Nas elites abastadas, há um tipo de homem que muitos consideram "admirável" e "respeitável", mas é dotado de um caráter emocional bastante fechado, um senso de superioridade bastante arredio e falsamente modesto e um temperamento de alguém que faz cara de poucos amigos.
Esse homem, geralmente um empresário ou profissional liberal, normalmente casado e com filhos, é um sujeito complexado. Ele vive da Síndrome do Cumpridor de Obrigações. Está sempre para telefonar falando de negócios. Tem mania de estar sempre satisfazendo os outros, fazendo tudo para agradar os outros, mas ele nunca está satisfeito e não parece alegre com a vida próspera em que vive.
Para ele, é tudo obrigação. Se ele leva a mulher e os filhos para o shopping center e paga o almoço deles, ele cumpre uma obrigação. Fica sempre sério, às vezes se aborrece com as algazarras dos filhos, gastar dinheiro já lhe é um transtorno, apesar dele ter sempre uma grande quantidade de dinheiro para gastar o que quiser e manter as contas em dia.
Tudo lhe aborrece. Ter que gastar o combustível do carro, ter que ajudar a esposa a pagar as roupas compradas na boutique, a usar a Internet para comprar passagens para viagens num portal de vendas on line, e tudo mais.
Ele quase nunca sorri. Só sorri em raras ocasiões, e mesmo assim em grande parte destas por conveniências sociais. Ele só cumpre obrigações até no lazer e nas atividades de entretenimento. Se ouve música, geralmente é música lenta ou orquestrada, como um analgésico emocional. Leitura? Romances dramáticos e, de preferência, nada cômicos. Filmes? Suspenses ou romances adultos. Programas de televisão? Noticiários e esportes. Tudo para cumprir deveres.
A vida dele não tem prazer. Tudo é etiqueta, agregação social, conveniências. Ele pensa que vive com simplicidade e humildade, mas na verdade ele é um ambicioso mascarado por esse ritual discretamente neurótico de obrigações sociais. Ele controla suas emoções, mas é um estressado, um paranoico, um sujeito mal-agradecido, um egoísta e, acima de tudo, uma pessoa superficial e sem graça.
Existem tipos assim nas sociedades abastadas, e eles aparecem no turbilhão da burguesia enrustida que vai aos estabelecimentos comerciais e come nos restaurantes da moda fantasiada de "gente simples". E esse homem sisudo é apenas um dos tipos dessa burguesia mal-disfarçada, e um dos tipos mais lamentáveis, embora, como os demais tipos, esteja mais preocupado em consumir do que em viver a vida.
Muita gente tem a tentação de exaltar um homem assim, pela sua obsessão à suposta elegância, ao pretenso bom gosto e ao dito comedimento comportamental. Mas, se percebermos muito bem, ele é uma das pessoas mais chatas do mundo para puxar alguma conversa. E, tendo tudo de bom e do melhor, ele nem tem a mínima educação em agradecer, de verdade, àquilo que tem. Da elite do bom atraso que se vê no Brasil da pandemia do egoísmo humano, esse homem é a pior espécie das piores desta classe.
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