CACHORRO-QUENTE DO BRASIL DE HOJE - É tanto tempero que o sabor do sanduíche em si praticamente "desaparece".
Na sociedade tóxica e autoritária que é a brasileira, até a "liberdade", pasmem, é imposta. O prazer humano é rebaixado a uma unanimidade forçada, na qual o desejo de uns tem que ser, necessariamente, o desejo de todo mundo. E nem sempre todos querem todas as coisas, mesmo aquelas tidas como as "melhores coisas do mundo".
Dessa forma, no Brasil, todos temos que gostar de coisas tidas como "bastante populares" só porque os outros gostam. Você tem que querer o que seus colegas de trabalho querem, para estar dentro da sociedade, pouco importando se você gosta do que os outros gostam ou não.
Mesmo em coisas prazerosas, você tem que aderir, mesmo que sua orientação seja contrária. Você tem que gostar de macarronada. Tem que gostar de iogurte de morango. Tem que gostar de pão com mortadela. Tem que gostar de beber açaí. Tem que gostar de cachorro-quente cheio de tempero, com muito queijo ralado e batata palha que tiram o gosto da salsicha.
No âmbito do culturalismo, você tem que gostar de Michael Jackson e Michael Sullivan, tem que gostar de Guns N'Roses, tem que gostar de "funk" e "pagodão", tem que curtor o forró-brega e o rala-coxa nas festas juninas, tem que ver o seriado Chaves e, principalmente, tem que gostar de futebol, essa terrível paixão tóxica que assola o Brasil.
Aliás, não é só o futebol que se torna o suposto prazer que cria tensões num dia da semana que deveria ser de descanso, que é um domingo. E olha que é vergonhoso ver que muita gente depende de um grupo de onze homens para ter felicidade na vida, e isso é uma obsessão horrível e preocupante. Daí a paixão tóxica do futebol brasileiro.
Na vida amorosa, a combinação de solteirofobia e a ideia de que todo homem precisa ter uma parceira é o fator principal de muitos feminicídios que traumatizam tantas famílias. Um suposto prazer de um homem ter "aquela mulher" que está dando mole faz sacrificarem vidas femininas sem necessidade. Muitos acham que isso não tem a ver, mas tem a ver, sim, e muito mais do que se pode admitir.
O homem é forçado a ter uma mulher. É forçado a aceitar a primeira que aparece no caminho. Há a pressão de outros homens do grupo social da ocasião. O homem aceita e tenta gostar. Mas a mulher não é a que ele realmente deseja ou se identifica. A falta de afinidades cria tensões e, quando as divergências são descontroladas, o homem pratica o feminicídio.
Para piorar, essa obsessão da vida amorosa masculina, mesmo baseada num suposto prazer sexual, discrimina o rapaz que quer ficar em casa nas noites dos fins de semana para lanchar bebida láctea com biscoitos, que também podem ser um prazer, mas não para uma sociedade tóxica que prefere monopolizar o conceito de prazer para os agitos da vida noturna.
E aí até coisas nocivas como cerveja e cigarro são também vistas como "o melhor do prazer humano". Depois, as pessoas estranham quando algumas pessoas contraem câncer e, pedindo orações em vão, perdem a vida quando deveriam ter prevenido a doença antes evitando o "delicioso consimo" de álcool e nicotina em todo fim de semana.
O Brasil se destrói com essa ditadura do prazer humano, que tora todo o verdadeiro sentido do verdadeiro prazer. Tudo vira uma imposição, porque o desejo e a liberdade, que se tornam apenas vontades de uns, viram imposição e pressão psicológica para outros. E um falso prazer que se impõe de tal forma que o simples direito de não gostar nem aderir ao que os outros gostam é motivo de humilhações e constrangimentos pessoais. E isso nada tem de prazeroso.
Ver que as pressões pelos "prazeres humanos" geram constrangimentos, humilhações e até mortes é assustador. Isso mostra o quanto, por trás dessa sociedade "democrática" em que vivemos, há muita gente autoritária. Heranças de 1964 que não sai das mentes dos brasileiros, mesmo os lulistas.
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