A autoproclamada "sociedade do amor" está realizando a pior das desigualdades sociais, mesmo quando se anuncia como "defensora de uma sociedade mais justa e igualitária ".
De um lado, pessoas consomem cerveja em excesso e o "pão e circo" do entretenimento compulsivo, da diversão a qualquer preço, das risadas histéricas e quase debiloides diante de piadas sem graça que só esse grupo acha engraçadas. Junto a elas, pessoas com orgulho de jogar comida fora depois de umas garfadas no pratarrão de comida.
Há também pessoas que ganham a sorte grande, com dinheiro demais desperdiçado em supérfluos, incluindo aquelas festinhas com grupos de sambrega, desses que prometem "samba de verdade" (tal qual as bandas poser lá de fora que prometem "puro rock'n'roll") cantando coisas como "u-u-u-u-uhu" ou "legue-legue-leguelê". Ou que viajam para a Europa mais para se exibirem e contar para os amigos. Ou comprar carrões e televisões para cada membro da família. Ou transformar até apartamento studio em canil, com excesso de criação de cães.
De outro lado, porém, o lado sombrio que não existe na bolha do Brasil de Lula 3.0. Pessoas miseráveis, sem teto, gritando e desabafando sozinhos, sem ter a quem recorrer. Pessoas que se enchem de dívidas e só veem perder dinheiro. Pessoas que não conseguem ganhar em concursos públicos, sorteios, loterias, na simples esperança de salvar suas finanças, com as portas e janelas da vida se fechando e as adversidades crescendo sem parar.
Neste Brasil da felicidade tóxica, do futebol tóxico da mídia histérica e mercenária, da festa tóxica da cerveja consumida em quantidades industriais dentro dos estômagos de jovens afoitos em diversão como um fim em si mesmo, e a alegria tóxica de religiões como o Espiritismo brasileiro, que nas entrevistas das redes sociais aparecem gente sorrindo de forma ao mesmo tempo débil e hipócrita, defendendo literatura fake (que juram ser "do outro lado da vida") e se passando por "racionais" (forma mentirosa de mascarar o obscurantismo retrógrado dessa religião tóxica, o Catolicismo medieval de botox).
Nota-se a hipocrisia desses "espíritas" que compram o céu forçando pobres a frequentar longas filas para obter umas migalhas por mês, enquanto "médiuns" que oferecem essa pretensa ajuda são glorificados nas redes sociais. Alguns desses farsantes religiosos, além de se fingirem de humildes, adquirem carros SUV, compram apartamentos de luxo, viajam para a Europa e ainda se gabam em dizer que isso é presente "pelo trabalho do bem". E a elite do bom atraso aplaudindo tudo isso.
Fora dessa bolha de hipocrisia e cinismo sem fim, a realidade é outra. No dia 20 de novembro passado, feriado em que eu tive que trabalhar - estou fazendo estágio de corretor de imóveis e tenho que trabalhar em feriados e fins de semana (o último fim de semana só não trabalhei por causa do temporal que me complicaria deslocar de casa para o trabalho e vice-versa) - , um negro com aparência de morador de rua, vestido de maneira humilde, vendia uma modesta caixa de balas com surpreendente simpatia, que dava pena devido a tamanha pobreza.
Ele estava no ônibus e o produto que vendia era uma bala em formato tubo, sabores morango e frutas vermelhas. Um sujeito bem intencionado, gentil, que nos faz pensar o quanto essas pessoas miseráveis, em situação de rua e várias forçadamente inseridas na cracolândia, merecem atenção, respeito e carinho da sociedade.
Esses pobres diferem muito do pobre espetacularizado que aparece em novelas da TV, em humorísticos como Vai Que Cola e Ó Paí Ó e até mesmo nos discursos espetacularizados do presidente Lula. Pois se trata do pobre da vida real, o pobre que chora e se revolta, não o "bom pobre" que desce a favela cantando e dançando, orgulhoso de sua situação miserável, como se a periferia vivesse num eterno Carnaval.
Vemos um Brasil que não consegue ganhar dinheiro e se afunda em dívidas, em pobreza, em falta de casa e de emprego. É um Brasil diferente daqueles que, de bem com a vida, são muito mal-agradecidos, do motorista de SUV que vive sempre estressado, das pessoas que podem comprar comida para jogar boa parte dela no lixo, ou do servidor público que ganha concurso fácil para depois reclamar de sua profissão nas redes sociais.
O nosso país precisa tomar juízo. Pelo menos os que têm demais deveriam aprender a compartilhar e oferecer o excesso do que possuem para quem não tem. A "boa" sociedade, ao menos, deveria reduzir seu egoísmo. Isso é reconstruir o país. Se os que têm muito ficarem cegos no seu egoísmo festivo, vai que vão perder tudo um dia.
Se a elite do bom atraso não olhar para quem vai mal na vida, esses prejudicados poderão ser usados tendenciosamente como cabos eleitorais de Jair Bolsonaro. Milei está aí como um tubarão a querer jantar molusco. Nada está garantido neste Brasil que reduziu a democracia numa festividade tóxica.
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