Deixem o velho roqueiro fora dessa. Deixem o músico britânico em paz. O verdadeiro "pé-frio" não é quem pensa o cidadão médio brasileiro, escravo das convicções que o fazem "dono da verdade" defendendo narrativas fora da realidade, mas muito do agrado do público médio da "República Democrática do Instagram e do Tik Tok" a que se rebaixou nosso país, uma nação em que a realidade sempre tem que negociar com quem prefere viver no lodo da fantasia e da credulidade.
O verdadeiro "pé-frio" é um suposto "médium" que foi lembrado por uma filha de um apresentador famoso, ultimamente bastante enfermo, conhecido empresário de uma rede de TV que blindou o próprio charlatão religioso. A rede de TV já empregou um charlatão curandeiro num programa popularesco dos anos 1980, charlatão depois desmascarado, do contrário do "adorado médium", espécie de "Aécio Neves do bem" que é tão blindado que parece soterrado por avalanches de flanelas, com tanta gente passando pano no farsante, até nas piores acusações.
A filha alegou que era "reencarnação" de uma tia, conforme se divulgou ontem nas páginas de famosos na Internet. A ideia teria se baseado na "vidência" do farsante, que transformou o Espiritismo brasileiro num chiqueiro, num lodo mais sujo do que o Rio Tietê depois de um violento temporal e de fortes alagamentos, desses que carregam lixos, ratos mortos e coliformes fecais.
O farsante religioso é ainda adorado por muita gente, por causa daquela suposta caridade que humilhava o povo pobre, que, constrangido, permanecia em filas mais longas que a fila do SUS para um propósito ainda pior do que receber atendimento médico deficitário: receber pacotes de donativos, por mês, que parecem muita coisa, mas envolvem mantimentos, muitos deles já velhos e precários, e que no entanto se esgotam em poucos dias.
A blindagem ao tal "médium da peruca" se dá porque quem domina as narrativas neste país varonil é a elite do bom atraso, a burguesia enrustida brasileira que, no seu complexo de superioridade, se acha especializada em uma realidade que não consegue entender sequer pela metade, e foi (mal) ensinada a compreender o mundo no contexto em que o Brasil vivia os tempos do AI-5, que distorcia o mundo real num padrão cognoscitivo que não foi superado até hoje, mesmo com Internet.
Essa blindagem se dá porque é de interesse da burguesia proteger o "médium", um tenebroso charlatão de mais de 400 livros, um pioneiro da literatura fake que fez com Humberto de Campos o que nem o pior dos inimigos teria coragem de cogitar em fazer com o outro do qual é desafeto. O "médium" foi um sujeito tão reacionário que defendeu a ditadura militar no auge de sua violência e foi condecorado pela Escola Superior de Guerra por isso.
Com essa cumplicidade entre "médium" e ditadura militar que teria feito Cabo Anselmo ficar de queixo caído, o religioso, em nome do qual muitos progressistas e avançados sentem uma verdadeira "síndrome de Estocolmo" da devoção religiosa "isenta" (ou seja, sem compromissos institucionais), as ideias ultraconservadoras de suas supostas "psicografias" e dos depoimentos desse religioso medieval fazem o Silas Malafaia dos piores momentos parecer um hippie de esquerda.
E por que o "médium" deve ser considerado o maior pé-frio brasileiro, mesmo quando eles recorrem às suas frases, com obscurantismo religioso digno do século XII, para "alegrar o dia"?
Simples. É só parar de brigar com os fatos, perdoar a realidade por ela ser tão desagradável, por ela muitas vezes não mostrar o que o leitor médio de textos na Internet gostaria de ler. É ter misericórdia com os fatos em vez de sair por aí brigando com eles, porque isso não leva a lugar algum, pois a festa da fantasia e das convicções agradáveis sempre termina com a visita, inesperada e inevitável, da desilusão.
Os fatos mostram que adorar o "médium" traz muito azar. Vários atores e diretores de TV e até um cartunista de longa carreira foram adorar o "médium", homenageando ele na maior devoção, mesmo sem assumir o compromisso religioso do Espiritismo brasileiro, e o resultado foi que, em dada ocasião, seus filhos mais queridos morriam de algum incidente, do acidente de trânsito ao infarto, todos prematuramente.
