PARADA DA DIVERSIDADE EM RECIFE, 2018 - Exemplo do identitarismo cultural que converte o ativismo em mera festividade e entretenimento.
Uma "Contracultura de resultados" ou a carnavalização do ativismo político. Uma diversidade caricatural, enfatizada no identitarismo cultural, já ganhou um termo nos EUA, chamado woke: espécie de ativismo estereotipado, feito mais por diversão do que pela conquista de espaços dignos da sociedade, o que se encaixa nos paradigmas das esquerdas festivas do mundo e, em especial, do Brasil.
Principal força social que se ascendeu no atual mandato de Lula, o identitarismo cultural deturpa o conceito da diversidade social, que esvazia o sentido original do ativismo, antes observado nos grupos socialmente oprimidos na Contracultura (1964-1969), convertendo em mero espetáculo.
Daí que a liberdade sexual se converte em libertinagem, os direitos sociais dos LGBTQIA+ se distorcem num travestismo caricato e infantilizado, a negritude se volta para estereótipos racistas contra os próprios negros - como as danças do twerking e a precarização musical do "funk", do trap e do "pagodão" baiano - e o feminismo sucumbe à erotização gratuita e obsessiva.
O termo woke surgiu, a princípio, do ativismo negro contemporâneo, mas depois virou um jargão da juventude lacradora das redes sociais e, daí, para os paradigmas do identitarismo sociocultural, marcado por lemas aparentemente bem intencionados como "Mais amor, por favor" e "Julgue menos e ame mais", que na prática se tornam ocos e inócuos diante da complexidade conflituosa da sociedade atual.
No Brasil, o identitarismo cultural se torna extremo e herdeiro do desbunde dos tempos do AI-5, quando uma parcela da classe média resolveu "curtir a vida", através do ideal do "bicho-grilo", uma espécie de leitura brasileira do hippismo que, flertando com o brega, a burguesia fashion e com a precarização cultural, criaram elementos para o culturalismo vira-lata de hoje em dia.
E quando o Brasil de Lula 3.0 faz mostrar o verdadeiro propósito do lulismo, que é a transformação do nosso país num parque de diversões, o identitarismo cultural - derivado, em parte, do culturalismo brega-popularesco defendido pela intelectualidade "bacana" - transformou as esquerdas em "esquerdisney", um neologismo que mistura esquerda com Disneylândia.
Com isso, não podemos manipular as narrativas para atribuir a Lula um esquerdismo que desapareceu completamente dele, pois a verdade é que ele só está governando para o "clube de assinantes VIP" de uma "democracia de um homem só", em que só o presidente decide e o povo que o adora é convidado apenas a consumir, festejar e "bebemorar".
E aí vemos o quanto o nosso Brasil anda complicado, quando, no outro lado do espectro ideológico, as convulsões sociais dos tempos de Michel Temer e Jair Bolsonaro continuam em alta, já que o lulismo versão 3.0 não conseguiu resolver os impasses sociais profundos e vive da ficção dos números e palavras expressos na dramaturgia tecnocrática dos relatórios, estatísticas e supostas pesquisas de opinião.
Daí que o bolsonarismo tenta se reinventar com Pablo Marçal se tornando um "neobolsonarista independente de Bolsonaro", pois a extrema-direita não se sente intimidada com o "esquerdismo chapeuzinho vermelho" dos identitários.
Se, contra os tanques da extrema-direita, os identitários se armam apenas de flores, então tudo se torna inútil. E, diferente da "máquina de matar fascistas" da Contracultura, o violão do folk, o identitarismo brasileiro de hoje se limita à precarização, quando muito falsos cavaquinhos tocados nos sintetizadores do trap, junto à batida com som de lata de ervilha.
E se os identitários brasileiros se encorajam a cantar até as decadentes canções "Um Dia de Domingo" e "Evidências", que soam mais como hinos de famílias ultraconservadoras, então até a trilha sonora desse identitarismo festivo se torna um sério problema.
Se lá fora a juventude woke acredita na ilusão de que a presidenciável Kamala Harris vai instalar o bolchevismo nos EUA, aqui a "esquerdisney" tem a coragem de assistir a uma apresentação dos ultraconservadores Chitãozinho & Xororó, que, culturalmente, estão mais para o pior da cultura produzida em meados da década de 1940, não merecendo a reputação de pretensa vanguarda vintage que a dupla paranaense anda gozando hoje em dia.
A "esquerdisney" do Brasil se preocupa mais em fazer lacração. Pouco importam a lógica, os princípios, a coerência e o ativismo de verdade. Tudo é apenas festa e consumismo. E, sobretudo, muitas curtidas nas redes sociais. E só.
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