LULA JÁ TRABALHA SEU "QUEREMISMO" DESDE A POSSE EM 2023.
Infelizmente, não podemos criticar o Lula. O risco de cancelamento é elevado. A elite do atraso se repaginou, virou agora a classe "boazinha" e cooptou para si as esquerdas abastadas, que subiram os degraus da ascensão social que lhes garantiram seus privilégios.
Essa dificuldade de repercutir com as críticas de Lula, que são baseadas em fatos e não em opiniões, se dá porque as redes sociais e, por associação, a blogosfera, são dominadas pela burguesia enrustida, que é a "nata" da elite do bom atraso e comanda a "frente ampla" dos abastados, que vai do pobre remediado - com perfil "ditado" pelas novelas e comédias da TV - ao famoso cheio de muita grana, mas ainda sem o poder decisivo de um banqueiro, um megaempresário ou um jurista.
Paciência. O Brasil virou a "República Democrática do Instagram e do Tik Tok" e quem comanda as narrativas são os netos das famílias histéricas que pediram a derrubada de João Goulart em 1964 e, assustadas com os movimentos estudantis, clamaram pelo AI-5. As atuais gerações das elites "esclarecidas" também são bisnetas dos órfãos da República Velha que lutaram para derrubar Getúlio Vargas em 1945 e pressionar contra ele até o suicídio do grande líder político gaúcho em 1954.
Esse suicídio, ocorrido em 24 de agosto de 1954, fez setenta anos ontem. Portanto, hoje se lembrou dos 70 anos em que a imprensa, em grande maioria antivarguista, aprofundou a cobertura da tragédia política, que já havia sido noticiada nos primeiros momentos após o acontecimento.
Lamentavelmente, muitos exageram nas comparações do atual presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, com Getúlio Vargas. E a elite do bom atraso, que pelo jeito já esgotou sua munição de comentários antipetistas despejados entre 2002 e 2018, hoje vai para o extremo oposto, não permitindo haver críticas ao presidente brasileiro e, o que é pior, pedindo até para evitar críticas e boicotar textos que houvessem algum questionamento a respeito.
Para todo efeito, mesmo o jornalismo de verdade tem que se submeter à narrativa fabulosa do governo Lula 3.0. Triste saber que a elite "esclarecida", que não sai de casa senão confinada em seus carrões, boa parte deles SUV e alguns outros, esportivos ou de luxo (tipo Lamborghini), se achar no seu juízo de valor para definir o atual governo Lula como "fiel ao esquerdismo revolucionário" ou, não sendo este o caso, como "triunfante na certeza democrática de fazer o Brasil virar Primeiro Mundo em 2026".
São pessoas que odeiam textos contestadores. Mal conseguem ver os títulos e fogem, de forma muito pior do que crianças quando sabem que aquele Papai Noel do shopping center é, na verdade, um idoso aposentado que, contratado para um trabalho temporário, foi fazer o papel do bom velhinho para receber a criançada acompanhada dos pais durante o período comercial às vésperas do Natal.
Pois não se pode dizer que o Papai Noel do Palácio do Planalto, Lula, virou hoje a mascote da Faria Lima. Mesmo as guinadas neoliberais de Lula e o atual peleguismo do presidente brasileiro têm que ser interpretados de modo pretensamente ressignificado, para agradar à criançada identitária do "esquerdismo chapeuzinho vermelho" de hoje.
Sejam as compras de votos para o Congresso Nacional votar a favor de Lula, agora conhecidas pelo nome "técnico" de "verbas para emendas parlamentares", ou a precarização salarial enrustida, na qual a combinação do valor do salário-mínimo de R$ 1.412 mais o Bolsa-Família de R$ 690 em média, totalizando apenas menos do que R$ 2.100, tem que ser supervalorizada como um suposto "grande incentivo" financeiro para as classes pobres, como se isso fosse um rentismo e o dinheiro multiplicasse num passe de mágica.
A propaganda em torno de Lula, que no imaginário de seus seguidores precisa manter o mito grandiloquente do "grande líder", chega a exagerar ao atribuir a ele a mesma grandeza de Getúlio Vargas, e o pior é que isso se dá como se as impressões do momento, as sensações de euforia e êxtase político dos lulistas, em dois dias após algum feito de seu ídolo-presidente, valessem a longevidade dos grandes fatos históricos.
