O assalto que aconteceu ontem, quando ladrões invadiram, por volta das 14 horas, uma cafeteria situada num casarão antigo do bairro de Santa Cecília, mais precisamente a Rua Barão de Tatuí, reduto de restaurantes, cafeterias e lanchonetes aqui em São Paulo, é um alerta para a elite do bom atraso que só quer consumir, consumir, consumir.
Afinal, se há muitos assaltos, é porque a desigualdade social está extrema. E ela se torna gravíssima na medida em que os que querem demais, mesmo aqueles que obtém a sorte grande através de loterias, promoções de produtos diversos, obtendo muito dinheiro sem ter necessidade real disso, querem viver do supérfluo em vez de ajudar eventualmente o próximo. Juram não ter dinheiro para ajudar o próximo ou para comprar de balas a jornais e revistas alternativos, mas o dinheiro aparece rapidinho quando se trata de comprar cerveja ou cigarros.
A elite do bom atraso não aprendeu com o período pós-milagre brasileiro, quando a ditadura militar lançou um projeto econômico que só beneficiava as classes mais abastadas, incentivando seu consumismo desenfreado que se reflete até hoje. Mas como os mais pobres ficavam de fora desses benefícios, eles reagiram através de uma gigantesca onda de assaltos que marcou todo o Brasil, principalmente nos anos 1970, 1980 e 1990.
A "boa" sociedade só pensava em colecionar carrões, realizar festas nos fins de semana, viajar para o exterior, entre outras coisas supérfluas. Reagia aos pedidos de pobres e outros necessitados - quando pessoas não necessariamente pobres sofrem uma fase de gravíssimos problemas financeiros - com desdém, enquanto torravam dinheiro com festinhas, carrões, televisão em cada compartimento de seus apartamentos e mansões.
O dinheiro em excesso que não é concedido aos mais necessitados acaba se transformando numa quantia maior do dinheiro e dos bens a serem assaltados por aqueles que, acumulando adversidades, se tornam pessoas rancorosas e vingativas. Do contrário que muitos religiosos falam, sofrer em excesso dificilmente gera pessoas brilhantes e altruístas, antes gerando uma maioria de pessoas vingativas e ensandecidas, que se tornam uma ameaça e um risco para muitos.
Pelo jeito, o quadro do milagre brasileiro se repete, por ironia, com o atual governo Lula, que cumpriu os propósitos do AI-5 sem promover uma prisão, tortura ou morte. Um AI-5 sem banho de sangue, com um povo convidado a ficar resignado e aceitar tudo, estando de acordo com o que é estabelecido pelo "sistema". E, com isso, temos o milagre brasileiro que traz grandes benefícios para as classes abastadas e benefícios precários para os mais pobres.
Os que querem demais na vida, sonhando em ser os "novos super-ricos" com o objetivo de "democratizar" a plutocracia, acabam tendo que pagar caro por seu egoísmo travestido de "amor". E como não quiseram doar uma pequena parcela de suas granas para ajudar o próximo, acabam perdendo quantias maiores e até seus celulares com os quais se distraem lendo as redes sociais. Os assaltos de Santa Cecília são um grande aviso para os que querem demais e correm o risco de perderem tudo.
Menos egoísmo, pessoal.
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