Outros aspectos de azar também assombraram as vidas dos famosos: assaltos nas residências onde moraram, invasão nas contas da Internet, tretas que surgiram do nada, através de situações aparentemente sem muito problema, e perdas repentinas de dinheiro por incidentes misteriosos. De Augusto César Vannucci a Mariana Rios, muita gente sofreu azar ao manifestar admiração e apoio ao "médium" dos pés de gelo.
Recentemente, uma atriz e ex-paquita, conhecida por sua beleza e recentemente comparada a uma estrela pop estadunidense, teve sua conta invadida no Instagram. Era um incidente inexplicável, pois invasões ocorrem quando algum membro de conta manifesta arrogância ou se envolve em alguma treta com alguém ou com muitos.
A comunidade dela, pelo contrário, é bastante equilibrada, seu conteúdo é saudável e muito simpático e a atriz, de admirável talento, posta apenas sobre suas atividades profissionais, suas campanhas publicitárias e quando mostra sua vida pessoal ela nada faz que fosse considerado ofensivo, extravagante ou de algum teor lamentável que houvesse.
Apesar desse conteúdo que nada agride nem ofende, por que ela teve o perfil invadido? Simples. Na sua atividade de modelo, há um membro da equipe técnica de uma campanha publicitária em que ela participou, divulgando produtos fitness, que tem o mesmo prenome e um dos sobrenomes do charlatão religioso. Diante disso, numa conversa eles devem ter mencionado o infeliz, dentro daquele clima de alegria crédula baseada naquele bordão tragicômico da "caridade" e do "amor ao próximo".
Pronto, foi azar na certa. E muita gente sofreu algum tipo de azar e, mesmo assim, foi passar pano no religioso azarento, capaz de ser desmascarado até por um grupo de jovens de desenho animado - a turma do Scooby-Doo, que já desmascarou muito capataz de fazendeiro nos seus episódios, seria capaz de desmascarar o ajudante de fazendas de gado zebu do Triângulo Mineiro - , mas com dificuldades de ser desmascarado até por jornalistas investigativos ou mesmo por analistas de discursos semióticos que têm diante de si um grande paiol de "bombas semióticas", mas preferem passar pano em cima.
Se até o coitado do ator Guilherme Fontes, que sentiu na pele o azar de ter feito uma novela "espírita" cuja versão original derrubou a TV Tupi e representou infortúnios em dimensões umbralinas para muitos trabalhadores de televisão, passa pano na produção que trouxe más energias para sua iniciante carreira de cineasta, a coisa vai mal mesmo no Brasil. Ainda mais quando sabemos que a praça que serviu de cenário para a novela original ficou mais contaminada do que Chernobyl após o desastre nuclear.
O que faz qualquer sujeito mais careca do que o Alexandre de Moraes arrancar os cabelos que não tem é que as pessoas no Brasil chegam a ter fascinação doentia a alguém tão feio e repugnante como o "médium da peruca". E ver que muitos lutam para blindar um farsante religioso desses, sem chance para qualquer esforço investigativo, é mais assustador do que ver crânio de caveira falando no escuro em um filme de terror.
E isso apesar do "médium" ser, mesmo indiretamente, relacionado à morte suspeita de um sobrinho, do qual o tio não ordenou, mas teria consentido depois que o rapaz, Amauri Pena, teria denunciado o famoso familiar por fraudes mediúnicas e, depois, ter recebido do "movimento espírita" uma campanha caluniosa e ameaças de morte similares aos que se vê hoje no gabinete do ódio bolsonarista. E isso não foi este blogue que disse, é só ver a revista Manchete, de 09 de agosto de 1958.
As pessoas tentam falar em misericórdia e perdão. Mas preferem ser impiedosas com a realidade dos fatos e, em nome da idolatria religiosa, se enfurecem quando a verdade e os questionamentos críticos vêm à tona. Lamentável. Por isso tem muita gente sofrendo mau agouro apreciando mensagens religiosas tão retrógradas, dignas dos tempos medievais.
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