O "FUNK" REPRESENTA A HIERARQUIA DO PORTA-VOZ, O MC, E DO MENTOR, O DJ, RESPONSÁVEL PELA "ELABORAÇÃO MUSICAL", POR SINAL O MESMO FUNDO SONORO QUE FAZ DO GÊNERO UM EXEMPLO DE KARAOKÊ NÃO ASSUMIDO.
"Funk", piseiro, arrocha, trap. Notaram que esses gêneros, embora classificados pela intelectualidade "bacana" como "verdadeira música popular", não passam de meros karaokês, o que diz muito da precarização sonora desses estilos que, do contrário da imagem de "cultura comunitária das periferias", se revelam produtos que fazem o enriquecimento dos empresários de entretenimento envolvidos?
Cada estilo busca ter um mesmo padrão de batida e base sonoras que vale para tudo quanto é intérprete. Isso não é cultura de verdade, mas um karaokê não assumido e a precarização ainda tem um ingrediente que muita gente tenta fazer vista grossa e nunca admitir essa realidade.
É que esses ritmos brega-popularescos retomam a velha hierarquia entre o vocalista e o compositor, pois, embora em casos como o "funk" e o trap, os intérpretes se autodefinam "compositores", eles são apenas meros porta-vozes, pois são os DJs, produtores e programadores de sintetizadores os verdadeiros compositores, não no sentido da criação de partituras e melodias, mas como compositores de bases sonoras, num padrão que, em cada gênero, soa igual para todo mundo.
Na música de antigamente, o intérprete geralmente não cantava suas músicas e havia uma divisão de tarefas entre compositores, instrumentistas e arranjadores, atividades divididas para diferentes pessoas, que quase não podiam assumir mais de uma função ao mesmo tempo. Quando muito, era um músico mais destacado ou um maestro que poderiam desempenhar o papel de compositores.
Num contexto bem diferente e com uma qualidade musical e artística bastante inferiores, a divisão de tarefas é retomada pela música popularesca, quando a função de vocalista e elaborador de sons (espécie de forma precarizada de ser músico) são separadas, pois o vocalista dificilmente pode ser instrumentista.
Isso mostra o quanto é falso o choroso e desesperadamente apelativo discurso da "cultura das periferias", incluindo a retórica vitimista "contra o preconceito" que é repetida de maneira cansativa até pela comunidade acadêmica.
O que vemos é uma profunda precarização musical e artística, e isso soa risível quando o trap e o piseiro, respectivamente, têm batidas que reproduzem o som de lata de ervilha e balde de plástico. E essa precarização vem de propósito, porque dá um falso aspecto de "simplicidade popular" que, no entanto, resulta em lucros exorbitantes, colocando esses empresários do entretenimento como os novos super-ricos, mesmo travestidos de "humildes".
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