O momento atual, no Brasil, sugere que nosso país está autorizado a se tornar socialista, esquerdista e revolucionário. Mas tudo isso é teoria. Afinal, é bom demais para ser verdade que o Brasil, que já teve golpes políticos para derrubar projetos governamentais progressistas, ver o mundo neoliberal, a partir dos próprios EUA, consentindo com um projeto político brasileiro que, em tese, se anuncia como firmemente de esquerda.
Afinal, não dá para ser ingênuo e achar que os tempos mudaram de graça. Alguns fatores estranhos fizeram com que o esquerdismo brasileiro seja tolerado e até apoiado pelas forças conservadoras moderadas, e isso tem que ser levado em consideração.
O próprio presidente Lula, que havia saído da prisão há quatro anos, amenizou seu projeto político de forma que hoje ele se aproxima mais da "frente ampla" ou do Centrão - eufemismo para a direita moderada - do que de suas raízes esquerdistas. Suas concessões em relação ao projeto político aplicado nos dois mandatos anteriores - que já eram bastante moderados - tornaram-se tão intensas que hoje Lula é apenas um pálido arremedo do que ele havia sido em 2003.
Quanto ao povo, o trabalho midiático da Rede Globo em domesticar o povo pobre e a juventude em geral, precisa ser analisado. Atrações como Malhação e os núcleos pobres de novelas junto ao humorismo populista do seriado Vai Que Cola e da franquia Ó Paí Ó, foram cruciais para eliminar desses antigos agentes sociais de revolta e mobilização enérgica qualquer vestígio de revolta e indignação.
Em vez disso, o que vemos são multidões de pobres e jovens domesticados, voltados ao consumo, à positividade tóxica e a alegria associada a este astral, pessoas "felizes" e um tanto ingênuas, distantes do que eram os rebeldes que historicamente protestavam contra a opressão e as injustiças.
Hoje, como tudo está "bem", então essas forças sociais hoje possuem seu nível de engajamento bastante debilitado. Através da domesticação dos pobres e dos jovens, o antigo sindicalismo se enfraqueceu, bem mais do que as canetadas retrógradas de Michel Temer puderam fazer. Aquele sindicalismo combativo praticamente desapareceu e, se Lula, numa estranha aliança com Joe Biden, fala em "fortalecer os sindicatos", ele está falando em peleguismo, em sindicalistas subordinados às exigências do empresariado.
Portanto, com um quadro desses inócuo e resignado, dá até para a burguesia da Faria Lima posar de "esquerdista", pois agora temos um pretenso esquerdismo, que é festivo, inofensivo, resignado, complacente e outros adjetivos socialmente de acordo com o "sistema". Sem falar que as pautas trabalhistas, nesse esquerdismo de boutique e de boteco, deram lugar às pautas identitárias, bem menos combativas e bem menos interessadas na luta de classes. Eis a esquerda que a direita adora.
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