É muito ruim, mas é bastante compreensível ver que muita gente no Brasil não só ignora mas boicota mesmo textos que manifestem uma abordagem mais crítica dos fatos. Ouvindo o vídeo que o jornalista Régis Tadeu descreveu, em seu canal, sobre a obsessão estética dos influenciadores digitais, nota-se que a positividade tóxica torna-se uma norma graças às pressões que se recebe para obter lacração e monetização nas redes sociais, principalmente Instagram e Tik Tok.
Régis fala das pressões para as pessoas parecerem nas redes sociais sempre com uma imagem de "felicidade" e "beleza" permanentes, como se os perfis dos influenciadores digitais fossem a personificação do paraíso.
A obsessão pela positividade tóxica é tanta que até quando se admite a existência desse problema, se põe a sujeira sob o tapete, criando o primeiro bode expiatório que estiver em vista e que, sob o ponto de vista do pretenso "senso comum", representar algum estereótipo exagerado para levar a culpa sozinho.
Desse modo, "positividade tóxica" se limita, por exemplo, àquela dondoca estereotipada, espécie de paródia da Isabela Florentino que deitada na espreguiçadeira de uma lancha caríssima, diz coisas do tipo "O ideal é estar sempre feliz e pensar sempre positivo".
A dondoca caricatural leva, sozinha, a positividade tóxica que a gente observa, até de maneira escancarada, na música do É O Tchan ou na propaganda do Espiritismo brasileiro, esse Catolicismo medieval de botox que torna-se até perverso na pregação desse positivismo intoxicante, aconselhando, com palavras melífluas que escondem venenos nas almas de seus pregadores, para que pessoas fiquem felizes até no momento de agonia extrema.
Afinal, quem gosta de positividade tóxica não quer que ela seja denunciada. Assim como no viralatismo as elites que dominam as narrativas na Internet põem a sujeira debaixo do tapete, só mostrando aquilo que soa escancarado ou até caricato. Vide achar, por exemplo, que o culturalismo vira-lata se reduz apenas ao bolsolavajatismo, poupando outros ícones desse viralatismo, como "médiuns", ídolos bregas, funqueiros, breganejos, mulheres-frutas e subcelebridades em geral de pagar a conta por isso.
Na positividade tóxica, é a mesma coisa. Ninguém quer botar a sujeira que lhe agrada na lixeira. Curiosamente herdando a seletividade da Operação Lava Jato, a hoje elite do bom atraso - a elite do atraso ressignificada para algo mais "positivo" e "democrático" dos dias atuais - , que agora atribui seu antigo herói Sérgio Moro aos poucos que pagam a conta do viralatismo cultural, torna-se seletiva na galeria de vilões que estão destruindo o país.
Vilão que agrada essa elite passa a ser "herói" e é isento de culpa. Quando muito, é guardado quieto no armário, enquanto reações bastante críticas ocorrem fora da bolha das redes sociais. Afinal, se o culturalismo vira-lata, ou viralatismo cultural (a ordem dos fatores não altera o produto), representam algo positivo e agradável para a "boa" sociedade, ele deixa de ser considerado como tal e passa a ser incluído entre as "boas coisas da vida".
E tudo isso em nome de uma positividade tóxica em que o solipsismo, ou seja, a interpretação do mundo conforme a vontade pessoal de cada um, dita as regras. "Se eu estou bem, tudo está bem", é o primeiro mandamento, peça-chave para a pandemia do egoísmo em que vivemos.
Tudo isso é influenciado pela "lógica" que o Instagram e o Tik Tok, duas das plataformas de redes sociais mais usadas no Brasil, exerce nas pessoas. A ideia de querer saber só do que é agradável, a obsessão tóxica pela alegria, pela felicidade, pela positividade, mesmo que esteja a mercê de sentimentos egoístas ou uma compreensão mais submissa e alienada da vida.
Tudo isso está estragando com o Brasil, que, em processo de reconstrução, não merecia esse combo de sentimentos de imbecilização social, ignorância da realidade, egoísmo diante do sofrimento alheio e obsessão doentia em lacrar e monetizar com bobagens.
Isso corrompe a compreensão do público brasileiro, que, em seu complexo de superioridade, que fez uma atriz e uma esportista, nos últimos meses e em diferentes situações, reclamarem arrogantes porque acham que não foram bem tratadas no exterior - , acham que podem fazer o que querem no resto do mundo.
Quanta pretensão, quanto egoísmo e quanta falsidade. Depois a gente fala que essa elite do bom atraso é burguesa, hipócrita e megalomania e o pessoal não gosta, preferindo usar a Internet só quando as coisas lhes forem agradáveis. Se não são, é cancelamento e boicote na certa, em nome da positividade tóxica de cada dia da "República Democrática do Instagram e do Tik Tok" a que se reduziu nosso país.
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