Não, nada disso. Não se julga um fato histórico por dois dias nem por algumas horas. É lamentável que Lula tente enganar a História fazendo uma espécie de alpinismo factual, como se, para ser uma figura histórica, bastasse competir produzindo fatos políticos com o empenho de quem concorre em uma gincana escolar.
Um personagem histórico não se faz com tamanho calculismo. E Lula, para compensar sua aparência idosa - nos antigos padrões de homem idoso, pois Lula aparenta um idoso à moda antiga, não sendo mais o paradigma de um homem de 79 anos, mas de alguém com vinte anos a mais (lembremos que Lula, hoje, parece bem mais velho até do que Getúlio aos 71 anos) - , tem a obsessão infantil em parecer como aquelas grandes personalidades das biografias que ele leu quando estava na prisão entre 2018 e 2020.
A História não se deixa enganar por essa malandragem, como também não se deixa se iludir com narrativas produzidas em série, insistindo numa suposta grandeza de Lula, cujo mandato atual fica a dever até para os mandatos anteriores, que, longe de serem revolucionários, eram apenas bons. Lembremos que, hoje, o atual mandato de Lula é um pálido arremedo dos mandatos anteriores mas temperado do neoliberalismo de FHC com o populismo assistencial de Sarney.
Getúlio Vargas foi um personagem histórico porque fez realizações que puderam repercutir com a passagem do tempo, sobrevivendo até depois da morte do político gaúcho. Vargas não estava competindo na gincana escolar do tendenciosismo político, estava realizando projetos concretos, com uma visão de país muito rara pela profundidade e caráter estratégico peculiares.
Já Lula, capaz de dizer bobagens como achar que pobre só usa varanda de prédio para "soltar o pum", até tenta se esforçar para parecer "igual a Vargas". Seus esforços já foram melhores nos dois mandatos anteriores, mas hoje o que se vê é a "fabrica de relatórios" que apontam os "recordes históricos" do atual governo Lula que, todavia, não se observa na prática nem na realidade dos fatos.
Mas aí a arrogância dos lulistas ultrapassa os limites. Um texto como o que publicamos dias atrás, sobre o clientelismo de Lula, é preocupante, pois os lulistas acham que o presidente pode encher de grana quem ele quiser, sejam os parlamentares do Centrão, os prefeitos de cidades "amigas", os ídolos milionários do trap (franquia do "funk ostentação"), os veteranos tropicalistas e por aí vai. Ou seja, se o super-rico é aliado de Lula, para os lulistas eles deixam de serem super-ricos para virar "amigos da democracia".
É um grande exagero dar a Lula a mesma grandeza histórica de Getúlio Vargas. Não percebo, nas ruas, os festejados êxitos do atual governo. Ando pelos supermercados e não vejo a "queda histórica" de preços que, supostamente, enlouquece de euforia os supostos pobres do Tik Tok. Por outro lado, o que mais vejo são trabalhadores falando mal de Lula e se sentindo abandonados e traídos por ele.
Compreendam. Eu escrevo sobre fatos. Não tenho a obrigação de usar meu blogue para dizer coisas agradáveis. Faço jornalismo, não contos de fadas. Se para lacrar fácil eu teria que escrever mentiras ou fantasias, estou fora.
E a História não é tola para acreditar em manobras grandiloquentes que o tempo fará dissolver como castelos de areia destruídos pelas ondas do mar. Getúlio não foi um aluninho competindo para ver se agrada a Dona História. Ele fez realizações que ultrapassam os limites do tempo.
Se as realizações de Lula, nos primeiros mandatos, foram tão instáveis a foram facilmente dissolvidas por Temer e Bolsonaro, não há como atribuir ao petista a mesma grandeza histórica. Até porque a euforia dos lulistas pode ser intensa e persistente, mas ela se cansará e se apagará com o passar do tempo. O consolo será ver Lula comparado, na posteridade, com seus "amigos de infância" FHC e Sarney, talvez "melhorzinho" em relação a estes.
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