Passada a festa identitária dos lulistas, a popularidade de Lula só não está oficialmente em queda livre porque os institutos estatísticos, em suas supostas pesquisas de opinião, "seguram" o prestígio do presidente brasileiro de forma a garantir, com base nos seus supostos entrevistados, que o chefe da nação está em alta. Também, o próprio Lula compra o apoio da mídia alternativa, dos institutos e do Congresso Nacional para fazer os favores do chefe do Executivo federal.
Só que, fora dessas bolhas sociais, Lula está desacreditado. É só percorrer a maior parte do país, seja que lugar for. O apoio ao Lula está mais voltado às esquerdas identitárias, incluindo os pobres remediados que têm o luxo de projetar na vida real a imagem novelesca dos "pobres felizes" das favelas de plástico. Fora isso, é a direita moderada que está feliz porque Lula virou a mascote da Faria Lima.
Os lulistas lutaram como puderam para abafar e boicotar as críticas ao presidente, que retornou diferente, no sentido negativo do termo, reduzido a uma caricatura do presidente dos dois mandatos anteriores que, se não era revolucionário, pelo menos trouxe propostas que, no contexto do período 2003-2010, haviam sido bastante interessantes e promissoras.
Mas hoje o Brasil é outro e Lula errou quando passou a compactuar com a direita moderada, desde a campanha presidencial de 2022, e fingir que estava não somente fiel às raízes sindicais como fazer de conta, também, de que estava mais esquerdista que nos mandatos anteriores.
Mas a pantomima não deu certo e não deu, também, para os lulistas pintarem o presidente estadunidense Joe Biden como um pretenso herdeiro do legado comunista de Fidel Castro. Veio a guerra entre Israel e o povo palestino e Biden voltou a ser o tradicional estadunidense de direita se achando dono do mundo.
Também os apoiadores de Lula, tanto os de centro-esquerda quanto os "lulistas-novos" da direita moderada - que entrou no trem lulista desde que a intelectualidade "bacana", incluindo o "filho da Folha de São Paulo" Pedro Alexandre Sanches, foi defender a degradação da cultura popular sob a desculpa de "combater o preconceito" - , deixaram a máscara cair e mostraram que o Brasil está totalmente incapaz de virar um "país socialista de Primeiro Mundo (?!)".
Lula demonstrou peleguismo, sacrificou seus princípios, mordeu as iscas que a frente ampla da campanha eleitoral e o Centrão da Câmara os Deputados lançaram para o presidente e este, visando mais as vantagens de sua promoção pessoal, mandou o progressismo político às favas. Até a proposta de taxar os super-ricos tende a ficar com aliquotas brandas, cobradas sazonalmente e com seletividade, porque Lula vai isentar os super-ricos que o ajudaram a ser eleito em 2022.
No últimos dia 02 de novembro, Lula lançou a Garantia da Lei e da Ordem, um projeto de segurança militar nos padrões conservadores do governo Michel Temer. Em tese, a medida irá proteger portos e aeroportos, ignorando a competência da Receita Federal e se limitando em investir na patrulha militar. Auditores da Receita Federal lamentaram a decisão de Lula, que, todavia, teve, por ironia, a aprovação do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, que comparou a GLO de Lula ao projeto de policiamento do conservador governador fluminense Cláudio Castro.
A onda de decepções do governo Lula, aliás, já não pode ser abafada nem escondida, e os lulistas já deixaram de convencer esnobando o senso crítico manifesto contra o atual governo. Isso porque, fora das bolhas sociais, são os trabalhadores que estão reclamando dos resultados pífios do governo Lula, que durante um bom tempo preferiu priorizar, sem necessidade, a política externa, mais preocupado em reconstruir a Argentina e a Ucrânia e a construir a Palestina do que reconstruir o Brasil.
Lula começa a se desgastar e, ao que parece, não tende a mudar, até porque está mais empenhado em proteger e promover sua reputação pessoal. Lula dificilmente retomará um rumo mais à esquerda, e a História do Brasil nos últimos tempos mostrou que, se ele fizer uma mínima tentativa nesse sentido, um golpe será tramado contra ele. Mas o golpe é impossível, não porque o Brasil respira esquerdismo do Oiapoque ao Chuí, mas porque Lula virou a mascote da Faria Lima e não vai desagradar seus novos amiguinhos de infância.
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