LULA NÃO TEM MAIS A BRAVURA QUE O CONSAGROU. O QUE ELE FAZ AGORA É JOGO DE CENA.
É um caminho sem volta. Esquerdistas de raiz ainda sonham com o Lula dos sindicatos voltando, se não a pleno vapor, mas ao menos parcialmente, nos aspectos mais essenciais. Ainda sonham em ver Lula voltando às raízes esquerdistas, à um perfil próximo de um líder audacioso, fiel às causas trabalhistas.
Tudo em vão.
Afinal, Lula há muito tempo não tem mais o perfil de líder esquerdista. Ele se tornou bastante conservador e apenas tenta compensar isso promovendo uma imagem de líder humanitário no exterior e de filantropo no Brasil. E Lula deixou de governar de verdade, abandonando o que ele fazia nos mandatos anteriores, que eram até muito bons, embora moderados.
Tudo o que Lula faz agora é marketing. Ele quer a promoção pessoal, persegue o Nobel da Paz como se a candidatura a esse prêmio fosse uma gincana escolar. Lula se mete em assuntos internacionais como uma criança mimada dando pitaco em conversas de adultos. Tudo no desespero de forjar protagonismo mundial de um país de 523 anos, o Brasil, que se acha "mais amadurecido", sem sê-lo de verdade, do que países com mais de dois mil anos de existência.
Dois episódios mostram o quanto o "Lulão dos sindicatos" acabou para sempre.
O ex-senador Roberto Requião, que apoiou Lula com entusiasmo mas se sentiu traído pelo hoje presidente do Brasil, acusa o petista de ter colaborado com a privatização, no Paraná, da COPEL (Companhia Paranaense de Energia) e das cobranças de pedágio que fazem o setor paranaense o mais caro do Brasil.
Para piorar, Requião ainda recebeu um comunicado do presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, assumindo consentir com a privatização. Disse Requião, a respeito:
"A resposta que conseguiu dessa maravilhosa instituição financeira comandada pelo nosso amigo Aloizio Mercante foi: ‘Para nós, não tem importância. Nós não perdemos um tostão com a privatização’; e não interferiram no processo".
Durante o golpe de 2016, Roberto Requião, que era do partido de Michel Temer, o MDB, no entanto atuou ao lado dos petistas para tentar barrar o "pacote de maldades" do então presidente da República. Infelizmente, os petistas hoje se resignaram com certas pautas - como a não ruptura integral da reforma trabalhista - e Requião, abandonado por Lula, passou a ser um dos críticos do governo.
Outro episodio foi a entrevista de Lu Alckmin, mulher de Geraldo Alckmin, vice-presidente do Brasil, passou a adotar uma posição favorável ao Lula, o qual adotava uma postura de aversão que ela assume ter ficado no passado. A entrevista foi dada à jornalista Victoria Azevedo, da Folha de São Paulo, e Lu deu a seguinte declaração, que viralizou e virou destaque nos tópicos do Google:
"Viajamos o Brasil inteiro, me encantei com o Lula. Porque em cada lugar que eu ia, era muita gente. E quando ele falava, o povo olhava para ele, chorava. Por quê? Porque ele passa sentimento. Ele foi pobre, ele sentiu fome, sentiu frio, então é uma coisa que não dá para você fingir, se você não estiver sentindo essa empatia. Passei a admirar muito ele. A vida é isso, né? O que você pensava ontem você já não pensa hoje".
Se Lula hoje é mais querido por pessoas conservadoras do que progressistas, mais adorado pela burguesia do que pelo proletariado, devemos admitir que o presidente do Brasil se distanciou até do moderadíssimo perfil de centro-esquerda dos dois mandatos anteriores.
Por isso, Lula se reduziu a uma caricatura do que ele foi. Ele não é mais o político progressista que eu mesmo admirava até 2020, a ponto de eu ser incentivado a ler mais livros pelo exemplo dado pelo petista há 20 anos. Hoje Lula é a figura do mais típico pelego, um sujeito que não dá ouvidos a conselhos nem a advertências, agindo conforme seus impulsos e se aliando com forças conservadoras, sejam elas o empresariado da Faria Lima, os deputados do Centrão ou os líderes da frente ampla demais.
Sem poder ser mais um político de esquerda, Lula agora realiza seu teatrinho internacional, forjando uma falsa bravura que soa mais uma bravata, um jogo de cena. Se arrisca a dar pitaco nos conflitos estrangeiros, criando polêmicas desnecessárias, e a ênfase na política externa não é necessária, mesmo diante da necessidade de resgatar os brasileiros em Gaza, pois isso poderia ter sido feito sem que Lula realizasse uma única viagem para fora do nosso país.
Os benefícios trazidos para os brasileiros são mais debilitados do que nos dois mandatos anteriores. Lula consentiu com parte do legado do golpismo de Temer, aceitando até a perigosíssima medida de entregar para estrangeiros o monitoramento por satélite da Amazônia.
Lula se rendeu aos que sabotaram seu projeto político, desde a intelectualidade pró-brega, que agora comemora a consolidação do mercado da música brega-popularesca - hoje quase totalitária e cujos empresários, em tese "pobrezinhos", se tornaram na prática os novos super-ricos, que, em vez de pagar mais tributos, recebem mais verbas estatais, via Ministério da Cultura, anabolizando suas fortunas exorbitantes - , até o empresariado da Faria Lima.
Por isso, Lula hoje não é a sombra do lider sindical que havia sido. E seu governo é o mais fraco dos três mandatos. Vários esquerdistas se sentem traídos por Lula e a esperança de que ele volte à antiga essência do líder trabalhista se extinguiu para sempre. Hoje Lula é um neoliberal e esse caminho não tem volta.
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