemos gente como a atriz Narjara Turetta tendo dificuldades para arrecadar dinheiro para uma peça teatral. Até ontem, Narjara arrecadou R$ 1.465,99, cerca de R$ 35 a menos da meta financeira de R$ 1,5 mil para montar um monólogo sobre a vida e a carreira da experiente atriz. Mas o valor só chegou a isso porque, anteontem, Narjara reclamou de só ter arrecadado R$ 425. Mesmo competente, ela tem que penar para continuar em atividade. Ela já ficou desempregada e teve que vender água de coco em Copacabana, no Rio de Janeiro.
É o país em que as subcelebridades ficam muito ricas, que influenciadores digitais e craques de futebol levam a melhor no alpinismo social, no caminho de se tornarem os novos super-ricos, é triste que haja o lado sombrio dos que precisam apelar para ter algum sustento.
Este é o lado nada alegre da sociedade cujas pessoas "legais" fazem parte da elite do bom atraso, ávida por diversão e positividade tóxicas, alérgica a senso crítico, disposta a rir descontroladamente. A felicidade tóxica faz com que, aqui em São Paulo, as pessoas tenham um apetite desmesurado e até abusivo por diversão, a ponto de torrarem dinheiro com cerveja, bebida como se fosse água mineral servida no deserto, e cigarros tragados com muita vaidade e arrogância pelos "bacanões" de plantão.
A situação está difícil e o Brasil de Lula 3.0 está complicado e socialmente degradado. Pessoas que querem e ganham demais o que não precisam e outras que perdem e não tem o necessário. O Brasil continua desigual mesmo quando a tal "sociedade do amor" exerce protagonismo. Isso porque esta sociedade "democrática" não difere muito da "sociedade do ódio" bolsonarista.
Tratam-se de duas fases, como o médico e o monstro, como Dr. Jekyll e Mr. Hyde. A elite do bom atraso é a elite do atraso do mesmo jeito. Mesmo trocando armas por livros (desde que os livros não tenham senso crítico nem tragam Conhecimento, é claro).
Comentários
Postar um comentário